O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, manifestou pesar pelo falecimento do poeta e tradutor José Bento, e em nota escreve que o escritor “próximo de outros autores da sua geração, nomeadamente numa abertura a temas especulativos ou metafísicos, e ligado a relevantes revistas literárias das décadas de 1950 e 60 (“O Tempo e o Modo”, “Árvore”, “Cassiopeia”, “Cadernos do Meia-Dia”, “Eros”, “Sísifo”), ficou conhecido como o grande tradutor português da poesia espanhola”.
A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, também lamentou a morte do poeta José Bento, que foi várias vezes reconhecido, nomeadamente vencedor da “primeira edição do Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura, em 2006, e um dos mais marcantes tradutores portugueses”.
Natural de Pardilhó, concelho de Estarreja, José Bento de Almeida e Silva Nascimento, começou a colaborar com diversas revistas literárias na década de 50, tendo participado no primeiro número da revista Colóquio Letras em 1971, escreveu Graça Fonseca em nota. Autor de diversos livros de poesia, como Silabário (1992), Alguns Motetos (2003) ou Sítios (2011, vencedor do Prémio D. Dinis em 1992).
José Bento “enriqueceu de forma inestimável a cultura portuguesa com o seu trabalho como tradutor, pelo qual venceu duas vezes o Prémio de Tradução do PEN Clube Português / Associação Portuguesa de Tradutores, dando a conhecer o melhor da literatura em língua espanhola ao público português e fortalecendo significativamente os laços que unem as diversas culturas das línguas ibéricas”.
Para Graça Fonseca “o conhecimento da literatura espanhola em Portugal é indissociável do seu trabalho, acompanhado por gerações de leitores que, através do seu trabalho, conheceram Fernando de Rojas, San Juan de la Cruz, Santa Teresa de Ávila, Garcilaso de la Vega, Francisco de Quevedo, Gustavo Adolfo Bécquer, Juan Ramón Jiménez, Federico García Lorca, Antonio Machado, Luis Cernuda, entre tantos outros”.
Em nota no website da Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa, indica que “embora tenha traduzido o “Quixote”, Ortega y Gasset, Borges ou Javier Marías, é inevitável destacar os seus trabalhos no âmbito da poesia: antologias do «Siglo de Oro» e dos contemporâneos, traduções de Quevedo, Góngora, S. João da Cruz, Jorge Manrique, Santa Teresa de Ávila, Gustavo Adolfo Bécquer, Antonio Machado, Lorca, Cernuda, Aleixandre, Alberti, Gil de Biedma ou Brines, versões que fazia sempre acompanhar de escrupulosos prefácios e notas, e que lhe valeram prémios portugueses e espanhóis, como a Medalla de Oro al Mérito de Bellas Artes ou o Grande Prémio de Tradução Literária APE, além da Ordem do Infante D. Henrique. E aos escritores espanhóis devemos acrescentar os hispânicos, pois José Bento traduziu igualmente Neruda, Vallejo ou Octavio Paz”.
“Esta colossal e incansável devoção ao cânone de língua espanhola, que fez dele um dos mais reconhecidos tradutores portugueses, deixou um pouco na sombra a sua atividade poética, durante muito tempo dispersa em publicações periódicas ou esquecida em edições de circulação restrita, mas que ganhou um reconhecimento mais alargado aquando da primeira reunião da obra poética, “Silabário” (1992). Uma obra que nos revelou ou relembrou este poeta denso, intertextual, meditativo, e fiel até ao fim a uma missão e a uma rara discrição” conclui a nota do Presidente da República.