António José da Silva (O Judeu) conferiu dignidade à arte do teatro de marionetas, tendo sido o único autor em Portugal que escreveu exclusivamente para bonifrates. Por isso mesmo, a Jangada Teatro – que cumpre 20 anos de atividade – decidiu incluí-lo no seu repertório de grandes clássicos da literatura com a estreia de Alecrim vs Manjerona.
Trata-se de uma reescrita contemporânea de “As Guerras do Alecrim e Manjerona”, a “ópera joco-séria” apresentada em 1737. O espetáculo – integrado na programação do Festival Internacional de Marionetas do Porto (FIMP) – tem direção de Ana Saltão e Rui Oliveira e estreia-se a 17 de outubro, no Mosteiro de São Bento da Vitória.
“Farsante de génio”, António José da Silva foi um autor-cidadão que “feriu sarcasticamente” os valores da sociedade setecentista, oferecendo-nos personagens ridículas e divertidas, movidas por intrigas e disfarces. O autor “escreveu para a marioneta, tendo em atenção as particularidades desta; substituiu a prosa pelo verso (…) e introduziu a música operática”, pelo que, a Jangada Teatro quer “continuar o legado de António José da Silva, colocando neste jogo, lado a lado, de igual para igual, ator e marioneta”.
Em Alecrim vs Manjerona, a companhia adapta o património intemporal d’O Judeu ao universo dos reality shows que enxameiam os dias televisivos, lugares onde traficamos ilusões e realidades. No espetáculo, cada personagem tem como propósito enganar os outros concorrentes para atingir os seus objetivos e “ganhar o jogo”, numa sucessão de situações estabelecidas por uma todo-poderosa Voz, que vai impondo desafios cada vez mais absurdos. Um teatro corrosivo e artificioso, de onde nos espreita a “vida como ela é”.
Sessões Descontraídas e em Língua Gestual Portuguesa
Alecrim vs Manjerona – coproduzido pelo Teatro Nacional São João – tem dramaturgia e adaptação de Jorge Palinhos.
O espetáculo pode ser visto até dia 20 de outubro:
■ na quinta-feira, às 21h00;
■ na sexta-feira, às 15h00 e às 21h00;
■ no sábado, às 19h00;
■ no domingo, às 16h00.
O preço dos bilhetes é de 10 euros.
No dia 19 de outubro, está prevista uma récita com tradução em Língua Gestual Portuguesa e, no último dia, há uma Sessão Descontraída. Promovidas pelo TNSJ desde 2017, estas récitas assumem-se numa postura mais informal, permitindo maior liberdade para movimentações e ruído durante a apresentação do espetáculo.
O FIMP no TNSJ continua com uma estreia nacional
Nos dias 19 e 20 de outubro, o Teatro Carlos Alberto acolhe Alma Nómada, espetáculo que será apresentado pela primeira vez em território nacional. Inspirada pelas paisagens naturais de floresta e de água e pela espiritualidade dos indígenas do Quebeque, Magali Chouinard – responsável pela encenação, curta-metragem, cenografia e interpretação – quis recriar a vertigem do clássico de Júlio Verne, Viagem ao Centro da Terra. Sem o uso de qualquer palavra, Alma Nómada é uma fábula tão abstrata quanto sensorial.