Na apresentação feita pelo editor, a pergunta ”O que aconteceria se um medicamento pudesse garantir o nascimento de crianças do sexo masculino?”, dá imediata perspetiva dum espaço narrativo. “O Século Primeiro depois de Béatrice” relata os acontecimentos que se seguiram ao desenvolvimento de uma substância química desse tipo.
Estamos no início do século XXI e a taxa de natalidade feminina diminui à medida que o uso da droga se espalha, inicialmente de forma clandestina. As mulheres são vendidas no mercado negro e os homens desesperam perante um futuro sem elas. Entretanto, os governos utilizam a droga como arma de limpeza étnica, ameaçando comunidades inteiras de extermínio.
Esta é uma dupla história de amor que reflete as contradições do nosso tempo – o relato sedutor dos acontecimentos que transformaram a Terra num planeta sombrio e polarizado pelo ódio é simultaneamente um aviso, uma defesa da “feminilidade” do mundo e uma afirmação da inesgotável capacidade de sobrevivência que caracteriza o ser humano.
Sobre o perfil do livro escreve o editor que no centro do romance está um futuro distópico em que uma descoberta científica permite aos pais escolherem o género dos seus filhos. Este facto leva a uma redução drástica do número de nascimentos de mulheres, criando graves consequências sociais e éticas. A exploração de Amin Maalouf, autor da obra, do desequilíbrio entre os géneros é um comentário sobre as preferências sociais e as potenciais consequências da manipulação da natureza. O autor destaca como os avanços científicos sem controlo podem levar a resultados desastrosos, levantando questões éticas importantes sobre a eugenia e as tecnologias reprodutivas.
O romance reflete a experiência de Amin Maalouf em história e cultura, incorporando perspetivas globais na narrativa futurista. Esta mistura de passado, presente e futuro acrescenta camadas de complexidade, fazendo com que o livro não seja apenas uma história sobre tecnologia que correu mal, mas sobre as lutas duradouras da humanidade com o poder, a identidade e a ética.
Embora o romance esteja repleto de questões filosóficas, apresenta também um enredo envolvente e distópico que mantém os leitores interessados no resultado. O colapso da sociedade devido ao desequilíbrio entre os sexos, as reações das diferentes culturas e o desenrolar de consequências imprevistas criam uma estrutura narrativa convincente.
Autor de prestígio Amin Maalouf está traduzido em 50 línguas, vencedor do Goncourt, do Príncipe das Astúrias, do Calouste Gulbenkian e do Pak Kyongni (sul-coreano)
Amin Maalouf. Nascido no Líbano, é jornalista e romancista. Venceu o Prix Maison de la Presse, o Prémio Goncourt, o Prémio Príncipe das Astúrias, o Prémio Calouste Gulbenkian e foi agraciado pela Ordem Nacional do Mérito francesa com o grau de Grande-Oficial. É membro da Academia Francesa desde 2011 e seu secretário vitalício desde 2022.
Foi chefe de redação, e mais tarde, editor do Jeune Afrique. Durante doze anos, foi repórter, tendo realizado missões em mais de sessenta países.
A maior parte dos seus livros apresenta um cenário histórico e, à semelhança de Umberto Eco, Orhan Pamuk e Arturo Pérez-Reverte, Maalouf combina factos históricos fascinantes com fantasia e conceitos filosóficos. Numa entrevista, afirmou que o seu papel enquanto escritor consiste em criar “mitos positivos”.
Escritas com a habilidade de um magnífico contador de histórias, as obras de Maalouf dão-nos uma visão apurada dos valores e comportamentos de diferentes culturas do Médio Oriente, de África e do mundo mediterrânico.