O novo coronavírus está a espalhar-se rapidamente, dentro e fora da China. Em 31 de janeiro, apenas um mês após o surgimento do novo patógeno no cenário mundial, 62 países já tinham imposto restrições à entrada de cidadãos chineses.
Contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde, os países vizinhos da China, incluindo Coreia do Norte, Mongólia e Rússia, fecharam suas fronteiras terrestres com a China, enquanto os Estados Unidos e a Austrália fecharam todas as fronteiras para a entrada de chineses.
Em Hong Kong, a decisão da chefe do executivo, Carrie Lam, de não fechar completamente a fronteira com o China Continental deu motivo para o povo aumentar a contestação ao do governo, com milhares de profissionais de saúde a fazer greve para exigir o fecho total da fronteira. Muitos países retiraram os seus cidadãos da China.
As companhias aéreas da Europa, América do Norte e Ásia estão a cancelar os voos para a China. A Itália e os Estados Unidos declararam emergências de saúde pública devido ao coronavírus, e a Rússia indicou que deportaria estrangeiros infetado com o coronavírus.
As medidas internacionais levaram a que o embaixador da China na ONU solicitasse mais consumísseis médicos para ajudar o país a combater o coronavírus. Em 2 de fevereiro, o ex-vice-presidente norte-americano Joe Biden criticou a resposta do presidente Donald Trump ao surto, dizendo: “Não é hora para a xenofobia histérica e o medo”.
A rápida disseminação do coronavírus representa uma ameaça imediata e presente que justifica ações fora dos limites normais do procedimento político. Medidas de emergência ajudaram a mobilizar e recursos para enfrentar os desafios. Entretanto, as respostas dirigidas pelo medo podem criar muito mais problemas do que as resolver.
Primeiro: Podem complicar a gestão de riscos, superestimando o perigo do coronavírus. O surto chegou às manchetes, mas o risco agregado à saúde humana pode não ser tão alto quanto toda a atenção parece indicar. Em 4 de fevereiro, mais de 20.000 casos foram identificados, incluindo 427 mortes, quase todas ocorridas na China.
Em 18 de janeiro, os primeiros meses da época de gripe, esta já tinha provocado 15 milhões de casos de infeção gripal e 8.200 mortes em todo o mundo. Mas foi o coronavírus que provocou um alto nível de medo e pânico. Tais “ temidos riscos”, de acordo com especialista em segurança global Jessica Stern, reduz a capacidade dos decisores de políticas de fazer concessões precisas entre baixos e altos riscos.
Segundo: Os investigadores podem levar a medidas desnecessárias de distanciamento social, alimentando respostas excludentes e desumanas contra certos grupos populacionais. Na China, o pânico com o coronavírus levou as pessoas a evitar outras pessoas, especialmente as pessoas de Wuhan, que se acredita ser a zona “zero” do vírus. Internacionalmente, o medo desencadeou sentimentos antichineses em alguns países asiáticos.
Terceiro: Deve ser construída uma política de saúde pública eficaz com base na confiança, e não no medo. O medo e o pânico gerados por medidas extraordinárias do Governo podem ter o efeito não intencional de criar uma sociedade menos cooperativa, incentivando as pessoas a evitar os funcionários de saúde pública. Numa era da Internet e das medias sociais, o medo do coronavírus pode espalhar-se mais rápido que o próprio coronavírus, o que só prejudica a eficácia da resposta do Governo.
Em 23 de janeiro, mais de 300.000 pessoas deixaram Wuhan de comboio nas horas anteriores à quarentena, que foi anunciada às 02h00, e entrou em vigor às 10h00, aumentando a possibilidade de propagação da doença. Aqueles que ficaram e desenvolveram sintomas semelhantes aos da gripe inundaram os hospitais na procura de assistência médica.
Quarto: Respostas a partir do medo podem causar enormes danos à economia mundial. Para minimizar os riscos de infeção, as pessoas deixaram de ir a restaurantes, teatros ou deslocar-se. Os danos económicos podem ser devido a muitas medidas instituídas no surto (por exemplo, cancelamento de voos ou fecho de fronteiras) e por isso são “difíceis” de tomar.
De acordo com uma estimativa do Banco Mundial, 90% das perdas económicas durante qualquer surto de doença são causadas por “esforços descoordenados e irracionais do público para evitar a infeção”.
O medo de uma ameaça iminente provoca uma corrida competitiva entre os governos em todo o mundo para instituir contramedidas farmacêuticas ou não farmacêuticas, dificultando a colaboração internacional eficaz. O apelo a emergências de saúde pública, por exemplo, pode aliviar um país de qualquer obrigação moral de ajudar outros países, especialmente aqueles com baixa capacidade de resposta, que por sua vez podem desincentivar esses países no apoio às normas internacionais de saúde existentes, como a partilha de informações sobre doenças, obrigada pelo Regulamento Sanitário Internacional.
Dados os riscos negativos associados ao fator de medo, é imperativo garantir que a repulsa provocada pelo surto não nos leve a tomar medidas com impactos adversos inaceitáveis na saúde pública, nas liberdades civis, no comércio e na economia. Em vez de focar apenas na mobilização de emergência, é igualmente importante enfatizar a prevenção, precaução e a gestão de riscos por profissionais politicamente neutros. Em vez de provocar medo e pânico, os governos devem fornecer ao público uma imagem mais equilibrada da natureza e disseminação do coronavírus. Os países que implementam medidas de emergência também são aconselhados a preparar uma estratégia de saída que se concentre na mitigação para minimizar seus possíveis danos à economia e à sociedade.
Council on Foreign Relations dos EUA,