Durante o fim de semana, dia 24 e 25 de setembro, decorrem por todo o país mais de 800 atividades no âmbito das Jornadas Europeias do Património de 2016. No continente e nas ilhas, em 150 municípios, 600 entidades públicas e privadas organizam centenas de eventos, na sua maioria gratuitos, referiu Miguel Honrado, Secretário de Estado da Cultura, no Museu Nacional de Etnologia, na abertura das Jornadas.
“O programa nacional de atividades destas jornadas expressa de forma clara os objetivos do Conselho da Europa, de reforçar os sentimentos de identidade cultural, da memória coletiva e de afirmação de um património comum cuja riqueza reside na sua diversidade”.
O tema deste ano das Jornadas é Comunidades e Culturas, um tema que é “um desafio programático que encontra no património uma materialização de que todos devemos ter consciência”, referiu Miguel Honrado, e acrescentou que “no edificado histórico inscreve-se uma parte muito substantiva do ADN dos povos”, pois em cada “base, fuste ou capitel encontramos traços das culturas que nos formaram”, por outro lado o património imaterial, que o Governo pretende cartografar, “apresenta-se como a outra face da nossa memória que mais que identitária deve ser um motor de desenvolvimento cultural, económico e social”.
Para Manuel Lacerda, coordenador nacional das Jornadas Europeias do Património, o tema Comunidades e Culturas reflete “o sentimento da necessidade de olhar para o Património com a atenção focalizada nas pessoas e nas comunidades”. As jornadas estabelecem “uma maior interação com a generalidade da população porque promovem, ao nível local, o encontro das pessoas com os seus lugares e com as histórias desses lugares, porque convidam à descoberta e ao conhecimento, surpreendendo sempre com formas inovadoras e criativas, trazendo a memória para o momento de agora”.
Na perspetiva de Paula Araújo da Silva, Diretora-Geral do Património Cultural, “as comunidades, seja de que tipo forem, e estejam em que contexto estiverem, estão na base de construção do nosso Património Cultural, tal como têm de estar na base da sua recriação, utilização e reutilização”.
As comunidades de que Paula Araújo fala são as “associações locais e regionais, as comunidades escolares, científicas, religiosas, organizações não-governamentais, clubes”, e para esta responsável pelo Património, “todos têm uma história, uma memória e um desígnio, têm um papel insubstituível, na tarefa de reavivar permanentemente a memória dos lugares, dos acontecimentos, para ajudar a desenhar um futuro em que não se perca a comunicação entre gerações, em que não se percam valores, em que não se percam as nossas identidades”.
No início das Jornadas Europeias do Património de 2016, Paula Araújo, observa que “as profundas transformações do nosso mundo atual alteram radicalmente o entendimento e o significado coletivo dos fenómenos culturais”, pois se “por um lado a globalização tende a normalizar e a uniformizar, por outro, permite trocas, diálogo e conhecimento”.
Nesta globalização, as tecnologias de informação e comunicação desempenham um papel fulcral, pois “permitem o acesso instantâneo a uma quantidade de informação nunca antes possível”, e ao navegarmos por tão grande quantidade informação somos conduzidos a um “caus onde a incerteza é a nossa única certeza”.
Neste quadro de navegação vertiginosa, a “memória pode tender a esbater-se, as identidades sempre em transformação podem correr o risco de o deixarem de ser e tornarem-se numa espécie de ‘colagens’, de ‘modas’ sobrepostas e desestruturaras”.
É nesta “dicotomia entre os riscos da banalização” e a riqueza do património, “como fonte de criatividade, de inovação para a construção de novas visões do mundo e do futuro” que “o tema, deste ano, Comunidades e Culturas, pretende por esse motivo realçar o papel que as comunidades e as pessoas podem e devem desempenhar”.
Neste desafio, uma das chaves importantes “é o incremento do conhecimento”, o que é também o objetivo das Jornadas Europeias do Património de 2016, ao pretender que “contribuam para uma maior informação, procurando sensibilizar as pessoas para as múltiplas dimensões que o Património contém”.
Ao longo dos últimos anos tem-se verificado um aumento significativo de participações nas Jornadas. Um aumento que “é reflexo do desenvolvimento das formas de comunicação, da crescente utilização das redes sociais, do aumento de parcerias que promovem processos de partilha, mas é também, sem dúvida, o reflexo positivo da alteração de mentalidades e da consciência coletiva da importância do património numa sociedade em transição de valores”.
Para a Diretora-Geral do Património Cultural, “o Património passou a ser um capital social que deve promover o envolvimento e a participação de todos”.