Cientistas do Instituto do Cancro Dana-Farber lançaram teste clínico do medicamento ibrutinib, com o nome comercial imbruvica, em doentes de COVID-19. O teste vem no seguimento de vários relatos de casos nos quais o medicamento tem mostrado proteger contra danos nos pulmões e problemas respiratórios causados pelo novo coronavírus.
Assim, o objetivo do estudo randomizado é determinar se o tratamento com ibrutinib, em comparação com o tratamento de suporte padrão, pode reduzir a necessidade de oxigénio suplementar dos pacientes, incluindo ventilação mecânica, e encurtar a permanência no hospital e melhorar a sobrevida.
A confirmação das eventuais vantagens do medicamento na pandemia atual “pode mudar muito a situação se considerarmos que a maioria das internações nos hospitais por COVID-19 deve-se a problemas respiratórios e muitos desses pacientes necessitam de ventilação mecânica”, referiu Steven Treon, investigador principal do estudo e professor de medicina na Harvard Medical School.
O ibrutinib é um medicamento oral direcionado para o tratamento da leucemia linfocítica crónica (LLC) e doença do enxerto contra hospedeiro, que é uma complicação comum do transplante de medula óssea alogénico. Os cientistas relataram que seis pacientes que tomavam ibrutinib há vários anos e que contraíram recentemente a COVID-19, com sintomas de tosse e febre, e que cinco dos pacientes que estavam a tomar uma dose padrão de ibrutinib, não tiveram falta de ar, não precisaram de ser hospitalizados e melhoraram regularmente.
O sexto paciente, que tomava uma dose mais baixa de ibrutinib por causa dos efeitos colaterais, apresentou sintomas de falta de ar e inicialmente foi-lhe retirado o ibrutinib e tratado com outros medicamentos. Após 10 dias, foi colocado num ventilador e os médicos decidiram reiniciar o ibrutinib na dose padrão igual ao que os outros pacientes estavam a tomar. O paciente melhorou rapidamente, foi removido do ventilador e, no 14º dia, recebeu alta do hospital regressando ao domicílio, onde continua a tomar a dose padrão de ibrutinib. “Essas experiências deram-nos a orientação para realizar estudos prospetivos randomizados de ibrutinib e de um medicamento similar, o zanubrutinib, em pacientes COVID-19 com problemas respiratórios”, referiu o cientista.
O ibrutinib e o zanubrutinib ligam-se e bloqueiam a ação do BTK, uma enzima encontrada nas células imunológicas e que sinaliza um caminho molecular conhecido como MYD88 para libertar citocinas que atraem células inflamatórias que danificam o pulmão e causam insuficiência pulmonar. “Também sabemos em estudos com ratos que a toma de ibrutinib protege contra infeções virais letais que atingem o pulmão”, referiu o cientista. “É por isso que estamos a iniciar um estudo randomizado com ibrutinib … e um segundo estudo com zanubrutinib, outro inibidor da BTK, que inclui pacientes em suporte por ventilador.