Portugal possui atualmente seis Cátedras UNESCO que abordam temas que vão desde a bioética, o património imaterial e saber-fazer tradicional, a biodiversidade, o património cultural dos oceanos, os geoparques e a água e ecossistemas para a sociedade.
As Cátedras UNESCO têm como objetivo “o fortalecimento do ensino superior, através da promoção e cooperação internacional no campo da educação, formação, investigação e outras atividades que favoreçam a produção de conhecimento, em consonância com os objetivos e as diretrizes dos programas e áreas prioritárias para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, do inglês) ”.
Agora e com o apoio da Comissão Nacional da UNESCO é criada em Portugal a Rede de Cátedras UNESCO, uma rede que surge no seguimento de outras Redes UNESCO já criadas, como é o caso da Rede de Escolas Associadas, a Rede do Património Mundial de Portugal, a Rede de Geoparques, a Rede de Reservas da Biosfera e a Rede de Centros e Clubes UNESCO.
Em 2017 será o 25º aniversário do lançamento do Programa das Cátedras UNESCO, mas Portugal só aderiu ao Programa em 2009 com a criação da Cátedra de Bioética da Universidade Católica Portuguesa, lembrou Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros (MNE). O programa “está a consolidar-se” em Portugal pois em 2016 foram lançadas 3 Cátedras e já há “propostas para o lançamento de mais 2 Cátedras UNESCO”.
Para o Ministro dos Negócios Estrangeiros, “quanto mais trabalharmos na áreas da educação, da cultura e da ciência mais conseguimos construir fundações para o paz e o desenvolvimento”, ou seja, para ir ao encontro das finalidades da UNESCO no âmbito das Nações Unidas.
As finalidades das Nações Unidas são basicamente a promoção da Paz e da Segurança, o Desenvolvimento e os Direitos Humanos, mas o MNE esclarece que “o que distingue a UNESCO é o modo como procura chegar a essas finalidades através do estímulo da cooperação nas áreas da educação, da ciência e da cultura,” e que pode resumir-se “numa palavra muito simples, que é a palavra conhecimento”.
Um conhecimento que é transversal à multidisciplinaridade cultural da sociedade e Augusto Santos Silva indica que “a arte, a literatura e as demais formas culturais também produzem conhecimento, um conhecimento que não é inferior nem superior ao da filosofia, da ciência ou da religião”. Uma definição abrangente e ao mesmo tempo pragmática de conhecimento que pode demonstrar “que quanto mais nos conhecermos uns aos outros, ou quanto mais estimularmos o interconhecimento, o intercâmbio de conhecimento e a cooperação na área do conhecimento mais predispostos estamos a coexistir pacificamente e a trabalharmos em conjunto para resolver os problemas, que também são comuns”.
As Cátedras estão no cerne das finalidades da UNESCO pois através delas “procura conciliar a criação de conhecimento, a atividade de investigação científica, a disseminação do conhecimento, a atividade de ensino e de divulgação e a sensibilização”, mas também, “a forma como procuramos que as pessoas tomem conhecimento, não só dos bens comuns, como das questões e dos recursos comuns”.
Para o MNE as Cátedras permitem associar três vertentes: a da criação de conhecimento; da disseminação de conhecimento e da sensibilização ou consciencialização das populações em torno de certos temas”. O que explica que as temáticas das Cátedras UNESCO tenham a ver “com questões, problemas ou recursos coletivos e com valores”.
As seis Cátedras UNESCO em Portugal “debruçam-se sobre áreas, que não são apenas da fronteira do conhecimento, mas são também da fronteira da forma como nós queremos gerir o nosso próprio desenvolvimento. Isto é uma das grandes virtualidades das Cátedras”. Agora com a criação da Rede, “uma organização tipicamente policêntrica”, o objetivo principal é “termos consciência dos muitos recursos que podemos mobilizar enquanto pessoas, instituições e organizações que trabalham sobre a égide e no âmbito da UNESCO”.
Criada a Rede de Cátedras UNESCO em Portugal, o MNE sugere que no plano de atividades para o próximo ano seja incluída uma ação que assinale os 25 anos do programa das Cátedras UNESCO. Uma ação em três dimensões, em que “a primeira dimensão é justamente a geminação de Universidades de distintos países”, a segunda dimensão “é a disseminação territorial das Cátedras em Portugal”, e aqui, “talvez um desafio às regiões autónomas”, a terceira dimensão é para além das ligações aos centros de investigação as mesmas também se façam a outras instituições públicas, como o Instituto de Património de Cabo Verde ou Jardim Botânico de Coimbra e a Organizações Não Governamentais.
Outra das sugestões do MNE para o plano de atividades de 2017 passa pelo lançamento em Portugal de “uma Cátedra sobre as relações entre ciência e sociedade”, dado que, justifica o MNE, “é uma das questões mais importantes do nosso tempo. É uma questão decisiva do ponto de vista da economia, visto que a tecnologia continua a ser um dos motores essenciais do desenvolvimento económico e também um dos desafios mais importantes à organização social”.
Augusto Santos Silva defende que uma Cátedra sobre relações entre ciência e sociedade se justifica “porque é uma questão decisiva do ponto de vista da cultura. São cada vez mais claras as afinidades e as homologias entre, por exemplo, a criação científica e a criação cultural, e porque é, evidentemente, uma área decisiva, do ponto de vista da nossa coesão social, e portanto as relações entre ciência e sociedade cabem perfeitamente no âmbito deste programa UNESCO”.
Portugal, no entender do Ministro, possui “na área de reflexão sobre ciência e sociedade um dos maiores legados do mundo, que é justamente o legado de José Mariano Gago”, e portanto, acrescenta, que “talvez fosse uma maneira interessante de preservar o legado, e também de o organizar, com uma Cátedra UNESCO. Um bom ‘lugar’ para que o que José Mariano Gago fez não se perca”.