Um estudo do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), liderado por Joana Gonçalves-Sá, apresenta um novo método para identificar o início da epidemia da gripe. O método permite antecipar em várias semanas os alertas oficiais atualmente existentes.
Os investigadores consideram que o método, em conjunto com o sistema de vigilância atual, pode vir a ajudar os serviços de saúde a antecipar, preparar e responder mais prontamente ao pico da gripe. Este estudo já se encontra publicado na revista científica ‘PLoS Computational Biology’.
Durante a época de gripe, as urgências hospitalares ficam frequentemente sobrelotadas, com consequências negativas para o funcionamento dos serviços de saúde e o atendimento aos doentes, pelo que a previsão antecipada da chegada da epidemia é uma importante informação para o planeamento dos serviços de saúde.
Na Europa o organismo oficial responsável pela monitorização da gripe é o Centro Europeu de Controlo de Doenças (CECD), que com base em informação recolhida por médicos ‘sentinela’, emite relatórios semanais, com o número estimado de casos de gripe na população.
O mecanismo de vigilância do CECD é muito eficiente, no entanto “o sistema tem várias limitações conhecidas que leva a um inevitável atraso entre o início efetivo da epidemia sazonal e a sua deteção”.
O método desenvolvido pelo grupo de Joana Gonçalves-Sá, no IGC, “tenta superar algumas das limitações dos mecanismos oficiais de vigilância e oferece uma identificação do início da gripe mais próxima do tempo real”.
No caso do método de Joana Gonçalves-Sá, este integra “informações de diferentes fontes, nomeadamente as taxas oficiais de incidência de gripe, pesquisas no Google por termos relacionados com a gripe e o serviço telefónico de triagem Saúde 24”. A informação vai ‘alimentar’ um modelo matemático e computacional que consegue identificar mudanças no número de casos, sinalizando o início da epidemia.
A equipa de investigação indica que “analisou dados de vários países europeus e utilizou o seu novo método para mostrar que, pelo menos em 8 países – Bélgica, Espanha, Hungria, Irlanda, Itália, Noruega, República Checa e Portugal -, é possível antecipar os alertas oficiais em várias semanas”.
Joana Gonçalves-Sá refere que o método proposto tem duas vantagens principais:
- “Primeiro, pode ser usado com uma diversidade de fontes de dados, algumas delas próximas do tempo real”, o que reduz os desvios na amostragem e os atrasos entre o início do surto e a sua deteção.
- “Em segundo lugar, o sistema é suficientemente simples e robusto para ser usado pelas autoridades responsáveis. Basicamente, calcula a probabilidade da temporada de gripe ter começado. Quando esta probabilidade ultrapassa um determinado valor, os serviços de saúde devem começar a preparar-se para o pico.”
Os investigadores indicam que o método pode ser utilizado em “diferentes países” e, eventualmente, ser aplicado a “outras doenças sazonais”. A coordenadora do estudo acrescenta que o novo método pode ser “complementar ao atual sistema”, e assim, “os serviços de saúde pública podem melhorar significativamente a sua resposta ao surto de gripe, tanto antecipando o aprovisionamento das instalações de saúde, como reforçando os profissionais e fornecendo melhores conselhos à população”.
A investigadora considera que “os serviços de triagem telefónica, como é o caso do Saúde 24, têm um potencial único que deve ser explorado: podem vir a tornar-se num sistema muito eficiente e de baixo custo para rastrear e antecipar epidemias.”