A listeriose que é uma doença zoonótica, ou seja, que é transmitida dos animais ao Homem, é causada pela bactéria Listeria monocytogenes. A bactéria está disseminada no meio ambiente, existindo nos solos e nas águas, e está presente no aparelho digestivo de bovinos, ovinos, suínos, caprinos e aves. Estes animais são a principal fonte de contaminação para o Homem.
Fatores de risco da doença
A transmissão da bactéria ao Homem dá-se habitualmente pelo consumo de alimentos. A doença, se bem que seja pouco frequente, é grave, e assume ainda maior preocupação em grupos de risco nos quais se incluem, grávidas, recém-nascidos, idosos acima de 65 anos, diabéticos insulinodependentes, dialisados e imunodeprimidos.
“A listeriose apresenta taxas elevadas de mortalidade, que se situam entre os 15 e os 30 %, e de hospitalização, superiores a 90%. A principal via de transmissão da bactéria é a alimentar podendo ocorrer a transmissão por via direta da mulher grávida para o feto durante a gravidez ou no parto, e dos animais para o grupo de profissionais que com eles contactam”, referem Margarida Saraiva e Cristina Belo Correia, responsáveis pelos Laboratórios de Microbiologia do Departamento de Alimentação e Nutrição (DAN) do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA).
As especialistas indicam, no entanto, que “a maioria dos alimentos prontos para consumo, isto é, os que habitualmente são consumidos sem qualquer tratamento térmico podem estar contaminados com Listeria monocytogenes, mas o nível e a frequência da sua presença nos alimentos prontos para consumo é baixa. Os mais favoráveis à contaminação são aqueles que têm um prazo de vida útil prolongado, e nos quais a bactéria se pode desenvolver quando as regras de conservação (temperatura/tempo) ou de preparação descritas no rótulo não são cumpridas”.
Entre os alimentos mais favoráveis à contaminação estão:
■ “Queijos fabricado com leite cru;
■ Carnes e peixes crus e fumados;
■ Saladas de frutas e/ou de produtos hortícolas;
■ Patés e enchidos.”
As duas microbiologistas referem que “a maioria dos adultos saudáveis não desenvolve doença após contacto, mas quando afeta grupos sensíveis pode manifestar-se através de sintomas semelhantes aos de uma gripe, como febre, dores musculares, náuseas e diarreia, 1 a 2 dias após o consumo do alimento contaminado” e “mais tarde, 2 a 4 semanas após o período de incubação, podem ocorrer sintomas mais graves como septicemia, meningite ou encefalite e o quadro clínico evoluir tornando-se mais severo”.
“No caso particular das mulheres grávidas infetadas com Listeria monocytogenes, poderão evidenciar, apenas um síndrome gripal ou uma manifestação precoce da infeção que poderá provocar um aborto, um nado-morto, um parto prematuro ou uma infeção severa do recém-nascido”.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico laboratorial da listeriose pode efetuar-se através de análises ao sangue, placenta, líquido cefalorraquidiano ou outras amostras biológicas. No tratamento da listeriose recorre-se à utilização de antibióticos e a tratamento sintomático de acordo com a apresentação da doença. Na grávida, um diagnóstico e tratamento atempados podem prevenir a infeção no feto ou no recém-nascido.
Recomendações para prevenção
A prevenção é fundamental para evitar a infeção por listeriose. Para as microbiologistas do DAN devem ser tidas em conta “recomendações muito concretas dirigidas aos consumidores que pertencem a grupos de risco. Assim, não devem ser consumidos:
■ Produtos fabricados com leite cru (ex. queijos principalmente de pasta mole);
■ Carnes e peixes crus e “mal passados” (ex. sushi, carpaccio, rosbife);
■ Enchidos e fumados crus (ex. presunto, salmão fumado e chouriço);
■ Patés e produtos de charcutaria fatiados e refrigerados;
■ Sandes pré-embaladas;
■ Sumos de fruta e produtos hortícolas não pasteurizados, saladas de fruta (incluindo melão), saladas de vegetais;
■ Rebentos crus.
E devem seguir regras básicas de higiene:
■ Regular o frigorífico para uma temperatura inferior ou igual a 5ºC, para os alimentos que devem ser conservados no frio;
■ Conservar, verificar e cumprir a temperatura de conservação dos alimentos. Refrigerar ou congelar alimentos perecíveis e mantê-los à temperatura ambiente o mínimo de tempo possível;
■ Lavar as mãos sempre que contactem com alimentos não cozinhados e antes de manusearem alimentos prontos a consumir;
■ Lavar os vegetais e as frutas antes de os descascar;
■ Lavar facas, tábuas, bancadas da cozinha e utensílios de preparação de alimentos, tendo especial atenção aos que contactaram com alimentos crus.
■ Separar alimentos prontos a consumir de alimentos crus e de superfícies não higienizadas;
■ Cozinhar bem os alimentos, especialmente carne e peixe a uma temperatura superior ou igual a 65ºC;
■ Reaquecer os alimentos a uma temperatura superior ou igual a 70ºC.”