A fibrilhação auricular é uma perturbação do ritmo cardíaco (arritmia) que se associa ao risco de acidente vascular cerebral (AVC). Nesta arritmia, o coração perde a capacidade de contração das aurículas. A estagnação de sangue nestas cavidades proporciona a formação de coágulos (trombos) que poderão deslocar-se e migrar para a circulação cerebral e provocar um AVC. O AVC continua a ser a principal causa de morte e incapacidade em Portugal e a fibrilhação auricular é responsável por cerca de um terço dos casos.
Os medicamentos anticoagulantes contrariam a formação de coágulos e são a primeira linha na prevenção do AVC na fibrilhação auricular. Contudo, os anticoagulantes aumentam o risco de sangramento (hemorragia) e estima-se que cerca de 1 em cada 4 doentes não tolere ou apresente contraindicação para a toma destes fármacos. Para este grupo de doentes, a cardiologia de intervenção oferece uma alternativa. Através de um cateter introduzido na região femoral, é possível alcançar o coração e implantar um dispositivo que encerra o local onde a formação de coágulos é mais provável. Esse local é o apêndice auricular esquerdo, uma pequena extensão da aurícula esquerda que é responsável pela formação de cerca de 90% dos trombos associados à fibrilhação auricular.
O encerramento do apêndice auricular esquerdo através de cateter representa uma importante evolução na prevenção do AVC, oferecendo uma alternativa não-inferior à anticoagulação em doentes que não toleram ou apresentam elevado risco de sangramento. Este procedimento não é uma cirurgia, pode ser oferecido em múltiplas unidades públicas e privadas de norte a sul do país e geralmente implica apenas um dia de internamento.
São múltiplos os desafios na prevenção do AVC associado à fibrilhação auricular. Esta arritmia é frequentemente silenciosa, dificultando o seu diagnóstico. Estima-se que cerca de metade dos doentes com fibrilhação auricular não estejam devidamente identificados e protegidos. Recomendamos que palpe o seu pulso e procure o seu médico. Um pulso irregular poderá corresponder a fibrilhação auricular.
A adesão terapêutica é outro obstáculo. É frequentemente difícil motivar um doente com fibrilhação auricular para a adesão a um regime terapêutico prolongado, particularmente quando não tem sintomas associados. É necessário que a população compreenda que na presença de fibrilhação auricular o risco anual de AVC vai até 20% (1 em cada 5 doentes). Os doentes deverão estar devidamente protegidos, procurando cuidados médicos e mantendo a adesão terapêutica.
Autor: Eduardo Infante de Oliveira, médico, membro da direção da Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC).
Nota: O Dia Mundial do AVC assinala-se a 29 de outubro.