A doença da malária se não for tratada pode passar de leve a grave e assim a potencialmente fatal em apenas 24 horas. Investigadores da University of British Columbia, no Canada, desenvolveram um método para avaliar, de forma rápida, a progressão da doença infeciosa transmitida pelo mosquito, que continua a ser o líder dos assassinos nos países mais pobres.
A malária causa estragos no corpo devido a quantidades excessivas de heme tóxico, um componente não proteico da hemoglobina, que se acumula na corrente sanguínea. Entre outros fatores, o heme induz o stress oxidativo nos glóbulos vermelhos, levando à sua rigidez, destruição e posterior saída da circulação sanguínea, uma condição que é conhecida como anemia hemolítica.
Num estudo, agora publicado na revista ‘Integrative Biology’, investigadores da University of British Columbia indicam que descobriram que os glóbulos vermelhos tornam-se cada vez mais rígidos devido à concentração de heme oxidado no sangue.
Dado que o heme oxidado é difícil de medir diretamente, uma vez que se insere nas membranas celulares, os investigadores consideram que a monitorização da deformação dos glóbulos vermelhos pode servir como um marcador alternativo confiável do stress oxidativo induzido pelo heme oxidado e logo da progressão da malária.
Kerryn Matthews, investigador da University of British Columbia e autor principal do estudo, referiu que a medição da deformação de glóbulos vermelhos, por um “método mecânico, é adequada para uso em países com recursos pobres, onde ocorre a grande maioria da transmissão da malária”.
O investigador acrescentou que “outros métodos de análise da gravidade da malária exigem treino ou equipamento caro ou produtos químicos que não estão facilmente disponíveis em países em desenvolvimento”.
Para medir a deformação dos glóbulos vermelhos de forma rápida e sensível, os investigadores da University of British Columbia desenvolveram um “êmbolo de fluido multiplex”, ou seja, um dispositivo simples microfluídico que consiste numa disposição, em paralelo, de 34 canais de tamanho microfónico em forma de embrião, através dos quais podem ser aplicadas simultaneamente pressões uniformes e cuidadosamente controladas.
Quando o êmbolo é totalmente carregado com sangue, cada um dos glóbulos vermelhos encaixa num canal, e aplicando-se pressão até que os glóbulos vermelhos sejam comprimidos, ou seja, se um glóbulo vermelho for muito rígido é possível determinar ao mesmo tempo a rigidez ou tensões corticais e construir um perfil de deformação dos glóbulos vermelhos em minutos.
Kerryn Matthews esclareceu que “o dispositivo pode ser facilmente integrado com um microscópio convencional acoplado a uma camara digital”, sendo que “o software que acompanha o sistema, e que é simples de usar, faz todas as análises e regista as pressões”.
O sistema para além de indicar o estado de uma infeção por malária, a informação da deformação dos glóbulos vermelhos pode ser importante para o desenvolvimento de medicamentos antimaláricos, bem como no esclarecimento do mecanismo pelo qual os glóbulos vermelhos são isolados da circulação e destruídos.
Os glóbulos vermelhos saudáveis são extremamente flexíveis, capazes de caberem em espaços muito estreitos, ou seja, em vasos sanguíneos muito finos ou em canais entre células, que são apenas frações do tamanho original. Ao torná-los menos deformáveis, os parasitas da malária prejudicam o fluxo sanguíneo e, finalmente, causam insuficiência orgânica e possivelmente a morte.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a malária matou cerca de 429 mil pessoas e causou aproximadamente 212 milhões de episódios clínicos em 2015. A malária afeta principalmente crianças e mulheres grávidas em países tropicais e subtropicais pobres.