As mulheres saudáveis que possuem uma mutação no gene BRCA1, que dá origem ao cancro da mama, podem reduzir o risco de desenvolver a doença e o risco de morte com a remoção dos dois seios, são os resultados de um estudo de investigação apresentado hoje, 21 de março, na 11ª Conferência Europeia sobre o Cancro da Mama.
O estudo concluiu também que no caso das mulheres com mutação no gene BRCA2, o risco de morte não diminuiu no caso das mulheres que optaram por remover os seios (mastectomia bilateral de redução de risco) ou por optarem ter uma vigilância mais apertada.
O estudo envolveu 1696 pessoas com mutação do gene BRCA1 e 1139 pessoas portadoras de mutação do gene BRCA2, na Holanda. Este é o primeiro estudo que a seguir prospectivamente mulheres saudáveis, que optaram por uma mastectomia bilateral de redução de risco ou por vigilância, com o objetivo de comparar o risco de morrer de cancro da mama e o risco de morrer de outra qualquer causa.
As mulheres foram selecionadas da base de dados nacional Hereditary Breast and Ovarian Cancer Netherlands (HEBON). As mulheres eram saudáveis, sem história prévia de cancro, e mantinham ambos os peitos e ovários no momento do diagnóstico de ADN que detetou as mutações do gene BRCA1 ou BRCA2, e foram seguidas desde o momento do diagnóstico (o mais antigo foi em janeiro de 1995) até junho de 2017, ou até ao momento da morte ou ao último momento em que houve acompanhamento. Durante este tempo, 38%, ou seja, 652 das mulheres com mutações BRCA1 e 32%, ou seja, 361 das portadoras da mutação BRCA2 foram submetidos a uma mastectomia bilateral de redução de risco.
Depois de nove a 11 anos, em média, a serem acompanhadas, os investigadores verificaram que houve sete casos de cancro da mama e 11 mortes, em que uma foi devida ao cancro da mama entre as portadoras da mutação no gene BRCA1, que tinham sido submetidas a uma mastectomia bilateral de redução de risco.
No grupo das mulheres que foram apenas submetidas a vigilância houve 269 casos de cancro da mama e 50 mortes, e destas mortes 19 foram devidas ao cancro da mama.
Os investigadores verificaram que aos 65 anos, a sobrevivência global entre as portadoras da mutação do gene BRCA1 foi de 90% no grupo submetido a uma mastectomia bilateral de redução de risco, e que no caso do grupo apenas submetido a vigilância a sobrevivência foi de apenas 83%.
Na mesma idade, aos 65 anos, a sobrevivência específica ao cancro da mama foi de 99,6% no grupo submetido a uma mastectomia bilateral de redução de risco, em comparação com 93% no grupo submetido apenas a vigilância.
Estudo conclui que as mulheres portadoras de mutação do gene BRCA1 , que optam por a uma mastectomia bilateral de redução de risco, apresentaram menor risco de morrer de cancro da mama do que as portadoras de mutação do gene BRCA1, que apenas optam pela vigilância.
Os investigadores indicam que após um tempo médio de aproximadamente nove a dez anos, de seguir as portadoras de mutação do gene BRCA2, verificaram que entre o grupo submetido a uma mastectomia bilateral de redução de risco, não houve casos de cancro da mama, mas houve duas mortes, mas nenhuma destas mortes relacionada com cancro da mama.
No grupo de mulheres que apenas tiveram vigilância verificaram 144 casos de cancro da mama e 32 óbitos, destes sete devido ao cancro da mama.
Na análise de sobrevivência aos 65 anos de idade verificaram que a taxa foi de 95% no grupo submetido a uma mastectomia bilateral de redução de risco em comparação com 88% no submetido a vigilância.
A sobrevivência em relação ao cancro da mama foi de 100% no grupo submetido a uma mastectomia bilateral de redução de risco e de 98% no grupo submetido a vigilância.
