Vários estudos demonstraram que os coronavírus humanos, incluindo o SARS-CoV-2, que causa a COVID-19, atacam os neurónios e o sistema nervoso das pessoas mais vulneráveis. A neuroinvasão do coronavírus através da cavidade nasal acarreta o risco de distúrbios neurológicos nos indivíduos afetados.
Um estudo de investigação realizado no Institut national de la recherche scientifique (INRS), em França, identificou formas de prevenir a propagação da infeção no sistema nervoso central (SNC). O estudo, liderado pelos investigadores Pierre Talbot e Marc Desforges, foi publicado no Journal of Virology.
Imunidade antiviral para coronavírus humanos
A equipa de investigação é a primeira a fazer a demonstração de uma ligação direta entre neurovirulência, clivagem da proteína S (proteína do coronavírus) por protéases celulares e imunidade inata. Essa imunidade antiviral surge da produção de interferons, proteínas da linha de frente que ajudam a detetar precocemente a presença do vírus.
“Usando um coronavírus da constipação, semelhante ao SARS-CoV-2, fomos capazes de mostrar que a clivagem da proteína S e do interferon poderia prevenir a sua propagação para o cérebro e medula espinhal em ratos”, referiu Pierre Talbot, que tem estudado os coronavírus durante quase 40 anos.
Duas abordagens terapêuticas
Marc Desforges, atualmente um especialista clínico em biologia médica no laboratório de virologia CHU-Sainte-Justine, a clivagem da proteína S por várias protéases celulares é essencial para que esses vírus infetem efetivamente as células e se espalhem para vários órgãos e sistemas no corpo, incluindo o sistema nervoso central (SNC).
“Os nossos resultados demonstram que o interferon produzido por diferentes células, incluindo recetores olfatórios e células produtoras de líquido cefalorraquidiano (LCR) no cérebro, pode modular essa clivagem. Assim, ele pode limitar significativamente a disseminação viral no SNC e a gravidade da doença associada “, diz o especialista que trabalhou por 16 anos como associado de investigação no Centro de Biotecnologia de Saúde Armand-Frappier do IRNS, França.
Em conjunto, estes resultados apontam para dois alvos antivirais potenciais: clivagem da proteína S e imunidade inata relacionada ao interferon. “Compreender os mecanismos da infeção e propagação viral em células neuronais é essencial para melhor projetar abordagens terapêuticas”, referiu Pierre Talbot. Isto pode ser especialmente importante para pessoas vulneráveis, idosos e imunocomprometidos”. Essa descoberta abre a porta para novas estratégias terapêuticas.