Ao longo da sua vida o ser humano deglute milhões de vezes sem se aperceber da complexidade deste ato. A deglutição é um ato reflexo inerente ao ser humano desde o útero materno e fundamental para a manutenção da vida; é um percurso que deve ser feito de forma segura desde o trajeto inicial do alimento, dentro da boca, até à sua transição para o esófago. Havendo alguma alteração neste trajeto que dificulte ou impeça a ingestão oral segura, eficiente e confortável da pessoa, haverá então um sintoma de disfagia.
A disfagia, do grego «Dys» significa dificuldade e «fagia», significa comer, entende-se como uma «dificuldade em comer», sendo uma perturbação da deglutição. Existem vários tipos de disfagia, dependendo do local onde ocorrem as dificuldades. Estas dificuldades podem ocorrer em todas as idades, desde o nascimento até ao envelhecimento.
Existem vários sinais e sintomas inerentes à disfagia, entre os quais se destacam: desidratação e desnutrição; perda de peso inexplicável e de forma acentuada, num curto período de tempo; dor a engolir; febres frequentes; pneumonias de repetição/ infeções respiratórias; voz alterada após a deglutição; sensação de alimento preso na garganta; engasgamento frequente ou falta de ar durante/após as refeições ou quando bebe líquidos e sensação de que os alimentos ou líquidos voltam do estômago para a boca.
O terapeuta da fala é o profissional envolvido nas alterações da deglutição: é responsável, por um lado, pela avaliação, onde existe a possibilidade de serem descritas queixas em relação ao processo de deglutição e, eventualmente, levantar hipóteses sobre a origem da disfagia e, por outro lado, pela intervenção nesta área, onde é trabalhada a reabilitação, dependendo sempre dos sinais e sintomas apresentados de cada pessoa. Aqui, o terapeuta da fala deverá ter como objetivo o estabelecimento de uma relação entre o tipo de deglutição segura e adequada a cada caso: quanto mais precoce for a avaliação e o diagnóstico, mais eficaz será o tratamento.
A disfagia, apesar de, como já foi referido, poder ocorrer em qualquer idade, tem uma maior incidência na população envelhecida, pois durante o processo de envelhecimento existe uma redução da funcionalidade de vários órgãos e sistemas do organismo. A prevalência de disfagia aumenta com a idade e constitui alguns problemas para os indivíduos mais idosos, comprometendo o seu estado nutricional, dificultando a administração de medicamentos sólidos, aumentando o risco de uma pneumonia por aspiração e não menos importante, prejudicando a sua qualidade de vida.
Podem ser várias as causas de disfagia nesta população, podendo incluir o Acidente Vascular Cerebral, a demência, as doenças neuromusculares e também tumores de cabeça e pescoço. Neste tipo de população é necessário, por vezes, a alteração da dieta alimentar, nomeadamente, a alteração do volume e consistência do bolo alimentar, e também a reabilitação do processo de deglutição, utilizando técnicas e exercícios específicos a cada caso.
Autora: Jéssica Brás, Terapeuta da Fala no NeuroSer, Centro de Diagnóstico e Terapias para Alzheimer e outras patologias neurológicas.