Investigação inédita desenvolvida na Universidade de Aveiro (UA) permitiu conhecer melhor o comportamento das pessoas na memorização e reconhecimento de objetos associados ao uso destes por pessoas doentes em relação a objetos usados por pessoas saudáveis. O estudo mostra que as pessoas recordam melhor os objetos usados pela pessoas doentes, o que sugere que a memória desenvolveu-se ao longo da evolução da espécie humana para proteger a saúde e, em última instância, a vida.
O Homem ao longo da sua evolução tem enfrentado uma multiplicidade de microrganismos patogénicos que ameaçam a sua reprodução e sobrevivência. “Em resposta a este problema adaptativo, desenvolveu-se um sistema imunológico biológico flexível, que deteta e destrói patogenes já contraídos, e um Sistema Imunológico Comportamental (SIC), para prevenir o contacto com possíveis fontes de infeção”, explicou Natália Fernandes, investigadora dos polos da UA das unidades de investigação CINTESIS e William James Research Center, e coautora do estudo.
O Sistema Imunológico Comportamental, quando deteta potenciais contaminantes induz vários tipos de resposta, designadamente respostas afetivas, cognitivas e comportamentais, que são determinantes na promoção de ações de prevenção das fontes de ameaça. O estudo de investigação de que é coautora Josefa Pandeirada procurou explorar a componente cognitiva do SIC, particularmente a memória.
O estudo envolveu a participação de quase duas centenas de pessoas voluntárias às quais foi pedido que visualizassem imagens de objetos tocados por pessoas doentes e outros por pessoas saudáveis. Em que metade dos objetos foram apresentados com uma breve descrição de sintomas de doença que a pessoa utilizador evidenciava, como tosse, ou imagens de faces dessas pessoas com pistas de doença, como o herpes labial. A outra metade dos objetos foi apresentada com descrições de características físicas da pessoa ou com faces com aparência saudável.
Depois da observação dos objetos os participantes passaram por uma tarefa de distração para mais tarde lhe ser pedido que recordassem o máximo de objetos apresentados anteriormente. Natália Fernandes indicou: “As pessoas recordaram melhor de objetos ‘tocados’ por pessoas doentes, ou seja, objetos que são potencialmente contaminantes, comparativamente com os objetos ‘tocados’ por pessoas saudáveis, ou seja, com menor potencial de contaminação.”
Memória ajuda a identificar potenciais fontes de infeções por associação a contaminantes.
As investigadoras indicam que os resultados do estudo sugerem que o modo como a memória opera pode refletir alguns dos problemas adaptativos recorrentemente enfrentados pelos antepassados.
Para Natália Fernandes recordar “objetos potencialmente contaminantes terá sido vantajoso no sentido de evitarmos esses objetos, os quais poderão colocar em causa a nossa saúde e, em última instância, a nossa sobrevivência”, e acrescentou: “Ao percebermos as circunstâncias em que a nossa memória é mais eficaz podemos desenvolver modos de intervenção mais eficazes”.
Para as psicólogas da UA, envolvidas na investigação, os resultados agora conhecidos, “poderão informar o desenvolvimento de programas de saúde pública visando aumentar comportamentos de prevenção de doenças infeciosas, uma das principais causas de mortalidade no mundo”.