Investigadores da Universidade de Coimbra (UC) “reconstruiram a complexa rede de dispersão de sementes” que envolve “os animais da Gorongosa, como elefantes, babuínos, impalas ou aves, entre muitos outros”, no transporte de sementes de plantas entre os principais habitats do parque.
O estudo dos investigadores do Centro de Ecologia Funcional da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), desenvolvido ao longo de um ano, permitiu criar um método para compreender como as interações entre as espécies se organizam, espacialmente em ecossistemas complexos, constituídos por múltiplos habitats.
O método desenvolvido pelos investigadores vem demonstrar “como através de uma abordagem de redes complexas (multilayer networks)”, as “escalas podem ser consideradas em simultâneo”, revelando “uma surpreendente dinâmica de interações entre os vários habitats, que em última análise é responsável pela manutenção da vida nas paisagens das planícies aluviais do Grande Vale do Rift”, referiu Sérgio Timóteo, investigador envolvido no estudo, e citado em comunicado da UC.
O investigador esclareceu que o método agora desenvolvido é inovador na medida que os anteriormente disponíveis para estudar este tipo de interações “eram demasiado simplificadores, já que obrigavam ao estudo isolado de cada habitat ou ao estudo global, independente da estrutura espacial mais fina.”
Trata-se de um método analítico que “permite tratar cada habitat como uma camada de uma complexa rede de interações constituída por múltiplas camadas”, em que a “ligação é feita pelas espécies que partilham” os habitats, e “desta forma, é possível ter em conta o modo como os processos que decorrem em habitats contíguos se influenciam entre si”, esclareceu o investigador da UC.
O estudo, que já se encontra publicado na revista Nature Communications, mostra “como as comunidades de animais dispersores de sementes se encontram distribuídas pelos diferentes habitats da Gorongosa, e qual o papel dos diferentes animais no processo” de dispersão de sementes. O estudo é o resultado de uma colaboração com o Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, e a Fundação norte-americana Greg Carr.
Para os investigadores os resultados do estudo permitem um melhor entendimento dos diversos processos ecológicos a um nível global, e novo método tem aplicabilidade em áreas geográficas distintas e em outros sistemas como os de polinização ou de redes alimentares.
Para Sérgio Timóteo o método desenvolvido “é de grande relevância na perspetiva da conservação e recuperação dos ecossistemas, pois o papel das diferentes espécies é agora melhor captado, ajudando assim a delinear melhores estratégias de conservação.”
Mas, o investigador acrescentou: “Para que este tipo de trabalhos seja efetivo é da maior importância entender qual o papel que cada espécie desempenha no ecossistema, e de que modo interage com as restantes espécies.”