A Marcha pela Ciência levou, este sábado, dia 22 de abril, às ruas de Lisboa cerca de 300 cientistas, num percurso do largo de São Mamede ao Largo do Carmo. Entre os participantes encontrava-se Manuel Heitor, Ministro da Ciência e Ensino Superior, Carlos Moedas, Comissário Europeu Responsável pela Investigação, Ciência e Inovação, e o deputado Alexandre Quintanilha.
No Largo do Carmo, Carlos Moedas referiu que nos dois anos e meio como comissário viu “a melhor ciência do mundo a ser feita na Europa”, como em 2014 quando os europeus foram “os primeiros a construir e a ter uma vacina contra o ébola”, mas lembrou que nada foi referido pelos media, e nada foi indicado nas notícias.
O Comissário lembrou ainda: “Há três semanas quando um cientista europeu foi o primeiro a descobrir novos sete planetas”, a “notícia foi que a NASA tinha descoberto esses planetas”, mas “não foi a NASA, foi um cientista belga”, um cientista “que com o dinheiro do contribuinte europeu, o conseguiu fazer”.
A ciência está para lá de todas as diferenças, de todos os conflitos. Esta ideia de ciência foi traduzida por Carlos Moedas ao referir: “Vi a tolerância da ciência quando na Jordânia estive no primeiro e único acelerador de partículas, em que vi os israelitas com os palestinianos e com os iranianos sentados à volta da mesa”, situações que sublinhou: “São as coisas que eu nunca esquecerei, destes dois anos e meio, pelo que temos de ter muito orgulho como europeus”.
“Queria-vos dar um conselho, um conselho de um político”, referiu o Comissário, e acrescentou: “Não tenham medo de gritar pela ciência, não tenham medo de dizer que é a ciência que pode criar riqueza, que é a ciência que pode criar emprego”.
A terminar Carlos Moedas lembrou: “Em dois anos e meio, em Bruxelas, vi à porta, daquilo que é o meu gabinete, muita gente, vi agricultores, vi sindicatos, vi industriais, vi políticos, mas nunca vi os cientistas”, e por isso deu como conselho: “Manifestem-se, falem bem alto, porque merecemos.”
Os participantes na marcha elevavam alguns cartazes com frases ou palavras como: “quanto custa a ignorância?”, “queres evidência toma lá ciência”, “ganha consciência aposta na ciência”, “os factos não tomam partidos”, “se a vida é 1 equação, a ciência é a solução”, “não há liberdade sem ciência pá!!”, “quando for cientista quero ser GRANDE” ou em inglês “I don´t beleave in signs” e “Make Science not War!”
Alexandre Quintanilha, também se dirigiu, no Largo do Carmo, aos cientistas, referindo que “todos os partidos políticos no parlamento apoiam a ciência”, e acrescentou: “Não conheço ninguém na comissão de educação e ciência que tenha qualquer dúvida que o conhecimento é a arma mais importante para a criação de uma sociedade mais justa, uma sociedade mais realizada e uma sociedade mais igualitária entre todos nós.”
O deputado fez também uma apelo aos cientistas referindo: “Não temos muitos cientistas a fazer este tipo de manifestações à frente do parlamento, nós não ouvimos a voz daqueles que querem defender … o conhecimento que está na base da formação das sociedades futuras”, por isso “eu gostava também de vos encorajar, que nos viessem trazer as vossas mensagens, as vossas mensagens de apoio sobre aquilo que é o financiamento da ciência, o financiamento do conhecimento para uma sociedade desenvolvida.”
“Lutar pelo conhecimento é uma forma de diluir as mensagens toxicas, que pessoas como Donald Trump, e tantos outros, nos transmitem diariamente, e que temos que ouvir porque são essas mensagens que muitas vezes saem nos meios de comunicação. As histórias de sucesso não fazem notícia e nós temos imensas histórias de sucesso”, conclui Alexandre Quintanilha.
Olga Pombo, professora da Universidade de Lisboa, que também interveio no Largo do Carmo, defendeu uma ciência apenas financiada pelo Estado, Laboratórios não comandados por generais, nem homens de negócio, e uma sociedade interventiva que possa “de alguma maneira orientar, ir norteando a investigação científica, para que ela não se realize ao serviço dos interesses financeiros, dos interesses económicos e dos negócios ou dos militares, mas que vá ao encontro dos interesses das pessoas.”
Para Maria Mota, diretora do IMM, dias como o que decorreu da Marcha pela Ciência são fundamentais “para mostrar a importância da ciência para a vida de cada um de nós.”
A Marcha pela Ciência decorreu também em muitas outras cidades no mundo com o mesmo espirito, como referiu Gil Costa, um dos organizadores da marcha, que explicou que a Marcha pela Ciência é uma forma para “revindicar financiamento público, condições de trabalho, e visão estratégica para a ciência e para os cientistas, e lutar para que o conhecimento científico seja utilizado para o desenvolvimento de políticas que sirvam o interesse público.”