Na 6ª edição do MAPS – Mostra de Artes Performativas de Setúbal, de 4 a 13 de julho, no espaço A Gráfica – Centro de Criação Artística e na Baixa Setubalense, convocamos um movimento revolucionário, visionário, que vem da arte e de testemunhos plurais de artistas que abrem espaço para voltarmos a ponderar a possibilidade de fazer desta sociedade um lugar de partilha, de atenção, de escuta da diferença, de histórias e narrativas silenciadas, apagadas, abafadas. Seguimos atentos, sensíveis, amorosos. Seguimos com um programa que afirma LIBERDADE, de ser, de viver, de amar, de cuidar, de expressar, guiados por artistas como Beatriz Valentim, Bruno Senune, Huessos del Niño, João Fortuna, Jo Castro, Rui Catalão, Luís Mucauro, Catarina Vieira, Cláudia Gaiolas, Inês Oliveira, Carlota Oliveira, Pedro Banza, Leonardo Silva, Celina da Piedade, Grupo Coral Alentejano os amigos dos Sadinos, Raquel André, Henrique Furtado Vieira, Lígia Soares, André Neves, Diogo Costa, entre outros.
Uma Mostra de Artes Performativas, em nome da LIBERDADE, na reafirmação de Setúbal como Cidade da Criação Artística, como momento de expressão dessa liberdade de ser e de criar. Inclui-se na Mostra, a apresentação das três peças vencedoras da Bolsa de Criação Artística de Setúbal 2023: “Vanishing” de Beatriz Valentim e Bruno Senune, dia 4 de julho, às 21h, A Gráfica; “Lugar X” de Catarina Vieira, dia 6 de julho, A Gráfica; “Abalada do Cante” de Pedro Banza. No dia 11 de julho, 21h, A Gráfica.
Na 6ª edição, a Mostra de Artes Performativas de Setúbal convoca artistas, temáticas, inquietações, memórias, testemunhos por via de objetos performativos inovadores e experimentais, entre o teatro documental, a dança, a música, a performance, a instalação e na intersecção entre todas estas e outras linguagens artísticas, sensibilidades, identidades e culturas. Abordagens experimentais na arte para desafiar, de forma também experimental, os públicos. Para ativar e intensificar os sentidos, a memória, para despertar e preservar o que permanece vivo em nós dessa grande conquista, que é a Liberdade, no ano em que celebramos meio século da Revolução de 25 de Abril. De 4 a 13 de julho, o MAPS abala Setúbal com espetáculos, conversas, instalações artísticas e performances, estendendo – como tem sido habitual – a sua vivência para a ocupação do espaço público, na baixa de Setúbal (como é o caso de “Estendal da Liberdade”, que na manhã de sábado, dia 6 de julho, mostra arte nas montras, lojas, travessas e largos).
De 4 a 6 de julho
Na efemeridade da dança ecoa a efemeridade dos direitos adquiridos. Na abertura deste MAPS, dois bailarinos-criadores de referência do panorama nacional, Bruno Senune e Beatriz Valentim, articulam uma dança sensível, sustentada na fragilidade – material, poética e filosófica (e também musical) –, gerada a partir de um trabalho de pesquisa em que cada um criou um solo para o outro.
“Vanishing” no dia 4 de julho, às 21h00, A Gráfica é uma coreografia de desaparecimento onde se balançam os corpos e os gestos entre presenças e ausências, dando substância à essência da dança que é a sua transitoriedade, estado de movimento perpétuo, no tempo e no espaço. O próprio ato de inscrição de um gesto, afirma a sua morte. No instante aparente presente em que ocorre, em que age, dissolve-se e torna-se passado. Um rasto, ruína, memória de algo que já passou…
Nessa primeira noite, o programa completa-se por entre os “Movimentos Pendulares” no dia 4, 22h30, A Gráfica, instalação musical, que reúne um músico (Huessos del Niño) e o artista visual (João Fortuna). Uma proposta escultórica e sonora que pensa criticamente qualquer visão mais redutora de obra de arte enquanto matéria fixa e imutável, neste caso tridimensional. “Movimentos Pendulares” traz novos olhares, vivências e significados à experiência criativa ao se constituir enquanto projecto que se ativa na relação com seis duplas distintas de artistas. Nesta edição do MAPS, uma segunda dupla – André Neves e Diogo Costa – ativa a instalação visual e sonora, na performance de encerramento da Mostra, a 13 de julho, às 23h, n’A Gráfica.