Investigadores concluíram que o risco de morrer de cancro da mama é baixo, para as mulheres portadoras de mutação BRCA2, e que não houve diferença entre o grupo submetido a uma mastectomia bilateral de redução de risco e o grupo submetido a vigilância.
Annette Heemskerk-Gerritsen, investigadora no Centro Médico da Universidade Erasmus, em Roterdão, Holanda referiu: “Para portadores de mutação BRCA1, a mastectomia bilateral de redução de risco não só reduz drasticamente o risco de desenvolver cancro da mama, mas, como consequência, também melhora a sobrevivência específica ao cancro da mama em comparação com o recurso à vigilância. No entanto, para os portadores de mutação BRCA2 a mastectomia bilateral de redução de risco parece levar a uma sobrevivência específica do cancro da mama como na vigilância, apesar do risco reduzido de cancro da mama”.
A investigadora acrescentou que a diferença entre a probabilidade de morrer do cancro da mama entre as portadoras de mutação do gene BRCA1 e do gene BRCA2 suporta a ideia de que essas duas mutações resultam em diferentes tipos de tumores.
“Observamos que os cancros da mama associados ao BRCA2 foram diagnosticados com características mais favoráveis do que os cancros da mama associados a BRCA1. Os cancros associados a BRCA2 foram diagnosticados numa idade mais avançada, melhor diferenciados e eram mais propensos a ter recetores para hormônios estrogénio e progesterona e para o fator de crescimento epidérmico humano (HER2), sugerindo que as portadoras de mutação BRCA2 enfrentam um melhor prognóstico no diagnóstico do que as portadoras de mutação BRCA1”, concluiu a investigadora.
Os resultados do estudo indicam que as mulheres com mutação do gene BRCA2 podem escolher entre a mastectomia bilateral de redução de risco ou vigilância, sabendo que isso faz pouca diferença para o risco de morrer ou não do cancro da mama. No entanto, elas continuam com maior risco de desenvolver a doença, e logo terem de se submeter a tratamento que é desagradável e que o mesmo tem seus próprios riscos.
“Para as mulheres portadoras da mutação BRCA2 que lutam com a difícil escolha entre vigilância do cancro da mama e uma mastectomia bilateral de redução de risco, porque desejam manter os seios e que estão dispostas a enfrentar o risco de desenvolver cancro da mama e a sofrer o tratamento essencial após o diagnóstico, pode ser um alívio saber que a vigilância intensiva contínua pode ser tão boa quanto a mastectomia bilateral de redução de risco quando se trata de sobrevivência específica em relação ao cancro da mama. As nossas descobertas contribuem para um processo de aconselhamento mais individualizado quanto à difícil escolha entre mastectomia bilateral de redução de risco e vigilância com base no tipo da mutação BRCA”, concluiu ainda Annette Heemskerk-Gerritsen.
O copresidente da conferência, Isabel Rubio, diretora da unidade cirúrgica da mama na Clinica da Universidade de Navarra, em Espanha, que não esteve envolvida na investigação comentou: “As mulheres que carregam as mutações do gene BRCA1 ou BRCA2 enfrentam uma verdadeira incerteza sobre como reduzir o risco de desenvolver cancro da mama e o risco de morrer da doença. Uma dupla mastectomia é invasiva e pode ter efeitos adversos desconfortáveis, e por vezes graves, como a perda de sensibilidade na área de areola mamária e mamilo, mas parece como reduzir o risco de desenvolver a doença. No entanto, as mulheres que optam pela vigilância vivem com o conhecimento de que a doença poderá desenvolver-se e depois terão que passar pelo tratamento. Essas são escolhas difíceis e cada mulher é diferente.”
Isabel Rubio concluiu “A investigação de Annette Heemskerk-Gerritsen e da sua equipa dão a essas mulheres valiosas informações sobre o risco geral de morte e de morrer da doença para poderem decidir. Mas é necessária mais informação para saber em que idades as mulheres obtêm maior benefício entre a mastectomia ou a vigilância”.