Os cientistas Claes H. Dohlman e Gerrit Melles foram distinguidos este ano de 2022 com o Prémio António Champalimaud de Visão pelas suas vastas contribuições para a investigação da visão.
Claes H. Dohlman, natural da Suécia, e formado na Universidade de Lund e no Instituto Karolinska em Estocolmo contribuiu de forma decisiva com a sua investigação, na Harvard Medical School, para como as condições da córnea são compreendidos e tratados. Por sua vez Gerrit Melles, do Netherlands Institute for Innovative Ocular Surgery, em Roterdão, revolucionou o tratamento cirúrgico da córnea.
O Prémio António Champalimaud de Visão, criado em 2006, no montante de um milhão de euros, é a mais alta distinção atribuída à oftalmologia e à ciência da visão, sendo um dos maiores prémios da investigação científica. O prêmio, que é considerado o “Prémio Nobel da Visão”, e é atribuído uma vez por ano, alternando entre contribuições de investigação para o campo da visão (anos pares) e contribuições para o alívio de problemas de visão, principalmente em países em desenvolvimento (anos ímpares).
O trabalho de Claes H. Dohlman transformou o curso da ciência da córnea no último século, e através das suas inovações e descobertas contribui para grandes impactos junto de milhares de pacientes, referiu Joan W. Miller, também distinguido com o Prémio Champalimaud de Visão em 2014. “As centenas de especialistas em córnea que tiveram a sorte de serem treinados pelo Dr. Dohlman continuam o seu legado trabalhando em uma missão compartilhada com a Fundação Champalimaud, para desenvolver terapias que beneficiarão milhares de milhões de pessoas e um dia erradicar a cegueira da córnea”.
Esta é a segunda vez que investigadores de Oftalmologia da Harvard Medical School recebem o prémio o que torna a instituição como única a ganhar o prémio duas vezes e a possuir, até agora, o maior número de laureados Champalimaud. Em 2014, foram seis os investigadores da Harvard Medical School a serem distinguidos com o Prémio António Champalimaud de Visão, pelas suas contribuições para identificar o fator de crescimento endotelial vascular (VEGF) como o principal gatilho para a angiogénese no olho, subjacente à patologia de vários distúrbios da retina que causam cegueira, incluindo a degeneração macular relacionada com a idade e retinopatia diabética, que levaram ao desenvolvimento de novos tratamentos anti-VEGF para essas doenças.
O cientista Claes H. Dohlman é reconhecido internacionalmente como o fundador da ciência moderna da córnea. Ao longo da sua carreira de sete décadas no Schepens Eye Research Institute of Mass Eye and Ear e Harvard Ophthalmology, liderou as investigações da fisiologia da córnea que lançaram as bases para a prática clínica na doença do olho seco, queimaduras na córnea, cicatrização de feridas, transplante de córnea e ceratoprótese. Como resultado, seu trabalho ajudou a melhorar a visão e a vida de milhões de pessoas em todo o mundo.
O cientista, atualmente com 100 anos de idade, é o inventor da Boston Keratoprosthesis (Boston KPro, ou Boston Cornea), uma córnea artificial que beneficia pacientes que não podem receber um transplante de córnea padrão. Desde então, tornou-se a córnea artificial mais utilizada, restaurando, até agora, a visão de mais de 15.000 pacientes nos Estados Unidos e em 52 países em todo o mundo.
Claes H. Dohlman publicou cerca de 400 artigos científicos e apresentou mais de 40 palestras em todo o mundo. As suas contribuições educacionais são ilimitadas. Ele foi o primeiro a criar um programa formal de bolsa de córnea e treinou mais de 200 especialistas da córnea, muitos destes tornaram-se professores e chefes de departamentos de oftalmologia e continuam a treinar futuras gerações de especialistas da córnea.
A cegueira da córnea é uma das principais causas de perda de visão, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. As condições que afetam a córnea são complexas na sua epidemiologia e incluem uma série de doenças oculares inflamatórias, infeciosas e genéticas que causam cicatrizes na córnea, a camada transparente na frente do olho que é a estrutura primária para focalizar a luz e serve como proteção e barreira contra lesões e patógenos microbianos.
As lesões ou distúrbios da córnea são, há muitos anos, uma das principais causas de cegueira em todo o Mundo. Os dois cientistas, agora distinguido com o Prémio António Champalimaud de Visão, “mudaram e aceleraram de forma decisiva o caminho para o tratamento desta doença. Um conhecimento mais aprofundado da camada externa transparente do olho, bem como a possibilidade de garantir uma abordagem melhorada e mais económica à cirurgia e ao transplante da córnea são essenciais para enfrentar este flagelo”, indica comunicado da Fundação Champalimaud.
Por outro lado o cientista Gerrit Melles “revolucionou o tratamento cirúrgico da doença”, tendo dado “contribuições extraordinárias que transformaram a cirurgia da córnea, dando esperança e qualidade de vida a milhões de pessoas. Até ao desenvolvimento de abordagens alternativas, muitas vezes surgiam complicações que requeriam tratamentos adicionais, que por seu lado causavam glaucoma, entre outros problemas muito graves. As suas abordagens cirúrgicas aceleraram enormemente a reabilitação visual e diminuíram o risco de complicações”.