O Presidente da República na sua mensagem de Ano Novo começou por lembrar que “Portugal é onde se encontre um português”. Uma referência aos emigrantes e aos que no exterior estão “em missão nacional”, e que considera que diariamente criam os “Portugais novos.”
“Estranho e contraditório ano esse, que ontem terminou, e exigiu tudo de todos nós”, afirmou o Marcelo Rebelo de Sousa, e acrescentou: “ Estranho e contraditório ano no mundo, com tão veementes proclamações de paz e abertura económica, e tão preocupantes ameaças de tensão e protecionismo, pondo à prova a paciência e a sensatez de muitos, e, em particular, do Secretário-Geral António Guterres.”
“Estranho e contraditório ano”, também na Europa, onde foi “tão claro crescimento e desejo de recuperação do tempo perdido”, mas por outro lado “tão lenta capacidade de resposta e de reencontro com os europeus.”
Mas também em Portugal o ano foi “Estranho e contraditório ano”, um “ano povoado de reconfortantes alegrias e de profundas tristezas.” O Presidente começou por lembrar Mário Soares, mas também a visita a Portugal do Papa Francisco, que indicou ser “o apóstolo dos deserdados desta era.”
Os sucessos do ano são enumerados por Marcelo Rebelo de Sousa que referiu: “finanças públicas a estabilizar, banca a consolidar, economia e emprego a crescer, juros e depois dívida pública a reduzir, Europa a declarar o fim do défice excessivo e a confiar ao nosso Ministro das Finanças liderança no Eurogrupo, mercados a atestarem os nossos merecimentos.”
Sucessos que iam “colocando fasquias mais altas no combate à pobreza, às desigualdades, ao acesso e funcionamento dos sistemas sociais e aconselhando prudência no futuro. Mas permitindo a Portugal apresentar como exemplo a determinação dos portugueses.”
Um sucesso que lembrou não ser apenas deste Governo mas também do que o antecedeu. “Ninguém imaginaria, há menos de dois anos, poder partilhar tão rápida e convincente mudança. Sem dúvida iniciada no ciclo político anterior, mas confirmada e acentuada neste, que tão grandes apreensões e desconfianças havia suscitado, cá dentro e lá fora.”
Para além dos sucessos no domínio económico e político também “o triunfo europeu da nossa música, os elevados galardões no turismo, o sucesso reiterado no digital ou os êxitos nas artes, na ciência ou no desporto, colocando Portugal como destino cimeiro universal”, deram alegria aos portugueses.
Portugal só teria vitórias se o ano tivesse terminado em 16 de junho, lembrou o Presidente, mas não assim, houve um ano adverso que começou “a 17 de junho, dominou o Verão e se adensou em 15 e 16 de outubro, marcado pela perplexidade em Tancos, o pesar no Funchal, o espectro da seca e, sobretudo, as tragédias dos incêndios, tão brutalmente inesperadas e tão devastadoras em perdas humanas e comunitárias.”
Acontecimentos que puseram “à prova o melhor de nós – a resistência, o afeto, a iniciativa e a fraternidade militante, que levou mais longe ainda a nossa proverbial solidariedade.”
Este “passado – bem recente – serve para apelar a que, no que falhou em 2017, se demonstre o mesmo empenho revelado no que nele conheceu êxito. Exigindo a coragem de reinventarmos o futuro.”
“O ano que ora começa tem de ser, pois, o ano dessa reinvenção”, uma afirmação que é também uma exigência do Presidente, e esclareceu: “Reinvenção que é mais do que mera reconstrução material e espiritual, aliás, logo iniciada pelas mãos de muitos – vítimas, Governo, autarquias locais, instituições sociais e privadas e anónimos portugueses.”
Mas também uma “reinvenção pela redescoberta desse, ou talvez mesmo desses vários Portugais, esquecidos, porque distantes, dos que, habitualmente, decidem, pelo voto, os destinos de todos.” Uma alusão à falta de reconhecimento pelos Governos da importância dos emigrantes.
“Reinvenção da confiança dos portugueses na sua segurança, que é mais do que estabilidade governativa, finanças sãs, crescente emprego, rendimentos. É ter a certeza de que, nos momentos críticos, as missões essenciais do Estado não falham nem se isentam de responsabilidades”, um alerta repetido pelo Presidente sobre as falhas do Estado para com os que mais necessitam, e que reforçou referindo: “Reinvenção com verdade, humildade, imaginação e consistência.”
Chegou o momento para agir, referiu o Presidente, pelo que é necessário “converter as tragédias que vivemos em razão mobilizadora de mudança, para que não subsistam como recordação de irrecuperável fracasso”, e também “superar o que de menor nos divide para afirmar o que de maior nos une.”
As exigências vêm do povo, “deste Povo, do mais sofrido, do mais sacrificado, do mais abnegado”, uma referência do Presidente ao povo, ao qual faz questão de ser a sua voz.