Um ano após a intervenção militar de Israel na Faixa de Gaza, o risco de fome persiste em todo o território. A Organização Mundial da Saúde (OMS) refere que dado o recente aumento nas hostilidades, há preocupações crescentes de que o pior cenário possa materializar-se.
Os bombardeamentos sobre o território e todos os tipos de intervenção militar deslocou quase 2 milhões de pessoas, dizimou meios de subsistência, prejudicou os sistemas alimentares, destruiu 70% dos campos de cultivo, restringiu severamente as operações humanitárias e resultou no colapso dos serviços de saúde e dos sistemas de Água, Saneamento e Higiene. A insegurança alimentar aguda catastrófica e os níveis preocupantes de desnutrição aguda continuarão a prevalecer se o conflito continuar e as atividades humanitárias forem restringidas, descreve a OMS.
Entre setembro e outubro de 2024, toda a Faixa de Gaza é classificada na Fase 4 da Segurança Alimentar Integrada, ou seja num IPC considerado de Emergência. Cerca de 1,84 milhões de pessoas na Faixa de Gaza estão a enfrentar altos níveis de insegurança alimentar aguda classificados na Fase 3 do IPC, considerado de Crise ou acima, incluindo quase 133.000 pessoas enfrentando insegurança alimentar catastrófica, ou seja Fase 5 do IPC e 664.000, na Fase 4 do IPC de Emergência. A desnutrição aguda está em níveis sérios, dez vezes maior do que antes da escalada das hostilidades.
Como refere a OMS, quase toda a população foi deslocada várias vezes, muitas vezes sob bombardeamentos aéreos e contínuos. Muitas famílias, especialmente as mais vulneráveis, não conseguem mudar-se ou encontrar abrigo seguro. A maioria a está viver em acampamentos temporários improvisados com uma densidade alarmante de quase 40.000 pessoas por quilómetro quadrado.
As ordens de evacuação e a ofensiva militar, que se intensificaram ainda mais nas últimas semanas, interromperam significativamente as operações humanitárias, e os deslocamentos repetidos têm desgastado constantemente a capacidade das pessoas de lidar com a situação e aceder a alimentos, água e medicamentos, aumentado profundamente a vulnerabilidade de comunidades inteiras.
A OMS refere que houve um aumento temporário de assistência humanitária e fornecimento comercial entre maio e agosto de 2024 que aliviou parcialmente a insegurança alimentar aguda e as condições de desnutrição. No entanto, o mês de setembro verificou o menor volume de suprimentos comerciais e humanitários a entrar em Gaza desde março de 2024.
Esta redução acentuada de entrada de bens limitará profundamente a disponibilidade de alimentos e a capacidade das famílias de se alimentarem e acederem a serviços nos próximos meses. A OMS indica que espera-se que a próxima temporada de inverno traga temperaturas mais frias, juntamente com chuvas e potenciais inundações. Assim, doenças sazonais e acesso cada vez mais limitado à água e aos serviços de saúde provavelmente piorarão a desnutrição aguda, especialmente em áreas densamente povoadas, onde o risco de epidemias já é alto.
A população classificada na Fase 5 do IPC ou de catástrofe deve quase triplicar nos próximos meses. Entre novembro de 2024 e abril de 2025, quase 2 milhões de pessoas, mais de 90% cento da população, são classificadas na Fase 3 do IPC ou de crise, ou acima, das quais 345.000 pessoas, ou 16%, estão em catástrofe e 876.000 pessoas, ou 41% estão em emergência. A OMS prevê que, embora menos populosas, Rafah e as províncias do norte provavelmente enfrentarão insegurança alimentar aguda mais grave.