Investigadores desenvolveram um novo potencial tratamento para a doença ocular, glaucoma, que pode vir a substituir o uso diário do colírio e a cirurgia, utilizando uma injeção duas vezes por ano para controlar o aumento da pressão no olho. Os investigadores consideram a injeção como um procedimento normal que pode fazer parte das consultas médicas regulares.
O tratamento, que pode vir a tornar-se a primeira terapia não medicamentosa, não cirúrgica e de longa duração para o glaucoma, usa a injeção de um material natural e biodegradável para criar um hidrogel viscoso – uma estrutura de polímero reticulado que absorve água – que abre um caminho alternativo para o excesso do fluido sair do olho.
“O Santo Graal para o glaucoma é uma maneira eficiente de diminuir a pressão que não depende da colocação pelo paciente de colírios nos olhos todos os dias, não requer uma cirurgia complicada, tem efeitos colaterais mínimos, e tem um bom perfil de segurança”, referiu Ross Ethier, Universidade Emory. “Estou animado com esta técnica, que pode ser uma reviravolta no tratamento do glaucoma.”
O estudo, apoiado pelo National Eye Institute e pela Georgia Research Alliance, foi publicado no dia 7 de dezembro na revista “Advanced Science”. A investigação foi realizada em animais e mostrou que a nova abordagem baixou significativamente a pressão intraocular.
Em todo o mundo cerca de 75 milhões de pessoas sofrem de glaucoma, e é a principal causa de cegueira irreversível. Os danos no glaucoma são causados por excesso de pressão no olho que causa lesão no nervo ótico. Os tratamentos atuais tentam reduzir essa pressão intraocular por meio da aplicação diária de colírios ou por meio de cirurgia ou implantação de dispositivos médicos, mas esses tratamentos geralmente não têm sucesso.
Para fornecer uma alternativa, Ross Ethier juntou-se a Mark Prausnitz, School of Chemical and Biomolecular Engineering da Georgia Tech, para usar uma pequena agulha para injetar uma preparação de polímero na parte inferior da superfície do olho, chamado espaço supracoroidal. Dentro do olho, o material cruza-se quimicamente para formar um hidrogel, que mantém aberto um canal no espaço supracoroidal que permite que o humor aquoso de dentro do olho saia para fora do olho através da via alternativa.
Normalmente existem duas vias para o fluido do humor aquoso deixar o olho. O caminho dominante é através de uma estrutura conhecida como malha trabecular, que está localizada na parte frontal do olho. O caminho menor é através do espaço supracoroidal, que normalmente tem apenas uma lacuna muito pequena. No glaucoma, a via dominante está bloqueada, portanto, para diminuir a pressão, os tratamentos são criados para abrir a via inferior o suficiente para permitir que o humor aquoso flua para o exterior.
Nesta investigação, as hélices de hidrogel abrem caminho no espaço supracoroidal. Uma microagulha com menos de um milímetro de comprimento é usada para injetar uma gota (cerca de 50 microlitros) do material precursor de hidrogel. Essa estrutura de gel pode manter a via no espaço supracoroidal aberta durante alguns meses.
“Nós injetamos um material viscoso e mantemo-lo no local da injeção, na interface entre a parte de trás e a frente do olho, onde começa o espaço supracoroidal”, referiu Mark Prausnitz. “Ao abrir este espaço, tocamos um caminho que de outra forma não seria utilizado de forma eficiente para remover o líquido do olho.”
A injeção pode levar apenas alguns minutos e deve envolver um médico a aplicar uma pequena injeção logo por debaixo da superfície do olho, em combinação com anestesia e limpeza do local da injeção. No estudo, os investigadores, incluindo o oftalmologista J. Jeremy Chae, não observaram inflamação significativa resultante do procedimento.
A redução da pressão foi sustentada durante quatro meses. Os investigadores estão agora a trabalhar para estender esse tempo modificando o material do polímero – ácido hialurónico – com o objetivo de manter sustentável a redução da pressão durante pelo menos seis meses.
“Se pudermos fazer um tratamento duas vezes ao ano, não interromperemos o atual processo clínico”, referiu Mark Prausnitz. “Acreditamos que a injeção pode ser feita como um procedimento de consulta durante os exames de rotina que os pacientes já estão a fazer. Os pacientes podem não precisar de fazer mais nada para tratar o glaucoma até à próxima consulta.”
Além de estender o tempo entre os tratamentos, os investigadores vão precisar de demonstrar que a injeção pode ser repetida sem prejudicar o olho. O procedimento também terá que ser testado em vários animais antes de passar para testes em humanos.
“A ideia de ter um tratamento com a duração de seis meses seria particularmente útil para os pacientes em que o acesso aos cuidados de saúde não é o ideal”, referiu Ross Ethier. “Ter uma terapia de ação prolongada teria uma vantagem adicional durante épocas de pandemia ou outras interrupções, quando o acesso aos cuidados de saúde é mais difícil”.