A reconstrução biónica, em que uma mão sem vida de um paciente é substituída por uma mão mecatrónica, permite restaurar esperança após acidentes. No entanto, nem todas pessoas que sobrem um acidente podem, por fatores de natureza psicológica, ser candidatas a uma mão mecatrónica.
Uma equipa de investigação liderada por Oskar Aszmann, cirurgião do Departamento de Cirurgia da Universidade de Medicina de Viena, publicou, pela primeira vez, o conceito vienense para uma avaliação psicológica estruturada para determinar se um paciente é psicologicamente adequado para a reconstrução biónica da mão. O estudo foi publicado na revista médica ‘PLOS One’.
Alguns acidentes podem causar lesões graves aos nervos que fornecem o braço e a mão. Se a função desses nervos não for restaurada dentro de alguns meses após o acidente, os músculos da mão ‘morrem’, tornando-se a mão num apêndice não funcional sem qualquer sensação.
A reconstrução biónica permite substituir a mão sem vida por uma mão mecatrónica, mas nem todos os pacientes são adequados para este programa de reconstrução, devendo ser garantidas determinadas condições psicológicas prévias para o sucesso da intervenção.
Jovens motociclistas, em particular, sofrem muitas vezes lesões de avulsão radicular. Em que os braços sofrem uma grande força e tensão de tração considerável de afastamento do corpo levando a que as raízes nervosas individuais se separem da medula espinhal. A ligação cérebro – medula espinhal – o caminho do nervo é interrompido, de modo que os pacientes não podem sentir ou mover a mão.
Na maioria dos casos, é possível, através da reconstrução do nervo, restaurar alguma função no ombro e no cotovelo. No entanto, na maioria dos casos, os músculos na mão não sobrevivem a este período sem um fornecimento do nervo. Neste caso Oskar Aszmann apresentou, em 2015, na Universidade de Medicina de Viena, o conceito de reconstrução biónica.
O conceito de Oskar Aszmann consiste num procedimento que envolve o enxerto de novos músculos no antebraço, de modo que estes possam então atuar como amplificador de sinal para os nervos restantes. Quando a mão não funcional é substituída por uma mão mecatrônica, mesmo depois de anos sem qualquer função manual, os pacientes com este tipo de mão protética estão aptos a manipular objetos com uma adequada aderência.
A reconstrução biónica envolve a amputação da mão não funcional, o que constitui uma grave violação da integridade física, e neste caso, é essencial verificar com antecedência se um paciente está ciente das ramificações desta decisão e entende a quantidade de reabilitação necessária para restaurar a função manual, embora mecatrónica.
Para verificar se o paciente possui as características para a intervenção, Laura Hruby e Anna Pittermann, integradas na equipa de Oskar Aszmann, desenvolveram um procedimento de avaliação psicossocial que todos os pacientes devem ser submetidos antes da amputação da mão.
A avaliação consiste em vários questionários e uma entrevista com cerca de duas horas, que no caso do estudo, foi feita pela psicóloga clínica, Anna Pittermann. O processo permitiu verificar até que ponto os potenciais candidatos conseguiram ultrapassar os traumas do acidente que provocou a lesão do nervo, e quais as expectativas que têm de uma prótese e se essas expetativas são realistas.
Laura Hruby indicou: “Encontramos pacientes com fantasias de tipo cyborg, que são conduzidas principalmente por reportagens distorcidas nos media”. Neste caso, “é necessário explicar-lhes que uma mão protética não é uma coisa fantástica.”
A investigadora esclareceu que “a avaliação psicossocial ajuda a identificar precocemente os pacientes que têm expectativas irrealistas, e permitindo excluir as pessoas não adequadas, mas também poder oferecer ajuda para resolver problemas psicológicos ou trabalhar em conjunto para desenvolver estratégias para superar esses problemas.”