No final do encontro com o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos Alberto França, que está em visita a Portugal, referiu, em conferência de imprensa, que a posição do Brasil sobre o conflito entre a Rússia e a Ucrânia é clara: “Estamos do lado da paz mundial. O Brasil é um construtor de consensos. A nossa fortaleza é a capacidade negociadora” e defende “a integridade territorial dos Estados soberanos”.
O Ministro Carlos Alberto França esclareceu que a “neutralidade” a que se referiu o Presidente do Brasil sobre a posição do país, nas Nações Unidas, em relação ao conflito Rússia – Ucrânia, deve ser entendida “não no sentido de indiferença mas no sentido de imparcialidade”, pois o interesse na participação do Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas “é ajudar no concerto das Nações a encontrar uma saída para os conflitos”, e por isso “nós pensamos que isso se atinge instando o Conselho a encontrar uma saída e não a apontar um culpado”.
Sobre a aplicação de sanções à Rússia no âmbito do comércio internacional, o Ministro brasileiro referiu: “Portugal e Brasil comungam dos valores do direito internacional” mas “a circunstância de Portugal na Europa é diferente da circunstância do Brasil na América do Sul”.
Carlos Alberto França indicou “que como país em desenvolvimento”, ao Brasil preocupa “o caracter seletivo das sanções económicas e financeiras” que são adotadas, como “por exemplo, expulsam o Banco Central da Rússia do SWIFT/BIC” mas mantém “uma Câmara de compensação que permite o pagamento da energia que é fornecida pela Rússia à Europa”.
O Ministro deu ainda outro exemplo para ilustrara a preocupação do Brasil referindo “o facto do Governo Norte-americano enviar uma delegação à Venezuela para estudar a importação de petróleo daquele país e ao mesmo tempo bloqueia negócios de fertilizantes do Brasil, como por exemplo com o Irão, que sofre embargo”. “É essa seletividade que nos preocupa, pois o Brasil depende de fertilizantes”, dado que ”o comércio de grãos é muito importante para o Brasil” e por isso “nós gostaríamos que essa seletividade também se aplica-se aos interesses de países como o Brasil”.
O Ministro das Relações Exteriores do Brasil lembrou que quando o Presidente Bolsonaro esteve na Rússia foi assinado um compromisso para “dobrar o fornecimento de fertilizantes ao Brasil”, pois o país depende em 70% de importação de fertilizantes.
Na mesma visita do Presidente do Brasil à Rússia foram assinados investimentos russos em unidades de “fertilizantes no Brasil”, e o Ministro concluiu que a Rússia é um parceiro comercial importante para o Brasil, pelo que é desejado que “o conflito cesse no menor prazo possível e que se as sanções perdurarem que elas não sejam seletivas e que possam contemplar interesses de países como o Brasil”.