Estudo realizado sobre os programas de sensibilização e sobre a destruição dos edifícios provocada pelos incêndios florestais na Interface Urbano-Rural, ou seja, na zona onde edifícios e vegetação se encontram, nos Estados Unidos da América (EUA), concluiu quem vive em zonas suscetíveis de risco de incêndio pode aumentar a proteção da habitação das chamas através da alteração das características do próprio edifício e da vegetação em redor.
Os autores do estudo, que inclui Patrícia Alexandre, Investigadora do Centro de Estudos Florestais (CEF) do Instituto Superior de Agronomia (ISA) indicaram que nos EUA qualquer ação a tomar para proteção das habitações raramente é obrigatória. Mas são há programas de sensibilização nacionais e ações de governos locais e das corporações de bombeiros.
O estudo realizado pelos investigadores, e já publicado no International Journal of Wildland Fire. abordou os diferentes programas de sensibilização, que muitas vezes se complementam, onde os programas estão em funcionar, e qual a influência nos resultados após incêndios.
O estudo concluiu que edifícios em zonas onde foram realizadas ações de mitigação ou diminuição do risco de incêndio, através, por exemplo, de limpeza ou redução do combustível na envolvente das casas, utilização de materiais de construção mais resistentes aos fogos, e quando há conhecimento do que fazer em caso de incêndio, tiveram uma menor probabilidade de arder quando a zona foi atacada por incêndio.
Para a Patrícia Alexandre, especialista em incêndios florestais, extrapolando o estudo para Portugal, considera que os programas de sensibilização e de preparação para o fogo funcionam melhor se forem proactivos, isto é adotados pelas comunidades antes dos fogos ocorrerem, em vez de reativos, neste caso adotados pelas comunidades após um grande fogo ter devastado a comunidade.
Os autores do estudo norte-americano defendem a criação de comunidades resistentes e resilientes ao fogo e não “à prova de fogo”, o que é inviável. E alertam que todos devem compreender que o fogo faz parte da dinâmica natural da vegetação e que é necessário aprender a viver com o fogo em vez de tentar eliminá-lo.
Os especialistas envolvidos no estudo indicaram que as comunidades resistentes e resilientes são comunidades que, apesar da ocorrência do incêndio, sobrevivem com poucos ou nenhuns danos. Ou seja, as chamas passam, a casa fica intacta e as pessoas sobrevivem.
Para os especialistas a ideia de que se vai eliminar o fogo da paisagem é incorreta. A atitude correta, no seu entender, é compreender que o fogo é uma realidade, e que temos de aprender a viver com os incêndios.
Apreender a viver com o fogo incluí saber fazer uso do mesmo nas alturas certas, como é o caso de proceder a queimadas de pastagens e de resíduos agrícolas, lançamento de foguetes, usar fogo controlado, ter atenção às beatas dos cigarros, e também saber reduzir os combustíveis ao redor das habitações e ter florestas bem geridas.
Patrícia Alexandre considera que o aviso feito pelo governo para os proprietários procederem à limpeza das matérias combustíveis em redor das habitações até uma determinada data, é inédito, uma vez que a Lei existe há vários anos e nunca foi implementada e controlada de forma eficaz.
Durante vários anos ninguém foi averiguar se os proprietários a estavam a cumprir a Lei, apesar de existir um website do Governo que contém informações sobre as limpezas a executar, muitos proprietários foram apanhados de surpresa.
A investigadora do CEF, Patrícia Alexandre, indicou que o procedimento deveria avançar por fases: “Primeiro educam-se as pessoas, depois dá-se oportunidade para haver erros e tempo de ajuste e só depois então se passa às multas.”
Para a especialista o Governo não disponibilizou informação atempada e localizada em relação às ações que a levar a cabo pelos proprietários a começar pelo que se deve entender por “limpar”, atendendo que:
Reduzir combustíveis não significa necessariamente remover tudo. Significa remover arbustos e ervas que podem servir de pontos de acesso do fogo às propriedades, ou seja, que são contínuos no espaço ou na horizontal.
Reduzir a densidade de vegetação para que no caso de fogo, este diminua a sua intensidade, e isso pode passar por remover arbustos e ervas que estão debaixo de árvores, para que o fogo não “salte” do chão para a árvore.
Dados e conclusões do estudo norte-americano
O estudo indica que nos últimos 30 anos, nos Estados Unidos, o custo de combater incêndios juntamente com as casas destruídas pelos incêndios, tem aumentado dramaticamente devido em parte à expansão da Interface Urbano-Rural.
Em resposta ao aumento dos prejuízos, a comunidade que gere o combate ao fogo tem dedicado um esforço substancial a aumentar o conhecimento e compreensão de onde é que esta interface ocorre. Tem vindo também a estabelecer programas de sensibilização para reduzir os danos causados pelos incêndios.
Os investigadores verificaram 59% dos edifícios ameaçados e 69% dos destruídos nos Estados Unidos se encontram na Interface Urbano-Rural, embora exista uma enorme variedade consoante o estado. Edifícios mais perto de comunidades que aderiram a programas de prevenção e preparação são menos afetados que edifícios que se encontram a maiores distâncias.
Incêndios onde houve uma maior destruição de edifícios encontravam-se mais próximos de locais que aderiram aos programas de preparação, mas, para 76% dos edifícios destruídos, estes programas foram iniciados após o fogo.
Em locais que são novos para a interface ou onde está previsto que o regime do fogo se vá alterar, o estabelecimento de programas de sensibilização antes de um grande incêndio ocorrer, poderá aumentar a probabilidade de sobrevivência dos edifícios e reduzir o custo humano e económico que advém da perda de infraestruturas.