Medicamentos já aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA podem ser auxiliares no combate à nova infeção provocada pelo novo coronavírus, a COVID-19, indicam estudos de Cientistas do UT Southwestern Medical Center. As descobertas, publicadas no ChemRxiv, em 19 de março, podem abrir novos caminhos para o tratamento de pacientes com a COVID-19.
Desde que apareceu, no final de 2019, a COVID-19, causada pelo novo coronavírus, conhecido como SARS-CoV-2, já infetou mais de 256 mil pessoas e matou mais de 10.600, até 19 de março de 2020. Embora existam esforços a nível mundial para desenvolver terapias eficazes de tratamento e vacinas, continuam a não existir atualmente estratégias terapêuticas claras ou tratamentos preventivos.
O desenvolvimento de novos agentes farmacêuticos que combatam e vírus pode levar meses, mesmo com rápida aprovação das autoridades do medicamento, explicou Hesham Sadek, professor nos Departamentos de Medicina Interna, Biologia Molecular e Biofísica da UT Southwestern. É por isso que ele e colegas procuram medicamentos já aprovados pela FDA, uma estratégia que se tornou cada vez mais popular na investigação para terapias para doenças.
A maioria dos fármacos exerce seus efeitos vinculando-se a alvos específicos no corpo ou a bactérias ou vírus causadores de doenças, anexando-se a proteínas, recetores ou canais para alterar sua função. No entanto, referiu Hesham Sadek, quase todos os medicamentos causam efeitos colaterais devido a efeitos “fora do alvo”, associados a áreas não intencionais.
Hesham Sadek e os colegas argumentaram que alguns medicamentos aprovados pela FDA podem ter como alvo não intencional partes vulneráveis da SARS-CoV-2. Para testar essa ideia, o grupo composto por biólogos estruturais, químicos medicinais e outros realizou um estudo baseado em computador para examinar de forma ampla quais os medicamentos que podem ser úteis contra este novo coronavírus.
A equipa concentrou-se na principal protéase do SARS-CoV-2, uma enzima que o vírus usa para ligar longas cadeias de proteínas que direciona as células hospedeiras para gerar a replicação do próprio vírus e cortá-las em pedaços menores. Outros cientistas descreveram recentemente a estrutura dessa enzima, incluindo o seu “bolso” de ligação. Um medicamento que se ligue fortemente a esse “bolso” pode bloquear a sua função, explicou a Hesham Sadek, tornando o vírus incapaz de se multiplicar e propagar a infeção.
Para identificar os candidatos a medicamentos, os investigadores usaram um programa de computador para todos os medicamentos da FDA que atuavam sobre o “bolso”, e examinaram manualmente quais os fármacos que se encaixam estruturalmente e podem conseguir fortes ligações químicas com o “bolso”.
Sem surpresa, os principais sucessos incluíram vários medicamentos antivirais, incluindo Darunavir, Nelfinavir e Saquinavir, que atuam visam as protéases. No entanto, os investigadores também identificaram vários medicamentos candidatos que são usados fora do âmbito antiviral. Dentro destes medicamentos está o inibidor da ECA Moexipril, agentes quimioterapticos Daunorrubicina e Mitoxantrona, Metamizol, um analgésico, o anti-histamínico Bepotastine, e o medicamento antimalárico Atovaquone. Um dos candidatos mais promissores foi a rosuvastatina, uma estatina que é vendida sob a marca Crestor e já é usada por milhões de pacientes em todo o mundo para diminuir o colesterol.
Embora vários medicamentos não sejam adequados para pacientes críticos, como é o caso dos quimioterápicos, a rosuvastatina já apresenta um forte perfil de segurança, é barata e está prontamente disponível, referiu Hesham Sadek.
O estudo foi totalmente baseado em computador, pelo que não se sabe se algum dos fármacos é realmente ativo contra o SARS-CoV-2, pelo que são necessários estudos de validação adicionais antes de qualquer aplicação clínica. Mas o estudo fornece um ponto de partida para que outros investigadores avaliem esses medicamentos em laboratório e nos pacientes.
O reaproveitamento destes medicamentos aprovados pelas autoridades do medicamento como a FDA pode ser “uma maneira rápida de obter tratamento para pacientes que, de outra forma, não têm opção”, referiu o cientista.