Travessias. Em transição. Mutação constante. Nada permanece fixo. Aproximamo-nos, com Jo Castro, de um lugar que convida a “transcender a materialidade individual e corpórea, desfazendo a língua(gem) colonizadora e binária, propondo discursos da língua a partir do seu gesto, ampliando as suas múltiplas possibilidades num percurso artístico e de vida sem fim”, como escreve Jo. Estamos em “LABIA” de Jo Castro (5 de julho, 21h, A Gráfica), entre a dança, a instalação e a performance, espaço de transgressão, de resignificação de convenções e preconceitos, compondo uma ética e estética com raízes no passado e no futuro.
Um lugar de mediação de intimidades, que parte dessa primeira intimidade que é a da interrogação própria de Jo Castro, de uma identidade Queer e de um trabalho fundado na sua autobiografia, de partilha de vulnerabilidades e afetos, que atravessa muitas distâncias e tempos, “abrindo fissuras em paradigmas estabelecidos”. Obra de luto e luta de uma sociedade patriarcal que abala convenções também ao nível do que entendemos por arte.
De modo diverso, o solo “Medo a Caminho” de Rui Catalão, com Luís Mucauro (5 de julho, 22h, A Gráfica – Centro de Criação Artística) situa-se no teatro/dança documental em que o intérprete, Luís Mucauro, convoca e partilha, através de um trabalho coreográfico e de narrativa do corpo, a história da sua família, por onde passa a guerra, o colonialismo, a diáspora africana (a família partiu de Moçambique para Portugal). Esta peça representa uma iniciativa inédita da Câmara de Setúbal ao ser programada pelo CEC – Coletivo de Espetadores em Conversa (nova designação do projecto “Influencers da Cultura”, com mediação de Margarida Mata).
Catarina Vieira trabalha em territórios de intervalo do quotidiano, ou de descuido, esquecimento, abandono, em muitas das suas obras. No caso de “Lugar X” (6 de julho, A Gráfica) parte precisamente da relação com o que chama “lugares do comum”, como escreve a artista, “espaços que estão ainda, aparentemente, vazios de função capitalizável”. É através da pesquisa da relação com esses lugares, que por terem sido abandonados e se tenham convertido em ruína, procure os gestos, as práticas, os encontros e os usos que podem ali nascer, porque são lugares libertos de uma exploração mercantilista. Em “Lugar X” (acontece em duas sessões, das 15h30 às 16h30; das 18h às 19h), Catarina Vieira interroga “Como se cria corpo das ruínas? Como somos corpo de restos, de fantasmas, de dívidas e de assombros?”
Catarina Eufémia também é aqui lembrada. É a mais recente figura fundamental da História portuguesa no feminino que consta da coleção do “Ciclo Antiprincesas” de Cláudia Gaiolas. E não poderia vir mais a propósito. Também contribui para a discussão sobre o que faz de alguém um herói. E também onde estão as histórias sobre as mulheres da História. Catarina Eufémia fez parte da resistência ao Estado Novo, na sua vida rural passada em Beja. Foi assassinada com três tiros e tornou-se um ícone da resistência a Salazar no Alentejo. E por entre a luta, o trabalho rural, a maternidade e a morte precoce, também havia alegria e muita cantiga, que Claudia Gaiolas traz consigo neste reencontro com esta figura extraordinária e que já inspirou muitos escritores, poetas, músicos, encenadores. “Ciclo Antiprincesas – Catarina Eufémia” é apresentado dia 6 de Julho, às 17h, no Jardim do Quebedo.
De 11 a13 de julho
Expande-se a experiência artística à comunidade por diversas iniciativas, uma delas é o trabalho “Ficar no Papel”, dia 11 de julho, 18h00, A Gráfica, que já fez parte da programação do MAPS de 2023. Este é um momento de partilha de um projeto de duração no território mais vasta, desenvolvido pelas coreógrafas Inês Oliveira e Carlota Oliveira com adolescentes, com ou sem experiência artística. Encontro, trabalho, aprendizagem, desenvolvimento criativo, dramaturgia… a partir da dança, com todas estas ferramentas, criam uma obra que aborda temáticas e questões fundamentais para os participantes. Uma pesquisa sobre memória, identidade e urgências.
