A Parques de Sintra anuncia a compra de três novas e importantes peças para o acervo do Palácio Nacional de Queluz. Peças que vão contribuir para a interpretação histórica do Palácio e da sua época.
Das três peças consta um retrato inédito de D. João VI, quando ainda era Príncipe Regente, da autoria do conceituado pintor Henri-François Riesener, um relógio contemporâneo da Revolução Francesa com uma surpreendente ligação ao rei Luís XVI, que pertenceu à rainha D. Carlota Joaquina, e uma pintura da Virgem Maria assinada pela princesa Maria Francisca Benedita. Um lote de aquisições que representou um investimento total de cerca de 100 mil euros.
Retrato inédito do Rei D. Joao VI
A Parques de Sintra descreve que em março de 2024, apareceu num leilão na Alemanha um retrato de D. Joao VI que nunca tinha sido referenciado e que, entretanto, foi adquirido pela Parques de Sintra para o Palácio Nacional de Queluz. Um palácio ligado profundamente à vida do monarca.
A obra, que se estima datar de 1815, é do pintor Henri-François Riesener, tio de Eugéne Delacroix, que retratou, entre outras celebridades, Napoleão Bonaparte, a imperatriz e o príncipe Eugénio de Beauharnais. A pintura tem muitas semelhanças com o retrato de D. João VI que pertence ao Museu do Tesouro Real, mas pintado antes. Neste caso mostra o monarca quando Príncipe Regente a apontar, simbolicamente, para Portugal Continental num globo terrestre que está pousado sobre um mapa que representa o Brasil; um gesto de afirmação política, numa clara alusão à união dos dois territórios.
A investigação levada a cabo pela equipa do Palácio Nacional de Queluz indica que a pintura terá sido encomendada pelo marquês de Marialva, que à época era embaixador de Portugal em Paris, e executada a partir de referências visuais, como gravuras, e da descrição oral que o marquês terá feito do rei, já que Riesener nunca foi ao Brasil, local onde a Família Real residia desde 1807, na sequência das invasões francesas. E tanto quanto se sabe, D. João VI não gostava de posar para os retratos.
O Palácio Nacional de Queluz, no âmbito das revisões museográficas que estão a ser preparadas, deverá expor a obra nos espaços dos aposentos que pertenceram a D. João VI.
O relógio que pertenceu a D. Carlota Joaquina
É conhecido que o Palácio Nacional de Queluz foi a casa da rainha D. Carlota Joaquina, esposa de D. João VI, desde muito jovem. O acervo do monumento passa, agora, a contar com mais um objeto que pertenceu ao palácio e que tem uma curiosa ligação ao rei Luís XVI de França. Um relógio de fabrico francês, que a investigação desenvolvida pela equipa do Palácio indica terá sido produzido em 1790, no seguimento da Revolução Francesa (ocorrida em 1789) e em data anterior à morte de Luís XVI (1793).
Como se fosse uma maquete, a peça, de gosto neoclássico, replica o obelisco erguido em Port-Vendres (Pirenéus Orientais), França, por iniciativa do conde de Mailly, em homenagem a Luís XVI, o rei deposto e guilhotinado pelos revoltosos. O monumento subsiste, mas muito descaracterizado. O relógio, cujo mecanismo se encontra habilmente escondido, permite saber hoje como era construção do obelisco no passado, com algumas adaptações à realidade nacional. O globo em metal que coroa o obelisco de mármore, e que indica as horas, tem o mapa de Portugal Continental. Por outro lado, incorpora inscrições em português que têm excertos de um canto de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, e de uma carta de Sá de Miranda a D. João III.
As características do relógio conferem-lhe um acentuado valor simbólico e político, pois os textos impressos denotam uma glorificação do poder régio, numa espécie de reação à Revolução Francesa e de sinal de apoio do monarca português ao seu congénere francês.
A investigação sugere ser possível que tenha sido uma oferta a D. João VI para assinalar o momento em que assumiu a regência do reino, em 1792. Posteriormente, transitou para a posse de D. Carlota Joaquina, que o colocou na sua Quinta do Ramalhão, em Sintra, onde foi inventariado em 1829. Após restauro, o relógio irá integrar o circuito expositivo do Palácio Nacional de Queluz.
Pintura pela princesa Maria Francisca Benedita
O Palácio Nacional de Queluz foi um dos locais prediletos da princesa Maria Francisca Benedita, irmã mais nova da rainha D. Maria I, que viveu entre 1746 e 1829. Para além do papel filantrópico a princesa cultivava o gosto pela pintura. Terá, inclusive, recebido lições do pintor Domingos Sequeira. No entanto, atualmente, são raros os testemunhos subsistentes do interesse pela pintura.
A aquisição, para o Palácio Nacional de Queluz, de uma pintura da Virgem Maria assinada pela princesa Maria Francisca Benedita assume grande relevância, pois constitui um bom exemplo do tipo de obras que produzia: pequenos formatos, com figuras de santos ou cenas de cariz religioso, destinadas à devoção privada, para colocação num quarto ou oratório.
Um estudo da obra leva a que o quadro terá sido pintado em data anterior à partida da Família Real para o Brasil (1807). Um quadro que é o único que se lhe conhece executado em óleo sobre cobre, permitiu atribuir à princesa uma obra anónima do acervo primitivo de Queluz, dadas as características que apresenta. Trata-se de uma pintura de S. José com o Menino, pertencente ao oratório dos aposentos de D. João VI no Palácio.
A Parques de Sintra tem vindo a desenvolver, ao longo dos anos, uma política consistente de aquisições para os palácios que se encontram sob a sua gestão, um investimento que ultrapassou já um milhão de euros. Entre as peças adquiridas, sobressai a vista panorâmica da Quinta de Queluz de finais do século XVII, início do século XVIII (Palácio Nacional de Queluz), uma salva em prata dourada datada de 1548 e proveniente da coleção de D. Fernando II (Palácio Nacional da Pena), um leito de aparato com elementos decorativos em prata da segunda metade do século XVII (Palácio Nacional de Sintra), assim como um relevo em mármore com uma representação da Virgem com o Menino, obra do escultor do Renascimento italiano Gregorio di Lorenzo (Palácio de Monserrate) − proveniente da coleção de Sir Francis Cook, antigo proprietário de Monserrate. Uma peça que foi classificada como “Tesouro Nacional” em 2021.