Pacientes com cicatrizes pulmonares graves, alguns dos quais apresentavam sintomas reumatológicos – erupções cutâneas, artrite, dores musculares – que muitas vezes acompanham a doença pulmonar intersticial, foram constatados pelo investigador Dennis McGonagle, reumatologista na Universidade de Leeds, no Reino Unido.
Em face da situação o reumatologista pretendeu saber se havia uma conexão entre dermatomiosite positiva para MDA5 (doença autoimune muito rara chamada MDA5 – dermatomiosite associada a autoanticorpos) em pacientes que podem ou não ter contraído COVID-19, e começou uma colaboração internacional com Pradipta Ghosh, da faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, EUA.
O estudo que começou com a deteção de autoanticorpos contra MDA5 pelo laboratório McGonagle – uma enzima sensível ao RNA cujas funções incluem a deteção de COVID-19 e outros vírus de RNA. Um total de 25 pacientes do grupo de 60 desenvolveram cicatrizes pulmonares, também conhecidas como doença pulmonar intersticial.
Pradipta Ghosh observou que as cicatrizes pulmonares eram más o suficiente para causar a morte de oito pessoas do grupo devido à fibrose progressiva. Pradipta Ghosh disse que existem perfis clínicos estabelecidos de doenças autoimunes MDA5.
“Mas isto foi diferente”, disse Ghosh. “Foi diferente no comportamento e na taxa de progressão – e no número de mortes.”
Ghosh e a equipa da Universidade da Califórnia em San Diego exploraram os dados de Dennis McGonagle com o BoNE – o Boolean Network Explore é uma poderosa estrutura computacional que opera big data. Os investigadores da Universidade da Califórnia em San Diego descobriram que os pacientes que apresentaram o nível mais alto de resposta ao MDA5 também apresentaram níveis elevados de interleucina-15.
“A interleucina-15 é uma citocina que pode causar dois tipos principais de células imunológicas”, explicou Ghosh. “Isso pode levar as células à beira da exaustão e criar um fenótipo imunológico que é muitas vezes visto como uma marca registada da doença pulmonar intersticial progressiva ou fibrose do pulmão”.
O BoNE permitiu à equipa estabelecer a causa da síndrome de Yorkshire – e identificar um polimorfismo específico de nucleotídeo único que é protetor. Por direito de descoberta, o grupo conseguiu dar um nome à condição: MDA5-autoimunidade e Pneumonite Intersticial Contemporânea com COVID-19. É MIP-C, abreviadamente, “pronuncia-se ‘mipsy’”, disse Ghosh, acrescentando que o nome foi cunhado para fazer uma conexão com MIS-C, uma condição separada de crianças relacionada à COVID.
Ghosh disse que é extremamente improvável que o MIP-C esteja confinado ao Reino Unido. Relatos de sintomas de MIP-C vêm de todo o mundo. Ghosh disse que espera que a identificação da interleucina-15 pela equipa como uma ligação causal impulsione a investigação sobre o tratamento.
Os resultados do estudo foram publicados na eBioMedicine, uma revista publicada pela The Lancet, dão conta de uma síndrome relacionada com à COVID e anteriormente negligenciada.