O conhecimento sobre nutrição assegura que a gordura, quando consumida em grandes quantidades, é prejudicial à saúde humana. No entanto, os componentes que compõem as gorduras são complexos. As gorduras boas e insaturadas, ou lipídios, podem reduzir o risco de doenças.
Um novo estudo de investigação, conduzido por Justin Kim, do Instituto de Tecnologia da Geórgia, Aditi Das, da Georgia Tech e Andrew Steelman, da Universidade de Illinois, EUA, publicado na revista Biological Chemistry, mostra que um derivado de gordura pode ser capaz de aliviar os sintomas em pacientes que sofrem de doenças inflamatórias crónicas, como a Esclerose Múltipla (EM).
A EM é uma doença autoimune crónica do cérebro e da medula espinhal, em que o sistema imunológico ataca as células e tecidos que protegem as fibras nervosas. Esta doença potencialmente debilitante pode causar dor, perda de visão, fadiga, função cognitiva prejudicada e muito mais. Atualmente a EM afeta milhões de pessoas em todo o mundo e não têm cura.
Os investigadores analisaram especificamente o docosahexaenoyl ethanolamide (DHEA), um derivado dos lipídios encontrados em peixes de água fria e suplementos de óleo de peixe, e o seu impacto no sistema imunológico, e verificaram que o DHEA demonstrou ser anti-inflamatório e ter propriedades semelhantes à cannabis em alguns contextos.
O investigador Aditi Das referiu: “Nosso objetivo era usar algo que é encontrado naturalmente nos alimentos e no corpo humano para ver se podemos melhorá-lo para reduzir a gravidade da doença em pacientes com esclerose múltipla”.
No estudo os investigadores usaram um modelo de rato que imita de perto a natureza recidivante e remitente da EM, os três investigadores notaram que o DHEA está na sua concentração mais alta nos ratos quando estão em estado de remissão, o que os levou a considerar se o DHEA poderia amortecer a inflamação que controla a doença.
“Pensamos que, se pudéssemos de alguma forma aliviar, controlar ou reduzir o nível de inflamação, poderíamos melhorar os resultados e a gravidade da doença”, explicou Justin Kim.
Embora a ingestão de suplementos de óleo de peixe tenha sido associada à melhoria da qualidade de vida em pacientes com condições inflamatórias, a interação dessa associação nunca foi, até agora, separada na EM. Os investigadores Justin Kim, Andrew Steelman e Aditi Das foram os primeiros a mostrar que o lipídio DHEA pode reduzir a inflamação e os sinais da doença num modelo de rato com EM.
Os investigadores descobriram que, quando suplementavam a dieta dos ratos com DHEA, os ratos apresentavam sintomas menos graves e mais tardios de doenças semelhantes à esclerose múltipla. Essa redução deve-se, provavelmente, à presença de menos células T patogénicas ativadas no sistema nervoso central.
Aditi Das referiu: “Acreditamos que as nossas descobertas podem levar a novas soluções para ajudar no controlo dos sintomas da esclerose múltipla e de outras doenças inflamatórias crónicas, como a diabetes”.
Assim, deve-se começar a tomar suplementos de óleo de peixe? Os investigadores consideram que, em primeiro lugar, é necessário mais trabalho para estudar como o DHEA afeta outras partes do sistema imunológico em humanos. No entanto, os investigadores estão otimistas de que este é um passo à frente no uso de gorduras naturais boas ou dos seus derivados para diminuir a inflamação, sem os efeitos colaterais negativos de alguns medicamentos que são atualmente prescritos.
“Vi que muitos pacientes com esclerose múltipla estão totalmente sintonizados com o estudo”, referiu Justin Kim. “Eles estão sempre a tentar fazer tudo o que podem para melhorar os sintomas, seja por meio de exercícios, dieta ou apenas uma vida saudável, enquanto tentam reduzir o consumo de analgésicos pesados”.
A Sociedade Nacional de Esclerose Múltipla, dos EUA, aconselha os pacientes que a toma de doses razoáveis de óleo de peixe e suplementos de ácidos gordos ómega-3 são geralmente seguros e podem ser benéficos. No entanto, os pacientes devem consultar os seus médicos antes de mudar os seus medicamentos, e os suplementos nunca devem ser usados como substitutos das terapias convencionais.
O investigador Justin Kim lembrou: “Ainda não há cura para a EM, e qualquer coisa que ajude a melhorar os sintomas dos pacientes é sempre interessante”.