Com “Abalada do Cante”, no dia 11 de julho, 21h00, A Gráfica, entramos no território do concerto/documentário, de encontro entre a música, a pesquisa documental, a criação artística multidisciplinar. Aparentemente é de artistas setubalenses, sobre uma história de família de Setúbal, e o trânsito que ao longo de décadas se deu entre o Alentejo e esta cidade sadina. Na realidade, “Abalada do Cante” é sobre um país, as relações (e deslocações) entre a vida rural e a cidade, o proibido, o passar do tempo, a transmissão intergeracional, e a perspetiva feminina. A pesquisa e recolha de história oral focou-se nas vidas de três gerações de mulheres da mesma família, com origens alentejanas a viver em Setúbal. A criação musical é de Noitibó (Pedro Banza) e o uso em particular da Viola Campaniça (instrumento proibido pelo Estado Novo) cruzam-se com a investigação e recolha oral das histórias (a cargo de Vanessa Iglésias Amorim e Leonardo Silva), contando ainda com a colaboração de Celina da Piedade e do Grupo Coral Alentejano os amigos dos Sadinos, entre outros.
Raquel André apresenta “Belonging | E di | Pertenencia | Zugehörigkeit | Pertença | 絆” no dia 12 de julho, sessões às 19h30 e às 22h30, A Gráfica, um cine-concerto, no qual a artista prossegue a sua investigação entre o teatro, a performance e a documentação, que parte muito do encontro íntimo com outras pessoas e outras realidades, gerando através delas um olhar crítico, amoroso ou revelador sobre aspetos do mundo em que vivemos. Desta vez, Raquel André aprofundou a problemática do sentimento de pertença, ou a falta dele nos tempos que vivemos. Encontrou pessoas da Guiné-Bissau, do México, do Brasil, de Portugal, do Japão, da Alemanha, e entre elas partilharam uma pergunta difícil: A quem, a quê ou aonde sentes que pertences?
Henrique Furtado Vieira e Lígia Soares, dois artistas autores em nome próprio, juntaram-se pela primeira vez como cocriadores e intérpretes de uma peça, que intitularam de “Morrer pelos passarinhos”, no dia 13 de Julho, sessões às 19h00 e às 21h00. Duas identidades com perfis muito distintivos que, nesta proposta, cruzam uma perspetiva histórica associada a momentos de crise e o surgimento de vanguardas artísticas. Uma colaboração que, segundo os artistas, “visa encontrar formas de partilhar significativamente com o público o fim de um mundo conforme o fomos conhecendo e de lembrar a força de que em coletivo se pode expressar o não sentido, o ser humano dissecado pela desordem do mundo, expresso no seu luto, contrariando a naturalidade com que aceitamos a sua degeneração”.
Programa
- Dança / Performance
- QUI 4 DE JULHO – 21h00
- A Gráfica – Centro de Criação Artística
- M/12 | aprox. 45 m
VANISHING de Bruno Senune e Beatriz Valentim | Bolsa de Criação Artística de Setúbal 2023
- Concerto, instalação artística
- QUI 4 DE JULHO – 22h30
- A Gráfica – Centro de Criação Artística
- M/12 | aprox. 45 m
MOVIMENTOS PENDULARES com João Fortuna e Huessos del Niño
- Instalação/Performance
- SEX 5 DE JULHO – 21h00
- A Gráfica – Centro de Criação Artística
- M/12 | aprox. 50 m
LABIA de Jo Castro
- Performance
- SEX 5 DE JULHO, 22H00
- A Gráfica – Centro de Criação Artística
- M/8 | 45 m
MEDO A CAMINHO de Rui Catalão, solo com Luís Mucauro
Programado pelo CEC – Coletivo de espetadores em conversa (nova designação do projeto Influencers da Cultura), mediação de Margarida Mata.
