Morreu o arquiteto, político e professor universitário Gonçalo Ribeiro Telles (1922-2020), homem que, através das paisagens, marcou a cultura portuguesa e o nosso património, refere nota da Ministra da Cultura, Graça Fonseca.
O Presidente da Republica, Marcelo Rebelo de Sousa, refere em nota: “Respeitado humana, profissional e politicamente por amigos, colegas e adversários, e pelos portugueses em geral, Gonçalo Ribeiro Telles deixa um legado alcançado por poucos”.
A nota do Presidente indica: “Arquiteto paisagista, durante anos ao serviço da Câmara Municipal de Lisboa, todos conhecem alguns dos seus trabalhos nos espaços públicos e jardins de Lisboa e Área Metropolitana, com destaque para o jardim da Fundação Gulbenkian, com o qual venceu, ex aequo, o Prémio Valmor”.
“Militante político e cívico, lutador pela Liberdade e a Democracia, foi fundador do Centro Nacional de Cultura e integrou vários movimentos da oposição monárquica no antigo regime, tendo sido também um dos fundadores e o mais destacado dirigente do Partido Popular Monárquico, exercendo ainda diversos cargos governativos na área do Ambiente, nomeadamente durante os governos provisórios em 1974 e 1975, mas principalmente nos da Aliança Democrática, da qual foi fundador e deputado”.
Mas foi na intervenção “como ambientalista com responsabilidades públicas”, que “representou desde cedo, e durante décadas, uma consciência crítica esclarecida, contribuindo igualmente para importantes atos legislativos como a Lei De Bases do Ambiente ou a Lei do Impacto Ambiental, combates que prolongou na fundação de um partido ambientalista, o Movimento Partido da Terra”, lembra Marcelo Rebelo de Sousa.
Em nota do Gabinete do Primeiro-Ministro, é indicado que “o Governo decidiu decretar um Dia de Luto Nacional em homenagem ao Professor Gonçalo Ribeiro Telles, a concretizar-se amanhã, 12 de novembro de 2020”.
Para o Primeiro-Ministro “o país tem para com Gonçalo Ribeiro Telles uma enorme dívida de gratidão, quer no lançamento das bases da política ambiental em Portugal, quer no desenvolvimento de uma consciência ecológica. Sendo um homem à frente do seu tempo, as ideias que defendia há 50 anos e eram então consideradas utópicas, são hoje comummente aceites. A sua perda é inestimável. O seu legado, felizmente, perdura, e somos todos seus beneficiários.”
Natural de Lisboa, o longo percurso pessoal e profissional de Gonçalo Ribeiro Telles é, “ao mesmo tempo, sinónimo de serviço público e espelho do impacto vasto que a sua ação teve na sociedade portuguesa, na formação da nossa consciência ecológica e na profunda transformação que as suas ideias inovadoras operaram na forma como olhamos para o ambiente”, lembra Graça Fonseca.
A Ministra da Cultura lembra ainda que “Gonçalo Ribeiro Telles abriu horizontes e ensinou-nos a ler e conhecer o território como um todo, bem como a compreender a importância central da sua preservação. Desta forma, mostrou-nos que a ecologia é, também, uma dimensão fundamental do nosso património cultural. Da sua intervenção pública na área da cultura destaca-se o papel central que teve na fundação do Centro Nacional de Cultura, que comemora este ano 75 anos e do qual era o sócio número um, cuja identidade será sempre inseparável da sua visão idealista e do seu compromisso apaixonado”.
Em comunicado a Câmara Municipal de Lisboa (CML) lamenta o seu desaparecimento de Gonçalo Ribeiro Telles e lembra que “a cidade que o viu nascer é este ano a Capital Verde da Europa. Nesta Lisboa, que todos os dias procura ser mais sustentável e amiga do ambiente, identificam-se alguns dos frutos dos seus trabalhos e utopias”.
“Gonçalo Ribeiro Telles foi um homem à frente do seu tempo, um vanguardista. Pensava o território e buscava o difícil equilíbrio entre a paisagem natural e a paisagem transformada. Preconizava uma cidade mais humanizada”, refere a CML.
A CML refere que “as hortas urbanas, a permeabilidade dos solos, a luta contra a construção em leito de cheia, foram alguns dos incontáveis combates nos quais se envolveu. Sempre na defesa do (bom) ordenamento do território”.
Também são lembrados “os corredores verdes de Monsanto, de Alcântara e o Periférico, obras que agora são uma realidade, foram há muito também sonhadas por Ribeiro Telles. E foi com redobrado empenho que a CML trabalhou para a concretização destes sonhos”.
“Arquiteto paisagista, autor, em parceria com António Viana Barreto, dos Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian, professor universitário, trabalhou também na Câmara Municipal de Lisboa. Deixa um forte legado de pensamento e obra à cidade e ao País”.
O Presidente da CML, Fernando Medina e o Vereador José Sá Fernandes, irão apresentar à vereação camarária a proposta para que o Parque Urbano da Praça de Espanha, que neste momento está em obras e que estará concluído no início do ano que vem, tenha o nome Gonçalo Ribeiro Telles e a cidade, reconhecida, prestar-lhe-á tributo e homenagem.