A tuberculose (TB) é uma infeção mortal que ocorre em todas as partes do mundo e o tratamento padrão, que dura há mais de 40 anos, assenta num regime multimedicamentos de seis meses. Os pacientes podem não concluir esse regime devido a ter uma grande duração e assim, tornar mais provável o desenvolvimento de resistência ao tratamento.
Estudo de uma equipa de investigadores liderada por uma investigadora da Medical University of South Carolina (MUSC) concluiu que um regime de tratamento de quatro meses com o antibiótico rifapentina é eficaz no tratamento da tuberculose. As conclusões do estudo foram publicadas na edição de 6 de maio do New England Journal of Medicine.
Em 2019, o número de mortes em todo o mundo pela tuberculose foi de 1,4 milhão de pessoas. A tuberculose é causada por uma infeção bacteriana que ataca os pulmões das pessoas. A Organização Mundial da Saúde estima que um quarto da população mundial tem infeção por TB e esses indivíduos terão um risco vitalício de 5% a 10% de desenvolver TB efetiva. Os indivíduos com sistema imunológico comprometido, como pessoas com VIH, têm um risco muito maior de desenvolver TB.
“A tuberculose geralmente afeta adultos no início de suas vidas”, disse Susan Dorman, professora da Faculdade de Medicina do MUSC e primeira autora do estudo. A investigadora acrescentou: “Esta doença e o tratamento podem perturbar vidas e colocar famílias na pobreza”.
Embora a tuberculose seja curável e evitável, a tuberculose multirresistente continua a ser uma das principais ameaças à saúde pública. A resistência ocorre quando as bactérias desenvolvem a capacidade de derrotar os medicamentos destinados a matá-las. Quando uma bactéria na colónia descobre como derrotar um medicamento específico, ela pode comunicar rapidamente essas instruções às bactérias vizinhas, semelhante a enviar uma mensagem de texto em grupo.
O tratamento atual para as pessoas com infeção tuberculosa ativa é um regime multifármaco ao longo de seis a nove meses. Como os diferentes antibióticos usam mecanismos diferentes para derrotar as bactérias, a tuberculose é tratada com vários antibióticos ao mesmo tempo para diminuir as hipóteses das bactérias tornarem-se resistentes aos medicamentos.
“A adesão do paciente ao regime exigente de medicamentos tem sido um grande problema em todo o mundo, e é o principal fator que deu origem às formas de tuberculose muito resistentes aos medicamentos, que são muito mais tóxicas, caras e demoradas para tratar”, referiu a investigadora.
A redução do tempo necessário para o tratamento da tuberculose tem sido uma importante meta de saúde pública. Quanto mais pacientes completam os seus tratamentos à tuberculose, menos provável é que as bactérias escapem com conhecimento para derrotar um fármaco específico e continuar a enviarem mensagens para outras bactérias.
“Encurtar o tempo de tratamento melhora a adesão, diminui os custos dos programas e diminui os encargos sobre os próprios pacientes”, explicou a investigadora.
A equipa de investigação concentrou o estudo num fármaco chamado rifapentina. Este medicamento é semelhante ao antibiótico usado no protocolo atual de tratamento da TB, mas permanece eficaz no corpo por longos períodos de tempo.
Ao longo de 15 anos, a equipa de investigadores realizou estudos clínicos, pré-clínicos e de fase inicial para determinar a melhor forma de usar a rifapentina. No estudo determinaram a dosagem a ser administrada, a frequência com que a rifapentina pode ser administrada e quais outros antibióticos que devem ser combinados com este fármaco.
Os pacientes com infeções ativas de TB foram tratados com um dos dois regimes à base de rifapentina de quatro meses ou com o regime padrão de seis meses. Os pacientes foram acompanhados durante 12 meses. Os resultados do estudo revelaram que o regime de quatro meses com rifapentina e com outro antibiótico, a moxifloxacina, funcionou tão bem quanto o regime padrão de seis meses. O novo regime rifapentina provou ser seguro e bem tolerado pelos pacientes.
Os resultados do grande estudo de fase III enfatizam a importância da participação e colaboração globais. “A nossa intenção era inscrever participantes que refletissem a população mundial geral de pessoas com tuberculose para que os nossos resultados fossem generalizáveis”, disse Susan Dorman.
No estudo foram incluídos menores de 18 anos, juntamente com pessoas com VIH. As Pessoas a viver com VIH têm 18 vezes mais probabilidade de desenvolver TB ativa em comparação com pessoas sem VIH. A combinação de VIH e TB é particularmente letal porque o vírus VIH ataca as principais células do sistema imunológico que ajudam a coordenar a defesa contra a bactéria da tuberculose. É importante ressaltar que os pacientes com VIH eliminaram sua TB tão bem como os que não possuem VIH.
Para Susan Dorman “este trabalho representa realmente um marco no tratamento da tuberculose, e alguns dos trabalhos científicos incluídos neste ensaio irão ajudar-nos e a outros a entender como melhorar ainda mais o tratamento da tuberculose”, pois “quatro meses ainda é muito tempo.”