As sementes da videira tropical comum (ipomeia), que dão flores semelhantes a trombetas e que só abrem pela manhã, contêm compostos que podem ser úteis no tratamento de doenças mentais e físicas, além de promoverem o bem-estar, disse o biólogo de plantas e fungos, Keith Clay, presidente do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Tulane, EUA.
Investigadores de Universidade de Tulane, da Universidade de Indiana e Universidade da Virgínia Ocidental obtiveram amostras de sementes de ipomeia de coleções em herbários, em todo o mundo, e examinaram-nas na procura de alcaloides da cravagem, um composto associado à droga alucinogénia LSD, que tem sido, também, usada no tratamento de enxaquecas e na doença de Parkinson.
Muitas espécies de ipomeias contêm altas concentrações de alcaloides bioativos do ergot (fungos cravagem do centeio), que são produzidos por fungos simbiontes especializados, passados da planta-mãe para a prole através das sementes. Os investigadores descobriram que um quarto das mais de 200 espécies testadas continha alcaloides do ergot e, portanto, eram simbióticos.
“A simbiose e os alcaloides da cravagem são específicos para determinados ramos da árvore evolutiva da ipomeia, e cada ramo contém diferentes alcaloides da cravagem e misturas de alcaloides”, explicou Keith Clay, citado em comunicado da Universidade de Tulane.
Batizado em homenagem ao fungo da ergotamina responsável pelos surtos mortais do Fogo de Santo António, uma doença causada pela ingestão do fungo, na Idade Média, os alcaloides da ergotamina tiveram longa e complicada associação com humanos. O alcaloide da cravagem mais conhecido é o LSD, um derivado sintético dos alcaloides da cravagem que ocorrem naturalmente nas ipomeias produzidas pelos seus parceiros fúngicos.
Historicamente, esses compostos alcaloides têm sido usados por povos indígenas da América Central e do Sul pelos seus efeitos na mente humana e para regular a reprodução humana. Mais recentemente, eles têm sido usados para questões obstétricas durante o trabalho de parto e para tratamento de enxaqueca, Parkinson e outras doenças.
“Desde há muito tempo que sabemos muito sobre a química dos alcaloides fúngicos e dos seus efeitos na mente e no corpo”, referiu o biólogo. “O nosso estudo é o primeiro a mostrar como as ipomeias altamente coevoluídas e os seus fungos simbióticos são, e que a coevolução se manifesta por diferentes misturas e concentrações de alcaloides da ergotamina em toda a árvore evolutiva da ipomeia.”
Os resultados do estudo mostram que graças a um fungo simbiótico, muitas espécies de ipomeias contêm elementos de drogas psicodélicas poderosas. O estudo da Universidade de Tulane já foi publicado na revista Communications Biology.