Instalação artística e performances do Miradouro à Baixa
- SÁB, 6 DE JULHO – 10h30 às 12h30
- DO MIRADOURO ATÉ À BAIXA
“ESTENDAL DA LIBERDADE”
- Raquel Belchior com o projeto Comunitário das III Jornadas de Histórias de Mar/Sesimbra – “HISTÓRIAS DE MAR” – Miradouro São Sebastião
- Vozes da União – “Cantigas sem Rede” – Miradouro São Sebastião até à Baixa
- Gracieth Evalina – “CONEXÕES” – Travessa do Postigo do Cais
- Inês Pucarinho – “VOLUMETRIAS DE ALTERARIDADE” – Loja Ana Sousa, fim da Rua Arronches Junqueiro
LARGO DA MISERICÓRDIA
- Catarina Mota – “MA(O)ESTRINA – MARGARETTE “ na rua
- Vozes da União – Vozes da União – “Cantigas sem Rede” na rua
TRAVESSA DA MISERICÓRDIA
- Associação convidada: Grupo “Conversas estranhas à séria…”CAARPD da APPACDM de Setúbal – “ECOS DE LIBERDADE NUMA QUARTA FEIRA QUALQUER” – Loja See My Style
RUA ÁLVARO CASTELÕES
- Gracieth Evalina – “UM POEMA CORPO” – Loja Duo Colori
- Grupo Cru – “SAÍMOS À RUA DE SALDOS – LIBERDADE 50%” – Loja Bolas e Riscas
Gonçalo Freire – “SER LIBERDADE” – Loja Woman
RUA DE SÃO CRISTOVÃO
- Luís Santiago – “A VIAGEM” – Perto da Loja Nice Things e Croissant da minha rua
RUA ÁLVARO CARTELÕES
- Coletivo Pele ponto final – “PÕES-TE A JEITO!” – Loja Duo Colori
- Nylon Princeso – “OUÇO UM AMOR QUE ME NASCE PELOS PÉS” – antiga Loja Pollux
RUA ÁLVARO CARTELÕES
- António Valente – “NO PROVADOR” – Antiga Loja Happy
- Helena Tomás – “ECOS DA REVOLUÇÃO: ROSTOS E PALAVRAS 50 ANOS DEPOIS” (ao lado da Gelataria)
LARGO DA RIBEIRA VELHA
- Ustad Fazel Sapand – “AZAADÍ” (Liberdade) – Largo da Ribeira Velha
PRAÇA DO BOCAGE
- Ervilha Maravilha -“ESTENDER A LIBERDADE” – Atelier de pintura para todas as idades – Praça do Bocage junto à Loja Zeta
- Vozes da União – “Cantigas sem Rede” – do Largo da Misericórdia passa pela rua Antão Girão até à Praça do Bocage
- Gracieth Evalina – “CELEBRAR” – do Largo da Misericórdia passa pela rua Álvaro Cartelões, rua do Romeu e termina na Praça do Bocage.
Performance
SÁB 6 DE JULHO – 15h30 às 16h30 e 18h00 às 19h00
- A Gráfica – Centro de Criação Artística
- LUGAR X de Catarina Vieira | Bolsa de Criação Artística Setúbal 2023
- 15h30 às 16h30 – sessão I
- 18h00 às 19h00 -Sessão II
Teatro
- SAB, 6 DE JULHO – 17h00
- Jardim do Quebedo
- M/6 | aprox. 40 m
CICLO ANTIPRINCESAS – CATARINA EUFÉMIA de Claúdia Gaiolas
Performance
QUI 11 DE JULHO – 18h00
- A Gráfica – Centro de Criação Artística
- M/12 | aprox. 45 m
FICAR NO PAPEL de Inês e Carlota Oliveira
Concerto/Documentário
- SÁB 11 DE JULHO – 21h00
- A Gráfica – Centro de Criação Artística
- M/6 | aprox. 60 m
ABALADA DO CANTE de Pedro Banza | Bolsa de Criação Artística de Setúbal 2023
Performance Cine-Concerto
- SEX 12 DE JULHO – 19h30 Sessão I e 22h30 Sessão II
- A Gráfica – Centro de Criação Artística
- M/14 | aprox. 90 m
BELONGING | E DI | PERTENENCIA | ZUGEHÖRIGKEIT | PERTENÇA | 絆 de Raquel André
Performance
- SEX 13 DE JULHO – 19h00 às 20h00 Sessão I e 21h00 às 22h30 Sessão II A Gráfica – Centro de Criação Artística
- M/16 | Aprox. 60 m
MORRER PELOS PASSARINHOS de Henrique Furtado Vieira e Lígia Soares
Concerto e Instalação Artística
- QUI 13 DE JULHO – 23h00
- A Gráfica – Centro de Criação Artística
- M/12 | aprox. 45 m
MOVIMENTOS PENDULARES com André Neves e Diogo Costa
CONVERSAS PÓS ESPETÁCULO NA GRÁFICA com mediação de Claúdia Galhós
As conversas pós espetáculo na Gráfica, mediadas por Cláudia Galhós, são um componente essencial da programação deste espaço cultural e que já fazem parte da natureza da MAPS.