Um medicamento criado na Universidade do Minho para tratar a artrite reumatoide – uma doença crónica afeta 20 milhões de pessoas no mundo – vai começar a ser testado em doentes, após um primeiro ensaio clínico ter sido realizado com sucesso em voluntários saudáveis. O ensaio clínico, que vai envolver 40 pacientes e oito hospitais portugueses, vai avaliar a eficácia, segurança e tolerabilidade ao fármaco.
O medicamento surge como inovador pela libertação controlada da substância ativa nas articulações inflamadas, o que como descreve a Universidade do Minho (UMinho) em comunicado, pode modificar a toma da atual terapia de uma injeção semanal de metotrexato para quinzenal ou mensal e com menos efeitos adversos.
A inovação é o resultado de um trabalho de investigação de 15 anos da equipa de Artur Cavaco-Paulo no Centro de Engenharia Biológica (CEB) da UMinho, que, entretanto, originou a a spin-off Solfarcos, em Braga. Um trabalho garantido em duas patentes e duas teses doutorais ao abrigo dos projetos Nanofol e Folsmart, financiados pelos programas europeus FP7 e Horizonte 2020 e pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Neste trabalho está, desde 2016/2017, a parceria da BlueClinical na regulamentação e da Bluepharma, e a colaboração da Stemmatters, no fabrico e controlo de qualidade do medicamento.
A UMinho indica que reunião inicial para o ensaio clínico de Fase IIa de prova de conceito juntou as equipas clínicas (reumatologistas, médicos internos, enfermeiros, farmacêuticos) afetas ao Centro Clínico Académico de Braga e às unidades locais de saúde do Alto Minho, do Alto Ave, de São João, de Gaia e Espinho, da Guarda, da Região de Aveiro e da Região de Leiria, além de representantes da BlueClinical e da Bluepharma.
O ensaio clínico tem a duração de cerca de 12 meses e os pacientes vão ser continuamente monitorizados. Não há ainda previsão quando o medicamento pode chegar ao mercado, mas os investigadores estão otimistas no sucesso deste novo estudo.
“Acreditamos que o metotrexato lipossomal poderá ter um grande impacto nas diretrizes de tratamento da doença, podendo simplificar a adesão dos pacientes e também reduzir os custos associados suportados pelos sistemas de saúde”, afirma Artur Cavaco-Paulo, diretor científico da Solfarcos e professor da Escola de Engenharia da UMinho.
O novo fármaco baseia-se na molécula de metotrexato, a referência no tratamento da artrite reumatoide e de várias doenças autoimunes e cancerígenas. A nova tecnologia encapsula o metotrexato num lipossoma (nanopartícula de gordura), que tem uma molécula sinalizadora à sua superfície para direcionar a libertação da substância ativa nas articulações inflamadas pela artrite reumatoide.
Na prática, o farmaco atua apenas nas células doentes e a encapsulação nos lipossomas aumenta o tempo em circulação do metotrexato e evita picos de concentração no sangue. Isso permite uma dose muito mais baixa para produzir um efeito similar ao do medicamento convencional e reduz os efeitos adversos.