Cientistas de institutos na Alemanha, Suíça e Suécia desenvolveram tecidos com sensores para monitorar a saúde e a atividade das pessoas, como mudanças na alimentação e fisiológicas. A grande inovação é que os sensores não são fixos aos tecidos, mas são o próprio tecido.
O projeto ‘SimpleSkin’, em que estão envolvidos os cientistas, tem como objetivo “mover o tecido inteligente de um nicho para uma indústria importante e com o potencial de revolucionar o nosso vestuário”, referiu Jingyuan Cheng, líder do Wearable Computing Lab, na Universidade de Braunschweig, Alemanha.
Tudo começa com um têxtil sintético sensível feito de fibras de polímero entrelaçadas com uma liga de prata e cobre. O tecido é cortado e costurado como qualquer normal confeção e depois conectado a um sistema eletrónico, constituindo centenas a milhares de sensores.
Jingyuan Cheng referiu que “a ideia é separar a produção têxtil sensível, a fabricação de vestuário, a plataforma de hardware e a implementação de software por abstrações e interfaces bem definidas”, e acrescentou: “Nós criamos uma camada de abstração, um tipo de sistema operativo para roupas, que permite que as pessoas desenvolvam aplicativos (apps) para têxteis inteligentes, e usá-los como sensores locais num smartphone”.
O sistema operativo de vestuário é executado sobre Android. Uma biblioteca open-source baseada em Python também foi desenvolvida para potenciais desenvolvedores de aplicativos para processar os dados do sensor em quase todas as plataformas comuns.
A tecnologia não se limita apenas à roupa, embora os investigadores tenham desenvolvido uma camisola desportiva inteligente para medir o desempenho de um atleta. A cobertura de superfícies como cadeiras e pisos com têxteis inteligentes pode medir as atividades diárias da vida, como andar de pé, a postura quando sentado ou quando conduz.
A equipa de investigadores está agora a monitorar a alimentação com uma toalha de mesa inteligente, bem como o nível de atividade e a taxa de respiração usando um assento de carro inteligente, capaz de alertar o motorista para o momento de fazer uma pausa, e o comportamento de crianças com um brinquedo de peluche. “Nós mostramos que a produção de têxteis inteligentes e o desenvolvimento de muitas aplicações é possível. E o mercado pode ser enorme”, referiu Jingyuan Cheng.
Mas esta não é a primeira vez que computadores portáteis ou outra tecnologia foram apelidados de Next Big Thing. E o que fará com que os consumidores desejem comprar roupas inteligentes num futuro Natal ou na passagem de ano?
“Atualmente uma nova empresa é uma empresa de tecnologia ou, melhor, uma empresa de dados. Isto é particularmente verdade no mercado de vestuário inteligente”, referiu Cristina Bonaccurso, cofundadora e CXO da RAIOT, uma startup italiana que desenvolve têxteis inteligentes e roupa de moda. A responsável da startup referiu que o verdadeiro desafio é a criação de produtos atraentes e de marca persistente, capazes de satisfazer os consumidores.
“Vivemos na economia da experiência e as marcas são definidas pela forma como os consumidores as experimentam. Acreditamos que a única maneira de aumentar a atividade e aumentar a escala ao longo do tempo é concentrando-se na experiência dos utilizadores”, referiu a responsável da RAIOT.
Outros acreditam que a emergente ‘Internet das coisas’ (IoT, do inglês) permitirá uma melhor tecnologia não invasiva, como é o caso de Andrea Tomassini, fundadora e CTO da startup Wearableitalia, de tecnologia e moda. “A tecnologia e a indústria da moda podem melhorar a qualidade de vida, e com a tecnologia IoT oferecer liberdade, segurança e melhoria na saúde. É uma combinação híbrida que pode combinar o passado e o futuro. As pessoas são inteligentes, assim também a moda pode ser inteligente”.
O projeto ‘SimpleSkin’, que decorreu de 2013 a 2016, apoiado pela linha Tecnologia Emergente e Futuro do programa Horizonte 2020, levantou algumas questões interessantes sobre segurança individual, como saber como as roupas inteligentes se encaixam no futuro na sociedade.
Os investigadores perceberam que uma cadeira coberta com tecido inteligente pode dizer quem está sentado; um brinquedo inteligente pode dizer quem está a brincar com ele. “Eu percebi que a forma do corpo e os hábitos, que são únicos na pessoa, fornecem a informação de identidade diretamente através dos dados”, referiu o líder do Wearable Computing Lab.
Para o cientista “esta é uma questão que vai muito além da própria tecnologia, mas que talvez tenhamos que enfrentar em breve. As ideias e a participação das pessoas ajudarão a resolvê-lo.”