Julgo que desde 2010 que, aquando da realização em Cancun (México) do Congresso Mundial da WONCA (Organização Mundial de Médicos de Família), se passou a celebrar a 19 de maio o Dia Mundial do Médico de Família.
A formação e vocação comunitárias permitiu a estes médicos, um pouco por todo o lado, uma inserção fácil junto dos indivíduos, das famílias e das comunidades locais, num padrão de acessibilidade e proximidade que os transformou, também em Portugal e no Serviço Nacional de Saúde (SNS), naquilo que parece uma enumeração de um qualquer dicionário: Guardião, porteiro, farol, pivot, referenciador, primeira linha, sinaleiro, sinalizador, “tapa-buracos”, “médico da caixa”, enfim um rol infindável de cognomes próprios de reis sem trono, nem poder.
Mas é verdade que, a sua distribuição progressivamente mais alargada, ainda que não bem dimensionada em função das necessidades do país e das suas capacidades reais de prestação assistencial, produziu ou contribuiu, no mínimo, para uma maior igualdade no direito constitucional à saúde.
Houve um nome que nunca me chamaram e que, para vos ser franco, desejaria que os vários Ministros da Saúde que “servi” me tivessem dirigido: prevencionista!
O papel dos médicos de família, até pela sua posição na estratégia da formação das listas de utentes, deveriam reunir condições adequadas à prevenção da doença e à promoção da saúde, obviamente em articulação clara, contínua e continuada com os outros níveis assistenciais.
Nenhum médico de família poderá ser “especialista” na infindável vastidão do conhecimento médico e das patologias que, com naturalidade, não poderá nem dominar, nem aprofundar.
Mas a necessidade de assumir uma actividade clínica mais prevencionista do que curativa, não encontrou infelizmente carinho nem apoio, nem estímulo, nem ajuda.
É por isso que, o meu apelo, dirigido aos colegas médicos de família é claro e único. Esqueçam as ingratidões e as omissões de quem pode. Sublinhem o que há de melhor entre nós – médicos e os nossos utentes e doentes – a confiança! As doenças crónicas são um paradigma que não podemos escamotear e que, de resto, num contexto de envelhecimento acentuado, vão pôr em causa a sustentabilidade do SNS.
Mas em Portugal e o acidente vascular cerebral (AVC)?
A prevenção primária radica em conhecer e rastrear condições que aumentem a probabilidade ou o risco da ocorrência de determinada doença ou situação clínica.
Assim, conseguiremos evitar o AVC, primeira causa de mortalidade e incapacidade permanente no nosso país, fazendo a prevenção primária. Diagnosticar precocemente, tratar e/ou referenciar bem e depressa os quadros de hipertensão arterial, controlar a obesidade e a diabetes, detectar as estenoses carotídeas ou a fibrilação auricular…
Pensar e lutar contra os factores de risco modificáveis de AVC, como por exemplo, hipertensão arterial, o tabagismo, a diabetes mellitus, o sedentarismo e a hipercolesterolemia.
E pugnar por uma boa adesão terapêutica, estimulando e motivando os doentes para os sucessos, a obtenção das metas colocadas, o ganhar dos desafios lançados.
Comemorar o Dia Mundial do Médico de Família só poderá ter um sentido e um significado: Ganhar a Prevenção!
Artigo de Opinião: Rui Cernadas, médico especialista em Medicina Geral e Familiar, membro da Comissão Científica da SPAVC