Primeira edição do BIAL Award in Biomedicine, no valor de 300 mil euros, distingue trabalho de investigação liderado pelo imunologista português Caetano Reis e Sousa, do Laboratório de Imunobiologia do Francis Crick Institute, em Londres.
O prémio entregue, hoje, pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, em cerimónia no Grande Auditório João Lobo Antunes, no Edifício Egas Moniz, da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, foi instituído pela Fundação BIAL e tem como objetivo reconhecer o que de mais notável e relevante se faz ou se descobre na área biomédica.
O trabalho de investigação
O estudo ‘Cyclooxygenase-Dependent Tumor Growth through Evasion of Immunity’ distinguido com o BIAL Award in Biomedicine, foi já publicado na revista Cell. A investigação, que envolveu doze investigadores de várias nacionalidades, insere-se na área da imunologia tumoral, que serve de base para a imunoterapia do cancro, vista atualmente como potencial tratamento de primeira linha para vários tumores e decisiva no tratamento do cancro.
A imunoterapia do cancro assenta numa estratégia que potencia o sistema imunitário individual de cada paciente para combater as células cancerígenas. Esta estratégia transformou, na última década, o tratamento de vários cancros metastáticos resistentes às terapêuticas convencionais, nomeadamente à quimioterapia.
Tendo como ponto de partida o facto de apenas uma minoria dos doentes obter respostas completas e duradouras à imunoterapia, o grupo liderado por Caetano Reis e Sousa analisou as causas de insucesso terapêutico e identificou uma possível explicação para o mecanismo de “fuga” tumoral ao sistema imunitário e consequente resistência à imunoterapia: a enzima ciclooxigenase e um dos seus produtos principais, o lípido inflamatório prostaglandina E2.
As moléculas identificadas pelos investigadores são essenciais para que as células cancerígenas consigam escapar ao reconhecimento e eliminação pelo sistema imunitário. Os investigadores manipularam geneticamente a capacidade das células tumorais para não produzirem estas moléculas, e verificaram que um ataque imunitário maciço aos tumores levaram que estes tenham perdido volume até desaparecerem.
Os investigadores estudaram ainda a capacidade dos inibidores de ciclooxigenase, utilizados nas doenças inflamatórias, caso da aspirina, de aumentar a eficácia da imunoterapia no tratamento de vários cancros, como o melanoma ou os carcinomas do pulmão e do rim. Os resultados mostram um aumento notável de eficácia da combinação da aspirina com a imunoterapia, em relação aos tratamentos individuais, resultando na erradicação dos tumores nos modelos pré-clínicos em estudo.
Aplicação do resultados do estudo
A cientista Maria do Carmo Fonseca, vice-presidente do júri do BIAL Award in Biomedicine, salientou que “este trabalho pioneiro inspirou novos ensaios clínicos, atualmente em curso à escala mundial, em que a combinação de fármacos anti-inflamatórios como a aspirina com a imunoterapia está a ser testada em vários tipos de cancros, tais como os da mama e do cólon”.
Caetano Reis e Sousa confessou, citado pela Bial, que “foi com grande alegria que recebi um telefonema do júri a anunciar que um estudo do meu laboratório tinha sido o vencedor do BIAL Award in Biomedicine 2019. Trata-se de uma investigação pré-clínica sobre um dos mecanismos utilizados pelos cancros para evitar a deteção do sistema imunitário. O estudo foi realizado por uma equipa de talentosos investigadores do nosso laboratório e colaboradores externos e estamos todos muito entusiasmados e honrados por receber este prestigiante prémio. Para mim, como cidadão português, receber o BIAL Award in Biomedicine tem um significado especial. Em nome de todos os que participaram no estudo, agradeço ao júri por escolher o nosso trabalho e à Fundação BIAL que patrocina o prémio.”
Caetano Reis e Sousa nasceu em Lisboa, em 1968, tendo ido viver para o Reino Unido ainda na adolescência. Licenciou-se em biologia no Imperial College de Londres e fez o doutoramento em imunologia na Universidade de Oxford.
Em 2009, Caetano Reis e Sousa foi distinguido com a Ordem portuguesa de Sant’Iago da Espada e em 2017 recebeu o Prémio Louis-Jeantet de Medicina.
Em 2019, Caetano Reis e Sousa foi eleito membro da Royal Society, tornando-se o primeiro português em 200 anos a entrar como fellow para a academia de ciências britânica, a mais antiga do mundo.
Equipa de investigadores liderados por Caetano Reis e Sousa
Nacionalidade: Portuguesa
Filiação: The Francis Crick Institute
Santiago Zelenay
Nacionalidade: Argentina
Filiação aquando da publicação do trabalho: The Francis Crick Institute
Filiação: Cancer Research UK Manchester Institute, University of Manchester
Annemarthe G. van der Veen
Nacionalidade: Holandesa
Filiação aquando da publicação do trabalho: The Francis Crick Institute
Filiação atual: Leiden University Medical Centre (Holanda)
Jan P. Böttcher
Nacionalidade: Alemã
Filiação aquando da publicação do trabalho: The Francis Crick Institute
Filiação atual: Institute of Molecular Immunology and Experimental Oncology, Klinikum rechts der
Isar, Technische Universität München (Alemanha)
Kathryn J. Snelgrove
Nacionalidade: Britânica
Filiação: The Francis Crick Institute
Neil Rogers
Nacionalidade: Britânica
Filiação: The Francis Crick Institute
Sophie E. Acton
Nacionalidade: Britânica
Filiação aquando da publicação do trabalho: The Francis Crick Institute
Filiação atual: University College London
Probir Chakravarty
Nacionalidade: Britânica
Filiação: The Francis Crick Institute
Maria Romina Girotti
Nacionalidade: Argentina
Filiação aquando da publicação do trabalho: Cancer Research UK Manchester Institute,
University of Manchester
Filiação atual: Institute of Biology and Experimental Medicine, Buenos Aires, Argentina
Sergio A. Quezada
Nacionalidade: Italiana
Filiação: University College London Cancer Institute
Richard Marais
Nacionalidade: Britânica
Filiação: Cancer Research UK Manchester Institute, The University of Manchester
Erik Sahai
Nacionalidade: Britânica
Filiação: The Francis Crick Institute