A linha de praia na Costa da Caparica tem vindo a recuar cerca de 2,5 metros por ano, indicam dados do consórcio Space for Shore que no âmbito do programa da Agência Espacial Europeia monitoriza a erosão costeira europeia a partir do espaço. Um trabalho que é coordenado em Portugal pela Universidade de Aveiro (UA).
A UA revela que entre os pontos de erosão costeira nacional detetados pelo Space for Shore está o areal entre a Lagoa de Óbidos e a praia do Baleal que tem vindo a mostrar uma tendência de recuo em cerca de 2,1 metros por ano e que são preocupantes as taxas de recuo da costa entre Troia e Sines e vários pontos da costa Algarvia.
“Apesar de existir uma tendência erosiva em maior parte da costa portuguesa, verifica-se que, em determinados locais, as medidas tomadas pelos gestores costeiros apresentam resultados positivos como na Nazaré ou nas praias a sul da Costa da Caparica”, aponta Paulo Baganha Baptista, investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA e responsável pelo programa em Portugal, citado em comunicado pela UA.
Especialista em biodiversidade e monitorização costeira, a empresa i-Sea, sediada em Bordéus, é líder do Space for Shore, um consórcio financiado em 4 milhões de euros pelo “ESA Coastal Erosion”. Trata-se de um importante programa europeu lançado em 2019 pela Agência Espacial Europeia.
Com base na observação por satélite da zona costeira, para prevenir e mitigar a erosão costeira, o programa está a chegar ao fim e os resultados “são muito promissores” indicou Paulo Baptista,
Durante 4 anos, mais de 70 organizações científicas e de gestão costeira dos 6 países membros do programa – França, Alemanha, Portugal, Grécia, Roménia e Noruega – partilharam as suas preocupações e expressaram a necessidade de dados e informações regulares para caracterizar a dinâmica do litoral, para avaliar a evolução do risco de erosão e a vulnerabilidade das zonas costeiras às alterações climáticas. Este trabalho permitiu cobrir 4.500 quilómetros de costa nestes 6 países, desde as costas do Mediterrâneo e do Mar Negro, passando pela costa do Atlântico-Canal da Mancha-Mar do Norte, até ao Ártico (Arquipélago de Svalbard).
Para cada um dos países Europeus que participaram no estudo “foram produzidos diversos indicadores de erosão costeira, entre os quais a linha de espraio máximo, a linha de base da duna, a posição da base e da crista de arribas rochosas”, referiu o investigador.
Para Paulo Baganha “evidenciam-se as tendências de recuo da linha de costa em muitos setores costeiros desses países, tal como ocorre em Portugal, sendo que as alterações climáticas, o aumento da severidade e persistência de temporais e a tendência geral de subida do nível do mar parecem antecipar cenários preocupantes de erosão costeira caso não sejam adotadas políticas concertadas de mitigação”.
De acordo com o investigador da UA “está em estudo a disponibilização, para a comunidade de utilizadores com interesses na gestão do litoral, de serviços dedicados de geração para a totalidade do território nacional, em tempo quase real, dos vários indicadores de erosão costeira considerados neste projeto, e para os quais foram desenvolvidos algoritmos específicos para o seu cálculo em modo automático”.