Investigadores do Museo Nacional de Ciencias Naturales (MNCN), de Espanha e do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, estudaram processos para “compreender por que é que certos organismos se alimentam de determinadas espécies e que se encontram em determinados habitats, e outros não”, indica comunicado do cE3c.
Os investigadores utilizaram “os ácaros como ponto de partida para demonstrar que, ao contrário do que se acreditava anteriormente, estes artrópodes não se especializam evolutivamente em grandes grupos de plantas”, mas alimentam-se das plantas que se encontram disponíveis nos locais.
A questão formulada e os resultados alcançados no estudo pelos investigadores vêm “contradizer a visão clássica de estudar as interações entre espécies e as funções do ecossistema apenas de um ponto de vista local, salientando a necessidade de estudos mais globais em Ecologia”.
Para desenvolverem o estudo os investigadores recorreram à base de dados que possui “cerca de 1200 espécies de ácaros, desenvolvida por Alain Migeon no Institut National de la Recherche Agronomique, de França, para avaliar quais os fatores que afetam as plantas das quais eles se alimentam por todo o mundo”.
Para Joaquín Calatayud, investigador do MNCN e primeiro autor do estudo, que já se encontra publicado na revista científica ‘Proceedings of the National Academy of Sciences’, o recurso à base de dados de Alain Migeon justifica-se por se tratar de uma base de dados única “na medida em que reúne informação tanto sobre a localização geográfica como sobre a utilização de plantas hospedeiras para este grupo de organismos”.
No estudo os investigadores utilizaram “uma nova abordagem baseada na análise de redes e análise filogenética”, ou seja, “o estudo das relações evolutivas entre grupos de organismos” e concluíram que, “ao contrário do que se pensava, os ácaros não se especializaram evolutivamente em grandes grupos de plantas ao longo de dezenas de milhares e até milhões de anos”, mas recorrem às plantas disponíveis no local para se alimentarem.
Joaquín Hortal do MNCN e do cE3c, indica que os resultados do estudo “demonstram que os processos biogeográficos que determinam que algumas espécies e grupos de animais estão presentes em certas regiões são pelo menos tão importantes quanto os processos ecológicos locais para determinar como é que as espécies contribuem para o funcionamento dos ecossistemas”.
Para o investigador, os resultados alcançados contradizem “a visão clássica de estudar as interações entre espécies e o funcionamento dos ecossistemas a partir de processos locais, apelando a uma perspetiva mais global em ecologia”.
Sara Magalhães, investigadora do cE3c, envolvida no estudo, esclarece: “Os ácaros são bastante eficientes a desenvolver novas estratégias para utilizar diferentes plantas, e os nossos resultados tornam claro que isto permitiu que eles se alimentem de algumas das plantas disponíveis onde vivem”.
Os investigadores verificaram que há algumas especializações evolutivas de ”grupos de ácaros que se alimentam de plantas evolutivamente distantes, como por exemplo as coníferas e as plantas com flor”, o que leva Sara Magalhães a referir que “as grandes transições evolutivas em plantas ainda determinam quais as plantas hospedeiras que os ácaros vão utilizar”.