As metas definidas pelas Nações Unidas para a SIDA, para 2020, e conhecidas por 90-90-90 da ONUSIDA consideram que até 2020, 90% das pessoas infetadas tenham diagnóstico, 90% recebam tratamento antirretroviral e 90% destas, tenham uma carga viral indetetável. O ONUSIDA estabeleceu como objetivo erradicar a epidemia da SIDA até 2030.
Em Portugal os dados revelam que 90% têm das pessoas infetadas estão diagnosticadas, 89.3% destas estão em tratamento e 80% têm carga viral indetetável. Mas Telo Faria, coordenador do Núcleo de Estudos da Doença VIH da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) lembrou que “há sempre uma percentagem de doentes que não estão a ser seguidos.”
Para o especialista tem “havido melhorias significativas a nível do seguimento nas consultas e na terapêutica”, mas “a componente de estigma e discriminação mantém-se e, a consequente instabilidade emocional que originam é um dos fatores, juntamente com os de origem social, que favorecem o abandono das consultas e dos tratamentos.”
Para Telo Faria tem de se atuar ao nível da literacia em saúde para pôr fim ao estigma e discriminação que ainda enfrentam muitos doentes, sobretudo uma literacia orientada para área da infeção pelo VIH/SIDA, dado que “a literacia nesta área é fundamental porque quanto mais informada estiver a população geral sobre a infeção, não só é capaz de se proteger melhor, como a literacia vai promover a inserção plena do seropositivo em todas as áreas: social, profissional, familiar.”
Passados mais de 30 anos do início da batalha contra o VIH/SIDA, muito mudou, com especial relevo para “medicação muito potente, eficaz, com muito poucos efeitos secundários, que permite que a pessoa tenha uma boa qualidade de vida em todos os aspetos”.
Mas o atual cenário que envolve a medicação traz, no entender de Telo Faria, novos desafios, pois “é bem provável que tenhamos relativizado a infeção, que tenha havido, em alguns grupos, um suavizar dos comportamentos seguros”, e “para dar resposta a esta nova realidade é preciso continuar com as campanhas direcionadas para grupos específicos da população.”
A prevenção é um papel que envolve, também, a Medicina Interna, bem como o diagnóstico, tratamento e seguimento dos doentes. A Medicina Interna apresenta-se mesmo como uma especialidade privilegiada, na prevenção do VIH/SIDA, sobretudo porque tem uma perspetiva multiorgânica e holística face ao doente.
Para Telo Faria a visão global da Medicina Interna “é muito importante”, porque não é só “controlar a infeção ou dar resposta a eventuais efeitos da medicação”, mas uma atenção especial da evolução de outras condições de saúde, “já que estes doentes têm uma sobrevida praticamente idêntica à da população em geral”, e por isso “vão ter os mesmos problemas resultantes do envelhecimento, como as dislipidemias, a hipertensão, a diabetes, as neoplasias, e outras”.