Um estudo realizado pela consultora QSP, mostra que o regime de trabalho na medicina dentária tem vindo a mudar. O modelo de trabalho continua a ser o da profissão liberal, mas há cada vez mais médicos dentistas, sobretudo nas gerações mais novas, a prestar serviços como colaboradores de clínicas e consultórios, ao contrário do que se verificava há alguns anos atrás.
Do diagnóstico à empregabilidade
“As conclusões deste estudo mostram como a realidade da profissão está a evoluir. Sem perder o seu carácter liberal, a segurança e até prosperidade económica do passado estão a dar lugar à precariedade e à incerteza”, referiu Orlando Monteiro da Silva, bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas (OMD).
O especialista acrescentou: “As novas gerações de médicos dentistas enfrentam uma nova realidade chamada subemprego. Se por um lado entram rapidamente no mercado de trabalho, a curto e médio prazo têm dificuldade em encontrar um equilíbrio entre horas trabalhadas e a remuneração”.
O estudo revela que mais de metade dos médicos dentistas trabalha atualmente por conta de outrem, com consultório próprio são 45% e apenas 5% exerce em hospitais ou centros de saúde.
Onde se verificam mudanças significativas é entre os dentistas mais novos, pois dados do estudo revelam que de entre os médicos dentistas que se formaram há menos de 10 anos, 75% trabalha por conta de outrem, e que 70% dos que se formaram há mais de 10 anos exercem atividade em clínica ou consultório próprio.
A maioria dos médicos dentistas, ou seja, 62% exerce em um ou dois consultórios. No entanto, são os médicos dentistas que se formaram há menos de 10 anos que trabalham maioritariamente em mais do que um consultório. Os médicos dentistas com mais de uma década de profissão concentram a atividade num único consultório, e no caso dos médicos dentistas com mais de 50 anos, 55% exerce num único consultório.
Rendimentos dos médicos dentistas
Dos 2.095 médicos dentistas que participaram no estudo, 45% indicou que tem um rendimento mensal bruto até 1.500 euros, e que 33% ganha entre 1.500 e 3.000 euros brutos por mês e apenas 20% indicou ganhar mais de 3.000 euros brutos mensais.
Os rendimentos mais baixos são usufruídos pelos médicos mais jovens. O estudo indica também que apenas 4% dos médicos dentistas recebem 14 ordenados por ano, sendo que a maioria, ou seja, 54%, recebe 12 salários.
A remuneração dos médicos dentistas é, essencialmente, variável consoante o número e o custo dos procedimentos. Só 26% tem uma remuneração fixa. Há ainda 11% que recebe um salário fixo acrescido de uma percentagem variável.
De entre médicos dentistas que trabalham por conta de outrem 88% têm uma remuneração variável e 69% aufere entre 30% a 49% do valor dos tratamentos.
Facilidade para iniciar a profissão
A inserção no mercado de trabalho dos médicos dentistas é rápida, sendo que, 78% inicia a atividade em menos de 6 meses e em 40% dos casos não chega a um mês. No entanto, estes valores são condicionados por quem se formou há mais de 10 anos, com 60% a começar a trabalhar em menos de um mês. Nas gerações mais novas, os dados indicam que a entrada no mercado laboral tem uma tendência para ser mais lenta e precária.
Para Orlando Monteiro da Silva o estudo “mostra a realidade de quem exerce a profissão” de médico dentista, e indicou: “os médicos dentistas, os estudantes, os futuros candidatos ao curso, precisam de informação fatual, atual e verdadeira, e de quem ajude a descodificá-la, para serem conhecedores daquilo que os rodeia e assim poderem tomar decisões, decisões informadas de qualidade, sobre os temas que afetam a sua atividade e o seu futuro”.
A formação complementar é central ao exercício da medicina dentária e 80% dos médicos dentistas realizaram formação complementar e/ou contínua nos últimos dois anos.
Constituição dos rendimentos
Os médicos dentistas indicam que nem todas as atividades complementares ao tratamento dentário, no âmbito da consulta, são cobradas. Das atividades médico-dentárias analisadas, 66% referentes aos meios de diagnóstico e 55% da emissão de receitas são os procedimentos mais cobrados, mas funções como aconselhamento, emissão de atestados ou segundas opiniões, mais de metade dos médicos dentistas nada cobra.
A OMD não tem poderes legais para impor uma tabela de valores referência para a prestação de serviços, mas 79% dos médicos dentistas considera importante ou muito importante que o Governo estabeleça essa tabela.
Ainda sobre os honorários, 60% dos médicos dentistas referem que mantiveram os preços no último ano, e 65% indicou que o valor diminui face a 2017, e 19% indicou que aumentou o preço dos procedimentos e 10% referiu ter diminuído, neste caso, menos 3% que em 2017.
Número de consultas por dentista
Os utentes esperam em média 10 dias por uma consulta de medicina dentária e, em média, os médicos dentistas realizam 41 consultas por semana. Os distritos que apresentaram um maior número de consultas realizadas foram o de Beja, com 38%, Castelo Branco, com 36%, e Évora com 35%, distritos onde se observa uma percentagem superior de médicos dentistas a atender mais do que 51 utentes por semana.
Quanto ao pagamento das consultas e procedimentos 59% indicou que é feito sobretudo no ato, os seguros de saúde têm um peso até 15%, os subsistemas públicos, até 12%, o cheque dentista e os planos de saúde tem um peso até 8% e o crédito até 7%.