A asma afeta cerca de 700 mil portugueses e há muitos destes doentes que não cumprem corretamente a sua medicação, o que em tempo de pandemia de COVID-19 a situação pode assumir maior risco para o doente. Para Cláudia Vicente, especialista em Medicina Geral e Familiar, existem muitos fatores que podem contribuir para a não adesão ao tratamento, entre os quais, o facto de os doentes, tendencialmente, desvalorizarem a sintomatologia.
“Devemos ter igualmente em conta que o tratamento se faz através de medicação inalada, sendo o seu ensino frequentemente negligenciado, o que leva a pessoa com asma a não saber como usar o inalador e deixando de o fazer. Além disso, as doenças respiratórias, onde a asma se inclui, ainda não têm um espaço de consulta/programa dedicado nos cuidados de saúde primários, o que também pode levar a um sub-acompanhamento destes doentes ao longo do tempo”, alertou a médica, hoje, no Dia Mundial da Asma.
A asma pode ser classificada quanto à sua gravidade e o seu tratamento estratificado em degraus. Trata-se de “uma doença em que existe inflamação da via aérea, caracterizada por uma limitação de fluxo variável e sintomas como pieira, opressão torácica, sensação de falta de ar e tosse, que podem variar quer na frequência, quer na intensidade”. Uma variabilidade que, esclarece Cláudia Vicente, “caracteriza a doença. Uma asma mais ligeira, por exemplo manifestará sintomas menos que duas vezes por mês, enquanto uma grave compreenderá sintomas na maioria dos dias e despertares noturnos semanais”.
A boa notícia é que a asma é, na esmagadora maioria dos casos, “uma doença controlável com a medicação certa e tomada de acordo com as indicações do médico”. E, quando controlada, permite que os doentes levem uma vida sem quaisquer restrições. “Uma asma controlada é uma asma em que o doente está completamente livre de sintomas e, portanto, de limitações, com a menor dose possível de medicação”. Isto apesar de, acrescenta a médica, “os doentes com asma grave carecerem muitas vezes de tratamentos caros e individualizados, que só estão disponíveis a nível hospitalar”.
Controlar a doença é, por isso, essencial, sobretudo nestes tempos de pandemia. “Um doente asmático é um doente de risco”, confirmou a médica, que aconselha: “Em caso de agudização, a pessoa com asma ou o seu cuidador são as pessoas que melhor reconhecem essa alteração no padrão de sintomas e devem contactar o seu Médico de Família”.
Evitar agudizações, ou seja, manter a asma sob controlo é “possível e fundamental, principalmente na época que atravessamos”, ainda que desafiante. Este controlo depende não só da medicação instituída, “mas obviamente da adesão do doente e da sua capacidade de cumprir bem a posologia, bem como da evicção dos desencadeantes e de uma correta técnica inalatória”, reforça Cláudia Vicente. E acrescentou: “Muitas vezes, quanto mais grave é a doença, maior impacto tem no doente e mais cumpridor este é. Os doentes com sintomas mais ligeiros desvalorizam mais a doença e são menos cumpridores, sendo mais difícil o controlo”.