Os nemátodes parasitas de plantas afetam uma ampla gama de espécies economicamente importantes, como o tomateiro e a batateira, causando elevadas perdas ao nível da produção, quer na qualidade como na quantidade.
Uma equipa de investigadores do Centro de Investigação em Engenharia dos Processos Químicos e dos Produtos da Floresta (CIEPQPF) e do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC) descobriu que dos resíduos resultantes do processamento do fruto da nogueira podem ser extraídos compostos com efeito “nematodicida” capaz de combater os nemátodes parasitas de plantas.
A conclusão do estudo sobre estes novos nematodicidas de origem natural resulta do trabalho de investigação que foi iniciada, há cerca de uma década, pelos investigadores Hermínio de Sousa, do Departamento de Engenharia Química, e Isabel Abrantes, do Departamento de Ciências da Vida, da Universidade de Coimbra, e que teve como o objetivo reutilizar e valorizar resíduos provenientes da indústria agroalimentar através da extração de compostos para posterior utilização em diferentes fins e aplicações, destacando-se a identificação de dois compostos pertencentes ao grupo das naftoquinonas, que viriam a revelar-se “bionematodicidas” eficazes no combate a nemátodes parasitas de plantas.
Os nemátodes parasitas de plantas, com ênfase nos nemátodes das galhas radiculares (Meloidogyne spp.), – assim designados por induzirem a formação de galhas no sistema radicular de diversas plantas – são uma das maiores ameaças à produção agrícola em todo o mundo. E os investigadores estimam que todos os anos estes nemátodes causem perdas de culturas, a nível mundial, de cerca de 5%, o que constitui um obstáculo à produção agrícola.
As naftoquinonas “são peculiares porque são responsáveis pelo aroma intenso do fruto da nogueira ou da própria árvore. Ao analisar as moléculas das naftoquinonas, verificou-se que estas poderiam funcionar como pesticidas de origem natural por terem semelhanças químicas com moléculas comerciais. Após otimização dos processos de extração, obtivemos um extrato enriquecido em dois compostos: 1,4-naftoquinona e juglona”, referiram as investigadoras Carla Maleita e Mara Braga, citadas pela Universidade de Coimbra.
A equipa de investigadores procedeu a vários testes para verificar a eficácia dos compostos como nematodicida, sobre os “dois tipos de nemátodes fitoparasitas que afetam as culturas do tomateiro e da batateira, nemátodes das galhas radiculares e das lesões radiculares”, e verificaram que “ao fim de 72 horas, um dos compostos tinha eliminado mais de 40% dos nemátodes, sem afetar os organismos não alvo do solo e as plantas”.
Em comunicado a Universidade de Coimbra indica que esta descoberta pode permitir a valorização dos resíduos do fruto da nogueira, como fontes renováveis de produtos à base de naftoquinonas, e pode contribui igualmente para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável e amiga do ambiente, constituindo uma alternativa à aplicação de nematodicidas sintéticos, que apresentam elevados impactos na saúde humana e no ambiente.
As investigadoras referiram que “os resíduos do fruto da nogueira, que apresentam alguma toxicidade, são normalmente colocados em aterros o que pode originar uma grande concentração de naftoquinonas no solo e, eventualmente, a contaminação dos cursos de água ou dos lençóis freáticos”, o que reforça a valorização desta descoberta.
As investigadoras consideram que é ainda seja necessário realizar mais alguns ensaios laboratoriais e de campo, mas acredita que, a médio prazo, estes extratos possam vir a integrar produtos nematodicidas comerciais dado que há “vários indicadores de que é possível ter um produto desta natureza e com esta capacidade nematodicida no mercado, uma vez que os extratos desenvolvidos revelaram ser uma alternativa eficaz aos nematodicidas sintéticos”.