A grandeza das consequências da COVID 19 na saúde mundial não é conhecida, mas para além das mortes diretas a Organização Mundial da Saúde (OMS), UNICEF e Gavi alertam que a interrupção dos serviços de imunização está a colocar milhões de crianças, nos países ricos e pobres, em risco de doenças como a difteria, o sarampo e a poliomielite.
A pandemia de COVID 19 tem vindo a parar os serviços de imunização que salvam vidas em todo o mundo. Dados das Organizações Mundiais e do Sabin Vaccine Institute indicam que a prestação de serviços de imunização de rotina está a ser seriamente limitada, em pelo menos 68 países, e que provavelmente afetará cerca de 80 milhões de crianças com menos de um ano de idade.
Imunização de rotina de crianças
Desde março de 2020, os serviços de vacinação infantil foram interrompidos numa escala global sem precedentes desde o início dos programas de vacinação na década de 1970.
“A imunização é uma das ferramentas mais poderosas e fundamentais de prevenção de doenças na história da saúde pública”, referiu Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral da OMS, e acrescentou: “A interrupção dos programas de imunização devido à pandemia de COVID-19 ameaça destruir décadas de progresso contra doenças preveníeis por vacina, como o sarampo”.
Os motivos para a interrupção da vacinação variam: Alguns pais rejeitam sair de casa devido a restrições de movimentos, falta de informação ou porque temem serem infetados com o coronavírus da COVID-19. E muitos profissionais de saúde não estão disponíveis devido a restrições de viagem ou à reafetação para as tarefas de resposta à COVID-19, para além da falta de equipamento de proteção.
“Há mais crianças e em mais países que estão agora protegidas contra mais doenças evitáveis por vacina, do que em qualquer outro momento da história”, referiu Seth Berkley, CEO da Gavi. Mas “devido à COVID-19, este imenso progresso está agora ameaçado, correndo o risco do ressurgimento de doenças como o sarampo e a poliomielite. A manutenção de programas de imunização não evitará apenas mais surtos, como também garantirá a infraestrutura necessária para implantar uma eventual vacina COVID-19 à escala global.”
Atrasos no transporte de vacinas
A UNICEF registou um atraso substancial nas entregas planeadas de vacinas, devido às medidas de confinamento e consequente diminuição de voos comerciais e disponibilidade limitada de fretagem de aviões. Para ajudar a mitigar a situação a UNICEF está a apelar aos governos, setor privado, setor de aviação e a outros intervenientes, para permitirem o transporte a um custo acessível para estas vacinas que salvam vidas. A Gavi assinou recentemente um acordo com o UNICEF para fornecer financiamento para cobrir o aumento dos custos de transporte para entrega de vacinas, tendo em vista o número reduzido de voos comerciais disponíveis.
“Não podemos deixar que a nossa luta contra uma doença venha à custa do progresso a longo prazo na luta contra outras doenças”, referiu Henrietta Fore, diretora executiva da UNICEF. “Temos vacinas eficazes contra o sarampo, a poliomielite e a cólera. Embora as circunstâncias possam exigir uma pausa temporária de alguns esforços de imunização, essas imunizações devem reiniciar o mais rápido possível, ou corremos o risco de trocar um surto mortal por outro.”
Campanhas de imunização em massa temporariamente perdidas
Muitos países suspenderam temporariamente e justificadamente campanhas preventivas de vacinação em massa contra doenças como a cólera, o sarampo, a meningite, a poliomielite, o tétano, a febre tifoide e a febre-amarela, devido ao risco de transmissão e à necessidade de manter o distanciamento físico durante os estágios iniciais da pandemia de COVID-19.
A OMS indicou que as campanhas de vacinação contra o sarampo e a pólio, em particular, foram gravemente atingidas, com campanhas de sarampo suspensas em 27 países e campanhas de pólio suspensas em 38 países. Pelo menos 24 milhões de pessoas em 21 países de baixo rendimento apoiados por Gavi correm o risco de perder as vacinas contra a poliomielite, o sarampo, a febre tifóide, a febre-amarela, a cólera, o rotavírus, o HPV, a meningite A e a rubéola, devido a campanhas adiadas e à introdução de novas vacinas.