Uma nova investigação descobriu que pacientes hospitalizados com COVID-19 têm um risco maior de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC), em comparação com pacientes de condições infeciosas semelhantes, como gripe e septicemia.
Os investigadores verificaram que os pacientes de acidente vascular cerebral isquémico eram em maior percentagem os mais velhos, do sexo masculino, de cor negra ou com pressão alta, com diabetes tipo 2 ou batimento cardíaco irregular (fibrilação auricular) em comparação com outros pacientes COVID-19.
Os resultados do estudo foram divulgados na Conferência Internacional de AVC da American Stroke Association 2021. Uma reunião mundial que junta investigadores e médicos dedicados à ciência do AVC e saúde do cérebro.
Para esta análise, os investigadores acederam ao COVID-19 Cardiovascular Disease Registry da American Heart Association para investigar o risco de AVC entre pacientes hospitalizados por COVID-19, bem como às suas características demográficas, históricos médicos e sobrevida no hospital. Os dados do Registo COVID-19 extraídos para este estudo incluíram mais de 20.000 pacientes hospitalizados com COVID-19 nos EUA entre janeiro e novembro de 2020.
“Essas descobertas sugerem que a COVID-19 pode aumentar o risco de hemorragias embora o mecanismo exato para isso ainda seja desconhecido”, disse a principal autora do estudo, Saate S. Shakil, da Universidade de Washington, em Seattle, EUA. “À medida que a pandemia continua, descobrimos que o coronavírus não provoca apenas uma doença respiratória, mas uma doença vascular que pode afetar muitos sistemas de órgãos.”
Dos pacientes analisados os investigadores verificaram através de diagnóstico por imagem que 281 tiveram durante a hospitalização um AVC. Destes, 148 pacientes, o seja, 52,7% sofreram acidente vascular cerebral isquémico; 7 pacientes ou 2,5% tiveram ataque isquémico transitório (AIT); e 127 pacientes, ou 45,2%, experimentaram um derrame hemorrágico ou tipo não especificado de hemorragia.
A investigação em pacientes de COVID-19 mostrou:
■ Os pacientes que sofreram um AVC eram 64% do sexo masculino e mais velhos, com idade média de 65 anos, em comparação com a média de 61% dos pacientes de COVID-19 que não sofreram de AVC;
■ 44% dos pacientes que tiveram um AVC isquémico também tinham diabetes tipo 2 e cerca de um terço dos pacientes não teve AVC. A maioria dos pacientes, ou seja, 80% com AVC isquémico tinha pressão alta em comparação com 58% dos pacientes sem AVC;
■ 18% dos pacientes com AVC isquémico tinham fibrilação auricular, enquanto 9% que não tiveram AVC também tinham fibrilação auricular;
■ Pacientes que sofreram AVC passaram uma média de 22 dias no hospital, em comparação com 10 dias de hospitalização para pacientes sem AVC;
■ Mortes hospitalares foram mais de duas vezes entre pacientes com AVC (37%) em comparação com pacientes sem AVC (16%).
O estudo permitiu verificar que o risco de AVC variou de acordo com a raça. Pacientes negros representaram 27% dos pacientes no pool do registo de CVD da COVID-19 para esta análise; no entanto, 31% dos casos de AVC isquémico ocorreram entre pacientes negros.
Saate S. Shakil referiu: “A hemorragia por si só pode ter consequências devastadoras e a recuperação da COVID-19 é muitas vezes um caminho difícil para aqueles que sobrevivem. Juntos, podem causar danos significativos aos pacientes que tiveram as duas condições.”
“É mais importante do que nunca conter a propagação da COVID-19 por meio de intervenções de saúde pública e distribuição generalizada de vacinas”, concluiu a investigadora.