LOULÉ. Territórios, Memórias, Identidades, é uma iniciativa conjunta do Museu Nacional de Arqueologia e do Museu Municipal de Loulé que reúne mais de 500 bens culturais que testemunham os últimos oito milénios de história do maior e mais povoado concelho do Algarve.
A exposição, que é comissariada por Victor S. Gonçalves, Catarina Viegas e Amílcar Guerra, da Universidade de Lisboa, Helena Catarino, da Universidade de Coimbra e Luís Filipe Oliveira, da Universidade do Algarve, revela a ocupação humana do território louletano desde a Pré-história à Idade Média.
O núcleo da Pré-História envolve a exploração de um território constituído pela Serra, o Barrocal e o Litoral, e envolve os seus habitantes “que ali viveram entre 6000 e 2000 anos antes da nossa Era”, mas “a grande maioria desses sítios nunca foi escavada, com exceção de um, que é fundamental” para o estudo da história da região.
Victor S. Gonçalves, Comissário Científico do Núcleo da Pré-História, indicou, citado em comunicado, que “o Cerro do Castelo de Corte João Marques foi escavado no século XX, entre 1978 e1979. Os materiais provenientes deste sítio pertenceram a uma povoação de metalurgistas do cobre.”
Para o especialista o Cerro do Castelo de Corte João Marques “é mesmo dos poucos sítios existentes em Portugal onde há todas as fases da metalurgia. Isto é, há minério de cobre, há pedaços de fundição do cobre, há fornos para fundir o cobre… e depois evidentemente, materiais, artefactos que se inseriram numa rede de comércio local ou mais ampla, abrangendo o sul de Portugal”.
O Comissário Victor S. Gonçalves considera que “é um sítio de mineradores e ao mesmo tempo de transformadores do minério em metal, um sítio de enorme importância.” O Cerro do Castelo de Corte João Marques não é visitável, para ser preservado, mas “existe agora a intenção de voltar a escavar.”
A exposição dá a oportunidade aos visitantes de pela primeira vez “conhecer peças provenientes deste sítio” para além de novidades no núcleo da Pré-história.
Do Museu Municipal de Loulé veio, para a exposição, um grande menir amplamente gravado e que é exposto acompanhado “de um conjunto de fotografias obtidas através de sistemas digitais de última geração, inclusivamente tridimensionais, que permitem ver gravuras que não são imediatamente visíveis a olho nu.”
De entre as gravuras encontram-se sóis, ou seja, representações que são encontradas “também nas placas de xisto que eram penduradas ao pescoço dos mortos entre 3200 e 2500 anos antes da nossa Era”, e na exposição consta um exemplar excecional.
O Comissário indicou ainda que é exposta também “uma queijeira semelhante a outras identificadas na região de Lisboa, no atual concelho de Mafra, e lembra que as queijeiras “foram analisadas por um laboratório” que mostrou a existência “dentro dos orifícios de restos de matérias gordas do leite, o que comprova que era essa a sua utilização.”
Mas a exposição apresenta ainda, dentro do núcleo da Pré-História, a peça mais antiga na exposição, “uma peça extraordinária de cerâmica, a bilha de Retorta, em Boliqueime, cujas condições precisas de recolha não se conhecem”, mas indicou Victor S. Gonçalves, “havia um padre conhecido, o Padre Semedo de Azevedo, que era um grande colecionador de antiguidades, e os paroquianos tinham por hábito levar-lhe algumas.”
O especialista acrescentou: “Estava ele (o Padre Semedo de Azevedo) numa necrópole romana, com sepulturas romanas por todo o lado, quando avistou um pedaço de barro a sair da terra. Decidiu escavar à sua volta e quando por fim conseguiu desenterrá-lo, era um vaso inteiro do neolítico”.