Encenações e animadas leituras de obras de autores europeus contemporâneos, interpretadas por atores portugueses, ocorrem em Lisboa, na noite de 3 de junho. Na Noite da Literatura Europeia perspetiva-se um serão literário que intenso em vários ruas na zona do Intendente.
Entre as 19h00 e as 23h30, a 11ª edição da Noite da Literatura Europeia traz-nos obras que vão do romance à poesia, do teatro à banda desenhada. O programa de 2023 inclui temas como o feminismo, a revolução, os dogmas e a sua desconstrução, a guerra, a rebelião, os dramas familiares ou a superação de limites numa sociedade em transformação permanente.
As leituras encenadas, que têm a duração de 10 a 15 minutos, acontecem em lugares improváveis nem sempre acessíveis ao público. O que torna a iniciativa numa oportunidade única para conhecer espaços como a Fábrica de Torrefação Cafés Negrita, o hotel Palácio do Visconde, o Laboratório e a Oficina do FabLab Lisboa, o pátio da Junta de Freguesia de Arroios, ou o recreio e as salas da Associação Pró-Infância Santo António de Lisboa, entre muitos outros locais, todos com entrada livre.
As sessões com leituras da Chéquia, Espanha, Estónia, Grécia, Itália, Luxemburgo, Portugal e Roménia contam com a presença dos autores e autoras, o que é uma oportunidade para conhecer os criadores europeus num ambiente familiar e descontraído.
15 obras de 15 países para descobrir ao vivo
Nesta grande sala de leituras são representados 15 países, o que é um recorde de participações. Da Alemanha veio Judith Schalansky com “O pescoço da girafa”, um retrato psicológico e social, em tom paródico, de uma sociedade alemã em profunda transformação. Da Áustria, Marie Gamillscheg e “A revolta dos animais marinhos”, uma obra intensa e fluída sobre a libertação gradual de restrições da infância, do próprio corpo e de leis impostas por outros. Da Chéquia chega Markéta Pilátová autora de “Olhos da loba”, um romance baseado em narrativas de checos radicados em São Paulo que conta a história de um amor destroçado pela Segunda Guerra Mundial na Europa.
De mais perto, de Espanha, Elena Medel com “As maravilhas”, uma história sobre a precaridade e o passado recente da Península Ibérica, do final da ditadura à explosão do feminismo. Eva Koff e Indrek Koff, com “Voltar”, a peça de teatro que vem da Estónia e que, entre os anos de ocupação soviética e os da ditadura salazarista em Portugal, procura analogias entre os dois países.
“O caçador de bruxas” vem da Finlândia, uma obra policial de Max Seeck, autor que já foi apelidado de Agatha Christie dos tempos modernos e que começa, claro, com um assassinato e inevitável investigação, em busca do responsável pelo crime.
De França, vem Emanuele Coccia e “A vida das plantas. Uma metafísica da mistura”, livro surpreendente que parte da contemplação das plantas e vegetação para propor uma filosofia de vida em conjunto.
Vassilis Papadopoulos é o autor grego que, com “Olya. Dois invernos e uma primavera” leva os leitores à Ucrânia pós-soviética, em 1994, numa Kiev que luta contra a pobreza.
Géza Bereményi e o seu romance autobiográfico “O Copperfield húngaro” abordam a infância e a juventude do autor na Hungria dos anos 50 e 60. Já “Pequenas coisas como estas”, da autora irlandesa Claire Keegan, confronta o leitor com uma história sobre o passado e os complicados silêncios de uma povoação controlada pela Igreja.
A Itália é representada pela autora Viola Ardone com “O comboio das crianças”, retrato de um país que tenta renascer da guerra pelos olhos de uma criança de rua. Do Luxemburgo, Kerstin Medinger relata uma road trip invulgar que reúne um casal de lésbicas idosas, dois adolescentes infelizes e um autor desiludido em “A partida”.
“A festa do fogo”, romance do polaco Jakub Małecki, é uma história intimista sobre a superação de limites e o preço a pagar por ela. Com as suas “Rimas contra a guerra”, a autora romena Otilia Dor oferece aos leitores uma renovada esperança em tempos difíceis, lembrando que a poesia pode ajudar a salvar o mundo e que basta um único verso para reiniciar o diálogo.
Para representar Portugal está Miguel Montenegro, psicólogo clínico e o primeiro autor de banda desenhada português a trabalhar para a Marvel Comics, que com os seus “Psicopatos” questiona dogmas e evidência algumas das contradições das ciências psicológicas.
A Noite da Literatura Europeia é uma iniciativa da EUNIC Portugal, rede que reúne institutos culturais e embaixadas de países da União Europeia. É um evento totalmente gratuito e realiza-se no âmbito das Festas de Lisboa, em parceria com a EGEAC e, em 2023, com a Junta de Freguesia de Arroios.