Uma das áreas políticas que tem gerado maior polémica na atual governação norte-americana, é inquestionavelmente a política de imigração delineada pela administração Trump, que tem causado não só impacto nos Estados Unidos da América como no estrangeiro, como mostram as proibições temporárias da entrada de cidadãos de países do Médio Oriente e de África.
Pretendendo essencialmente reduzir para metade o número de vistos de residência permanentes atribuídos anualmente e impor novos critérios para a entrada de imigrantes nos EUA, a nova estratégia da administração americana, liderada por Donald Trump, para a imigração rompe declaradamente com a história dos Estados Unidos, uma notável nação de imigrantes.
De facto, os pilares da principal nação do mundo foram construídos ao longo da sua história pela pujança da imigração inglesa, irlandesa, italiana, alemã, asiática, hispânica e de vários outros povos. Como afirma o historiador Alexander Keyssar “os estrangeiros construíram a América no passado e contribuem para o seu desenvolvimento até hoje”.
Também a comunidade lusa, cujas raízes no território norte-americano remontam sobretudo ao primeiro quartel do séc. XIX, quando entre 1820 e 1970 emigraram para os EUA cerca de meio milhão de portugueses, a maior parte deles oriundos dos Açores e da Madeira, ocupa um papel prestimoso no mosaico cultural americano.
No entanto, a população luso-americana que ultrapassa nos dias de hoje um milhão de pessoas, e está sobretudo concentrada na Califórnia, Massachusetts, Rhode Island e Nova Jérsia, não pode deixar de sentir algum incómodo pela inversão do paradigma das políticas de imigração norte-americana.
É que para além do dever de memória, a comunidade luso-americana pode assistir nos tempos próximos, com o fim do programa “DACA (Deferred Action for Childhood Arrivals)”, um programa que permite a jovens que foram levados para os EUA em criança de forma ilegal receberem proteção contra deportação, autorização de trabalho e número de segurança social, à possibilidade de deportação de meio milhar de jovens portugueses que deixam de estar abrangidos por este antigo projeto criado em 2012 pelo ex-presidente americano Barack Obama.
Autor: Daniel Bastos, Historiador e Escritor.