O sono é um dos pilares da saúde, inclusive da saúde mental. Aproximadamente 30% a 40% dos adultos terão insónia num qualquer momento do ano, e cerca de 8,4% dos adultos tomam medicamentos para dormir na maioria das noites.
Para ajudar os pacientes a ter uma melhor noite de sono, Jesse Koskey, psiquiatra da Universidade da Califórnia, em Davis, EUA, referiu: “Os problemas de sono podem acontecer com quase todos os diagnósticos psiquiátricos” e um conselho é a “higiene do sono”, baseado na terapia cognitivo-comportamental para insónia.
Para o especialista as mudanças comportamentais são melhor que os medicamentos, para uma abordagem de melhorar do sono, e a música surge como um recurso.
Um artigo de revisão publicado no The Carlat Report, mostra que ouvir música reduz a gravidade geral da insónia, melhora a qualidade do sono e ajuda a iniciar o sono. O efeito foi comparável aos medicamentos prescritos para dormir, como os medicamentos Z (eszopiclona (Lunesta), zaleplon (Sonata) e zolpidem (Ambien, Ambien CR, Edluar e Zolpimist)) e os benzodiazepínicos.
Ora como referiu Jesse Koskey “A música é um tratamento barato, acessível e eficaz para a insónia. O único efeito colateral que encontrei foi o ‘efeito earworm‘, onde uma música fica ‘presa’ na cabeça”.
Música pensada para produzir ‘arrastamento’
As listas de reprodução de música para dormir, como as encontradas no Spotify, Pandora, Apple Music e outros, tendem a apresentar música etérea e de ritmo lento.
Jesse Koskey explicou que acredita-se que essas músicas de ritmo mais lento produzam um efeito conhecido como “arrastamento ”.
Arrastamento é quando seu corpo sincroniza com seu ambiente ou outra pessoa, como quando se anda com um amigo. O mesmo arrastamento pode acontecer com a música.
A música em torno de 60 batidas por minuto, que é o mesmo que um coração relaxado, pode arrastar a parte de descanso e digestão do seu sistema nervoso (o sistema parassimpático), levando a uma frequência cardíaca mais lenta e relaxada.
Além de diminuir a frequência cardíaca, a investigação mostrou que a música relaxante também pode reduzir a pressão arterial nos ouvintes.
Qualquer tipo de música pode potencialmente ajudar no sono
Nos estudos que Jesse Koskey examinou, os participantes preferiram melodias familiares sem letras e canções com tempos lentos, ritmos regulares, tons graves e melodias tranquilizantes. Mas a boa notícia é que não é preciso ouvir música lenta para ficar com sono, a menos que goste dessa música.
“Muitos estudos incluem músicas relaxantes clássicas ou ambientes. Mas um estudo mostrou que as músicas escolhidas pelos próprios participantes – incluindo os sons de um videogame e música pop – ajudaram da mesma forma que a música de um álbum de música clássica relaxante”, referiu Jesse Koskey.
Além de encontrar listas de reprodução em serviços de streaming, podem encontrar-se na web uma grande variedade de “música para dormir”.
Uma maneira de ouvir música para dormir
Jesse Koskey também descobriu que não há uma maneira de ouvir música quando se está a tentar dormir. Os fones de ouvido funcionaram tão bem como os alto-falantes. Alguns dos participantes do estudo ouviram música durante 30 a 60 minutos, e outros durante toda a noite.
“A essência é que não há maneira errada de experimentar a música como um auxílio para dormir. E é provável que ajude com problemas leves de sono”, esclareceu o psiquiatra.
A vantagem é que a música pode mascarar os ruídos do ambiente, facilitar a distração e tornar-se uma parte agradável da rotina do sono.
Embora promissor, Jesse Koskey apontou algumas limitações à investigação, dado que a maioria dos estudos incluiu pessoas com problemas leves de sono, e a maioria dos estudos era pequena. E não foi possível fazer um estudo duplo-cego já que os participantes saberiam que estavam a ouvir música.
O investigador também observou que a relação do sono com a saúde física e mental é uma via de mão dupla: se não está a dormir bem, a saúde geral pode ser prejudicada. Mas um sono ruim também pode indicar que algo já está acontecer e que precisa de atenção.
Assim, o especialista aconselhou que “se reservou tempo suficiente para dormir, mas o sono não é restaurador e está ficar cansado durante o dia, informe o médico de cuidados primários”.