Porque gosta tanto da frase: “Só melhoro quando chove”? Com esta pergunta, cujo texto pertence ao poema de “Dona Doida” de Adélia Prado, Joaquim Jorge, do Clube dos Pensadores, deu início à conversa com Marisa Matias, eurodeputada e atual cabeça de lista às eleições europeias, de 26 de maio, pelo Bloco de Esquerda (BE).
“Essa frase diz muita coisa, apesar de ser muito simples”, pois considera-se “determinada, muito sonhadora, combativa e feminista”. O que não significa que “não ande com os pés bem assentes no chão”. Esta frase define a sua vida, respondeu Marisa Matias.
Marisa Matias é conhecida por ser uma pessoa com grande abertura de espírito, e quem a conhece bem, não hesita em afirmar que se está sempre em presença de uma pessoa com grande seriedade intelectual, talvez isso justifique a forma com que encarou a conversa com Joaquim Jorge, em que às diversas questões deu pronta resposta mantendo sempre o sorriso que lhe conhecemos, mesmo nas situações mais desconfortáveis.
Quando Joaquim Jorge perguntou “quanto ganha um deputado no Parlamento Europeu?” Marisa foi clara e explicou que há várias variantes e ajudas ao exercício da função de eurodeputado, e referiu: “Anda à volta de 6.400 euros”, mas pode “ir até 10.000 euros”.
Um valor que Marisa Matias indicou que em relação à maioria dos portugueses é um valor significativo, mas lembrou que tem que viver em Bruxelas e aí pagar renda de casa bem como em Portugal. A eurodeputada esclareceu ainda que existe também uma verba de despesas gerais em que a maioria dos deputados entende que é sua, “mas que não é bem assim”.
Joaquim Jorge começou, então, por questões mais de âmbito político, questionando Marisa Matias: “O que seria para o BE um bom resultado nas eleições europeias do dia 26 de Maio?”. A resposta foi pronta e óbvia: “Um bom resultado seria poder reforçar a representação do BE”, e acrescentou numa menção direta a alguns candidatos de outros partidos, “gostaria que todos os deputados fossem avaliados pelo seu trabalho”.
O reconhecimento do trabalho feito é importante para Marisa Matias e por isso referiu: “Os votos são das pessoas e não dos partidos. Deste modo, as eleições são sempre uma caixinha de surpresas”.
À pergunta de Joaquim Jorge sobre “qual a sua opinião sobre este rodopio de familiares no governo PS” Marisa comentou que no caso das “relações familiares para cargos públicos, todos deveriam ter as mesmas oportunidades”, e acrescentou: “Todos andamos há tempo demais, governo após governo, sempre no mesmo grupo”, pelo que “teríamos muito a ganhar com a diversidade”.
Joaquim Jorge insistiu que “não é ilegal nomear familiares, mas não fica bem”. Os cargos públicos “não podem nem devem ser usados para que alguns se sirvam a si e às suas famílias”.
A questão do Brexit não podia faltar e Joaquim Jorge atirou: “O que se está a passar com o Brexit?” Marisa classificou de imediato: “Uma barraca de todo o tamanho”, ou seja, “uma grande trapalhada com consequências muito graves, sabemos que o povo britânico não quer, mas ainda não sabemos o que querer!”
A conversa regressou à política nacional com Joaquim Jorge a querer saber da “possibilidade do BE ir para um futuro governo PS, após as eleições legislativas”. Uma questão que o BE ainda não tem bem resolvida, mas Marisa indicou: “Um partido não deve desistir de disputar o poder e não ser sempre segunda linha”.
Mas Marisa Matias estava ali para falar sobre os desafios europeus, a sua visão sobre a Europa e por isso teceu algumas considerações pela sua experiência europeia vivida in loco, e por isso, considera que o cenário político europeu mudou muito e a social-democracia está a colapsar.
A eurodeputada indicou que o futuro tem muitas nuvens negras, mas diz-se europeísta, e também crítica, pois no seu entender é a única forma de salvar a Europa.
Marisa lembrou algumas das suas causas, como lutar durante quase dois anos para impedir a entrada de medicamentos falsificados na União Europeia, e confessou que chegou a chorar quando o desfecho foi conseguido.
Sobre os movimentos de extrema-direita em Portugal, Marisa diz-se preocupada pois Portugal não está imune, pois as forças políticas dominantes criaram muitos espaços abertos que têm sido preenchidos pela extrema-direita.
A cabeça de lista do BE ao Parlamento Europeu considera que todos devem refletir profundamente, pois haverá muitos momentos em que todos deverão estar atentos e unirem-se em torno da defesa da democracia.
Esta foi mais uma conversa do Clube dos Pensadores num dia que que celebrou os 13 anos ao serviço da cultura e da divulgação do pensamento.