Estudo da Ordem dos Médicos com o título ‘História do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Portugal: A saúde e a força de trabalho, do Estado Novo aos nossos dias’, coordenado por Raquel Varela e Renato Guedes, foi já divulgado, e incide sobre a evolução histórica da relação entre força de trabalho e saúde em Portugal no período contemporâneo.
O estudo, que teve também a colaboração de Ursula Huws, Stewart Play, Colin Leys e Peter Kennedy, aborda as alterações no mercado de trabalho desde 1974 até há data, e faz ainda um cálculo do esforço médico no Serviço Nacional de Saúde.
De acordo com comunicado, Raquel Varela, referiu que a conclusão mais clara do estudo é que os ganhos fundamentais na saúde ao longo do tempo têm sido conseguidos à custa do esforço médico, com uma sobrecarga das horas trabalhadas, tendo em conta o número de médicos em exercício e o valor real pago.
Jaime Teixeira Mendes, Presidente do Conselho Regional Sul da Ordem dos Médicos, referiu: “O constante subfinanciamento do SNS conduziu-nos a uma situação de quase insustentabilidade do sistema. Os critérios de eficiência introduzidos aumentaram a pressão sobre o trabalho dos médicos a um ponto incomportável”.
A título de exemplo, indica Jaime Teixeira Mendes, “os médicos de medicina geral e familiar viram aumentar o número de utentes à sua responsabilidade de 1500 para 1900, sem acréscimo de horário” e acrescentou que “os modelos de gestão introduzidos, visando criar o mercado da saúde, falharam, levando a um serviço que beneficia os privados, e prejudica os utentes mais pobres, sem possibilidade de alternativa”.
Para Michael Roberts, economista britânico, lembrou durante a apresentação do estudo, que os robôs têm vindo nos últimos anos a executar tarefas cada vez mais complexas, e progressivamente a substituir os seres humanos em várias funções. Na Medicina, os robôs podem vir a ser estratégicos, pois podem evitar o erro humano e aumentar a eficiência.
O economista referiu que surge “a tentação de substituir boa parte do trabalho médico – checkups, diagnóstico, exames complementares, receitas médicas – por sensores, pela análise de dados com resultados imediatos”.
O aumento sempre crescente da investigação médica não permite que um técnico ou especialista em saúde acompanhe a evolução dos resultados e do conhecimento que se vem produzindo, “com milhares de artigos publicados diariamente no mundo inteiro”.
Michael Roberts esclareceu que “a Inteligência Artificial já consegue oferecer alternativas, cruzando todos esses dados com a descrição dos sintomas do paciente”, no entanto, questiona “se é isso que queremos: uma Medicina com cada vez mais utentes, em sociedades envelhecidas, tratada por máquinas”.